One-shot 60

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| Ponto de vista da Meryl |


Há quem pense que eu estou louca mas eu nunca estive tão sã. No entanto, isso não faz com que meus pensamentos não estejam em um turbilhão, o que me faz ter vontade de escrever aqui. Coisa que eu já não fazia há certo tempo. Minha vida tem sido uma loucura nos últimos tempos, uma verdadeira montanha-russa de sentimentos que me fez perguntar quem sou eu e o que quero no meio disso tudo. Precisei dar um passo para trás e me organizar por dentro. Ainda não cheguei lá, mas um dia irei chegar, assim espero.

Ao mesmo tempo em que perdi aquilo que me era seguro, estável e confortável, a vida me apresentou algo novo, excitante e que me arrebata. Não é fácil se desligar de alguém que esteve ao seu lado por tanto tempo, não é fácil, nunca o farei e nem quero. Não se deixa de amar alguém dessa forma e tenho plena consciência de que ele sempre fará parte de mim. Eu não seria completa se tentasse me desfazer daquilo que fui durante tantos anos, daquela parte da vida a dois que cria raízes dentro de você mesma. O que não impossibilita que algo mais possa florescer. Me lembro de um dia falar para a Molly que no meu casamento a minha grama já era mais verde, a chegada dela na minha vida foi o que fez algumas flores exóticas e interessantes brotarem ali no que já era lindo.



Molly.


Não consigo pensar nela sem dar um suspiro e me sinto boba por isso. As minhas últimas ações em relação a Molly abriram portas para uma séries de julgamentos, mas ao contrário do que alguns pensam, nenhuma delas foi feita de forma impensada. Ultimamente todas as minhas tomadas de decisão se baseiam em apenas uma pergunta "Ao me olhar no espelho, vejo uma pessoa feliz ou tentando ser feliz?" Claro que alguns erros acontecem pelo caminho, pois sou falha como qualquer pessoa, mas é mesmo um erro querer abraçar um novo mundo de possibilidades e se permitir viver o que seu coração quer viver? A velhice é um bom motivo para você ficar estática e se conformar com o que se tem quando se pode viver aquilo que te tira do eixo e faz cada parte de você se sentir viva?


Não estou dizendo que eu não era feliz com ele, o melhor de dois mundos seria que ambos entendessem que no meu coração tem espaço para os dois, sim, porque o amor ainda está aqui, mas não posso esperar que ele entenda ou aceite isso, o que é totalmente compreensível. A verdade é que mesmo a situação desarranjando algumas coisas nos últimos tempos, até mesmo minha relação com meus filhos, que são o que mais tenho de precioso, mesmo assim, eu ainda não sinto arrependimento, eu ainda não enxergo o que tenho feito como algo sórdido, pois assim como ele foi e é parte de mim, ela também é. Foi isso que me fez tomar mais esse passo e dar um anel para ela. Mesmo sabendo que ainda estou em uma situação complicada e pra ser sincera, a palavra "namoro" parece superficial diante do que sinto pela Molly, eu senti a necessidade de mostrar para ela que não se tratava apenas de atração física, não se tratava apenas do que fazemos na cama, a nossa relação afetiva é mais forte e profundo do que isso. Há quem pergunte o que essa jovem tem a me oferecer, ela tem tanto, tanto. A pergunta certa seria "O que tenho a oferecer a ela?" Mas ela tem muito a me oferecer. Só o fato dela trazer um sorriso para os meus lábios sem precisar de muito já diz tudo. O cuidado dela comigo nesse tempo de tempestade foi fundamental para que eu não me sentisse a pior pessoa do mundo, foi essencial para que eu não deixasse os pensamentos ruins me dominarem. Ela teve a sensibilidade de escrever uma carta para os meus filhos, ainda que isso pudesse ter consequências negativas, na carta ela disse que faria aquilo que mais a machucava, que era se afastar de mim, para que eles não se afastassem de mim. Eu não consigo pensar qual foi a última vez que alguém fez algo assim por mim.



E aqui estamos, eu carregando esse colar no pescoço, ela carregando o anel no dedo dela. O pedido em si foi carregado de drama porque eu interpretei as coisas de forma errada ao vê-la com a Sarah, mas minha vida sem o drama não seria a minha a vida, correto? Depois disso passamos o fim de semana inteiro juntas, o que me deixou muito mais leve do que eu imaginei que deixaria. Falei uma vez que a Molly é como uma brisa que passa e me deixa leve, e refresca, continua sendo verdade. Eu não sei explicar, mas ela me diverte e ao mesmo tempo me incendeia. Ela me faz ter crises de riso, e ao mesmo tempo me faz perder o ar e os sentidos. Tenho algumas marcas em meu corpo inteiro como prova do quanto ela me faz bem. Ainda estamos navegando essa questão do namoro com precaução, apesar da família dela já saber do que está acontecendo. Mas por incrível que pareça, aparentemente eu estou me acostumando a isso mais rápido do que ela, como tive provas mais cedo. Ela teve uma emergência com o carregamento de algumas obras que iriam chegar na galeria e falou que sequer havia dormido pois ainda estava na escritório.



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