One-shot 39

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Me desculpe, querido diário e queridos leitores imaginários invisíveis, eu tenho estado sumida daqui, é verdade, não nego. A verdade é que não tenho tido muita vontade de escrever aqui e nem tenho tido muito o que contar. Depois daqueles dias maravilhosos em que passei com a Meryl em Boston, a vida seguiu. ela terminou de gravar o filme, continuamos nos falando e fazendo chamadas de vídeo, mas ficamos um tempo sem nos ver pessoalmente, para o meu sofrimento. A boa notícia é que finalmente estamos conseguindo respirar um pouco, finalmente as coisas começam a ficar mais tranquilas aqui em NY, ainda bem pois a minha pequena eu já estava surtando. Os restaurantes e bares começaram a ser abertos novamente, a galeria finalmente estava tendo um pouco mais de movimento. Inclusive no momento acontecia uma exposição que eu tinha certeza que a Meryl iria adorar, eu enviei o convite, mas ela não respondeu, então não criei expectativas, apesar de estar morrendo de saudades.


Aproveitei que a Keisha estava na entrada tomando conta de tudo no meu lugar, eu fui checar a exposição com calma, quando a gente organiza tudo, ficamos tão atarefadas que nem observamos os detalhes de cada obra, e isso é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Eu estava atenta observando uma tela em específico, intrigada com as sensações que ela estava me passando, quando de repente senti uma mão acariciando minhas costas e levemente repousando em minha cintura. Um toque delicado e doce. Olhei para o lado e lá estava ela, sim, a Meryl estava ali. Será que eu tava delirando?


"Hoje está de apreciadora de arte?" eu ouvi aquela voz que eu tanto amo ali pertinho do meu ouvido. Era a voz dela, eu não estava delirando. Ela tinha um sorriso doce nos lábios.


"Olá, rainha." eu não consegui esconder o meu sorriso de bobona. E fiquei fraquinha quando ela me deu um beijo no rosto. "Eu pensei que você não viria."


"Resolvi te surpreender." ela falou.


"Deveria ter me avisado, eu estenderia o tapete vermelho no chão." eu brinquei.


Ela riu. "Ah, só você mesmo, meu bem." ela olhou para a tela ali diante da gente. "Hmm.. o que a artista está achando dessa?"


Eu olhei para a tela. "Eu não saberia explicar."


A mão dela segurou um pouco mais forte em minha cintura. "Tenta."


Eu respirei fundo com o gesto. "Ela meio que me mostra acolhimento em meio à confusão." eu falei.


Ela observou a tela. "Hmm... eu vejo isso também."


Eu olhei pra ela, sua expressão atenta à tela mas ao mesmo tempo sua mão continuava em minha cintura. "E isso me lembra você." eu não consegui segurar a minha boca. E aí ela olhou pra mim, foi quando me perdi naqueles olhos de cor indecifrável. Ela ficou envergonhada, eu podia ver, um sorriso discreto tomou conta dos seus lábios e ela não conseguiu me olhar nos olhos por muito tempo.


"Esses olhos..." ela meio que sussurrou e passou a mão no cabelo.


Eu sorri, era difícil acreditar que eu conseguia deixar a Meryl daquele jeito. Resolvi mudar de assunto. "A cidade está começando a respirar de novo, o que você vai fazer depois daqui?"

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