One-shot 43

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| Ponto de vista da Meryl |


A necessidade de escrever um diário me faz me sentir ainda mais boba. Vamos chamá-lo de "Elucidário" ou quem sabe "Loucuras que uma atrevida provoca em mim", a segunda opção parece mais condizente. Não vejo a Molly desde que a levei para o SPA. Foi muito divertido, apesar de eu ter a comprovação de que realmente tenho ciúmes dela, mesmo sabendo que não tenho direito nenhum de sentir. É sempre muito divertido quando estou com ela, acho que já falei aqui que a Molly é como uma brisa leve que passa e me refresca, sem pressões. E isso tudo me deixa muito confusa, e é, na verdade a grande razão de eu precisar escrever aqui. Essa confusão, essa dicotomia dos meus sentimentos me faz ter que vir aqui desabafar, mas não é fácil tornar esse turbilhão de emoções que sinto aqui dentro em algo de fácil compreensão.

Eu amo muito meu marido, eu o amo, ele já me deu tanto, tantas coisas que são partes essenciais de mim foram alcançadas ao lado dele, ele me faz feliz, sempre fez. Todo casamento tem suas dificuldades, o nosso não é diferente, mas nós sempre seguimos o mesmo rumo naquilo que mais importa em uma vida conjugal, ele ainda é o mesmo parceiro que sempre foi. Não são 3 dias, nem 3 meses ou 3 anos que estamos juntos, são 43 anos, uma vida inteira, anos que ultrapassam até os anos de existência da Molly, só esse pensamento já me deixa desnorteada por si só. Eu poderia usar a desculpa de que sou infeliz em meu casamento ou que ele não me satisfaz, e por isso busquei uma aventura, mas eu estaria sendo desonesta porque não sou infeliz em meu casamento, não sou. Hoje pela manhã ele me acordou com um café-da-manhã na cama, com tudo aquilo que eu gosto e amo, ele me mostrou uma foto nova que a nossa filha nos mandou enquanto eu ainda dormia, já faz algumas semanas que somos avós pela terceira vez, olhei para ele após ver aquela foto da minha filhota, minha bebê, carregando o meu mais novo amor nos braços e enxerguei tanto amor no olhar dele, o mesmo amor que carrego, a satisfação de ver a família crescendo, esses são os meus maiores prêmios, meus filhos, meus netos, a vida de detalhes que construí ao lado dele. Ele me beijou doce quando viu que eu sorria após olhar a foto, nada foi dito e não precisava ser. Tomamos nosso café e o abracei forte quando ele disse que tinha que trabalhar na nova escultura, o beijei, falei que o amo, desejei um bom dia e o observei saindo do nosso quarto. Olhei a vista da janela e o céu estava lindo, e foi aí que meus pensamentos foram para ela, o dia parecia ter a mesma energia de quando fomos para o SPA. São coisas bobas que sempre me remetem a momentos com ela e me fazem perceber algumas coisas que mexem comigo.

Eu amo a Molly, eu a amo, ela me mostrou um lado meu que até então eu pouco conhecia. Todas as vezes que falo para ela o quanto ela é importante pra mim não é da boca pra fora, nunca foi. Me lembro de uma vez ter dito que o olhar dela carregava a promessa de uma aventura, e eu me permiti viver isso, mas descrever a Molly como apenas uma aventura me parece raso, me parece pequeno, me parece superficial diante do que ela é para mim, diante do espaço que ela ocupa aqui dentro. Eu nunca me imaginei em uma situação dessas e como já falei uma vez, provavelmente nunca terei coragem de sair dessa situação, não somente porque não consigo mas talvez porque eu não queira mesmo. Eu acho que enquanto ela me deixar leve como ela deixa, me fizer sorrir com uma cantada ruim como ela faz, me devorar com aqueles olhos do jeitinho que só ela consegue, eu estarei entregue, eu não resistirei. Não terei forças para me afastar, e pra falar a verdade, não sei se quero. E eu sei que isso soa como egoísta da minha parte, eu sei que ela merece aquilo que não posso oferecer. Eu chego a suspirar ao me dar conta do tamanho da confusão que se passa na minha mente, no meu coração. Me senti tão culpada por estar pensando nela poucos minutos depois de abraçar e beijar meu grande parceiro de toda a minha vida, ao mesmo tempo em que acho errado me sentir culpada por pensar em alguém que me faz tão bem. São amores diferentes, que despertam coisas diferentes em mim, eu não consigo quantificá-los ou muito menos compará-los, ambos possuem uma intensidade imensa que me consome e sei que poucos entenderiam isso.

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