Capítulo 9

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Assim como fiquei andando feito uma louca no quarto da Mamie ontem, hoje aqui estava eu andando feito uma insana no escritório da Meryl, ela tinha ido levar o Don ao aeroporto e disse que quando voltasse 'precisava resolver algumas coisas' comigo no escritório. Droga, o que seria isso que ela tava falando? Desde que ela foi lá na casa de hóspedes, eu fiquei feito uma barata tonta tentando adivinhar se ela se lembrava que eu a estava bisbilhotando ontem, mas não encontrei nenhuma pista, nadinha.

Uma coisa era certa, a forma como ela me tratava continuava a mesma, mas isso não queria dizer nada, a mulher é atriz, droga, ganhou 2 oscar, pelo amor de Deus, ela pode me enganar perfeitamente, atuando e fingindo que não se lembra. Eu me levantei e fui ficar hipnotizada por aquele retrato dela na parede outra vez, o retrato em que ela parece olhar diretamente pra quem a está observando. Não sei, mas talvez a Meryl não estivesse olhando pra mim na noite passada, talvez tenha sido só minha impressão, talvez eu quisesse tanto que ela me enxergasse que acabei criando a ilusão de que ela estava me olhando... argh, essa dúvida com certeza vai me matar.

"Eu não sei o que você tanto vê nesse retrato. Venha se sentar, Molly." Falou Meryl entrando no escritório.

"Parece que você está olhando diretamente pra mim nessa foto. Não tem como não ficar hipnot..." Eu falei antes que pudesse parar a minha boca, ai meu Deus... se a Meryl não se lembrava de nada, depois desse 'parece que você está olhando diretamente pra mim' que eu falei, com certeza ela vai se lembrar, ela vai se lembrar, droga. Será que ela se lembrou? Eu me viro e olho pra ela sentada na poltrona do escritório, esperando que eu me sentasse na cadeira em frente a mesa dela, procuro uma pista na expressão dela, sobre o quê a Meryl quer falar comigo? Eu engulo em seco e me sento.

"O que foi aquilo que eu vi, Molly?" Ai... Ai! Droga! Diabos... ela se lembra. Vai demorar quanto tempo pra ela me expulsar da casa dela? Eu fechei meus olhos pra que ela não visse a série de emoções que eu tava sentindo. Vergonha. Medo. Arrependimento. Eu estraguei tudo, ela vai me expulsar. "Molly, olhe pra mim." Não Meryl, não me peça pra olhar pra você. "Olhe pra mim, Molly. Você não deve se envergonhar do seu talento." O que?! Eu abro meus olhos. Meu talento? Como assim? Desde quando é um talento bisbilhotar outras pessoas na sua intimidade. Essa mulher deve ser mais louca do que eu penso.

"Do que você..." eu comecei, eu tenho certeza que nós duas não estávamos pensando a mesma coisa aqui.

"Eu vi a pintura lá no ateliê, foi você que fez aquilo?" ela perguntou. Como assim? Eu cobri a pintura antes que ela pudesse ver, com certeza ela não tava falando de uma pintura minha, com certeza não era.

"Você deve estar falando de alguma pintura do Don, não?" eu perguntei. Se ela falou de talento e agora tava falando de uma pintura que viu no ateliê, com certeza não era sobre mim.

"Eu conheço o trabalho do meu marido, Molly." Ela fez uma pausa e olhou pra mim com uma cara de 'você acha que me engana', por um momento eu me perguntei se aquele olhar se referia somente à pintura ou se havia algo mais ali, abaixei meu olhar outra vez. "e além do mais, o Don não tem pintado por um bom tempo. Desde que ele tem um ateliê novo, ele nem pisa mais ali. Então... você ainda vai continuar me dizendo que não foi você quem fez aquilo?" ela perguntou. Claro que não Meryl, com esse olhar que você tá me lançando agora, quem seria eu pra negar alguma coisa a você? O problema era que... a única pintura minha que ela poderia ter visto, eu cobri com o pano antes que ela visse, então como ela pod... oh droga, não! Não! Essa não era única pintura que eu tinha feito, havia aquela outra que eu tinha feito quando estava com a cabeça cheia de Meryl, depois do primeiro jantar com a família, antes de ver a Meryl de maiô na piscina. Droga, ela viu aquilo? É dessa pintura que ela tá falando? "Você também vai negar que eu fui a sua 'musa inspiradora' naquela pintura?" ela continuou me perguntando, com um olhar de 'não se atreva a mentir pra mim' e com um sorrisinho que surgiu desde que ela falou 'musa inspiradora'. Essa mulher ainda me mata. 'Vamos Molly, responde as perguntas dela." Eu ouvi a minha pequena eu dizer.

"Não... eu não vou negar." Eu timidamente murmurei.

"Então eu fui mesmo a sua musa inspiradora. Molly, nunca vi uma pintura me captar tão bem, você tem muito talento, porque não me falou antes?" ela perguntou e eu continuei sem conseguir olhar pra ela diretamente nos olhos. "Molly, posso saber porque você tem estado tão tímida ultimamente? Você mal consegue olhar pra mim." Ai não, essa pergunta não, você quer saber o porquê, Meryl? Porque se eu olhar nos seus olhos, imagens de você chegando ao orgasmo vão vir na minha mente e aí já tô até vendo, aquelas faíscas vão começar a surgir entre as minhas pernas outras vez e eu sou capaz até de chegar ao orgasmo aqui na sua frente, sem você nem ao menos tocar em mim. 'Você não é nem louca de falar isso pra ela, Molly.' A minha pequena eu falou com cara de assustada. É, de fato, não sou.

"Não é nada... e sobre a pintura, é só uma coisa que faço quando estou de cabeça cheia, nada demais." Eu respondi.

"Hmm... devo admitir, deve ter sido muito difícil fazer uma expressão tão fiel de mim sem que eu pousasse pra você." Ela falou, agora com uma expressão de admiração. Não Meryl, não é tão difícil quando você fica com o rosto da pessoa cravado na sua mente, durante uma noite inteira sem conseguir dormir pensando nela.

"Eu tenho uma boa memória." Eu respondi, omitindo as minhas verdadeiras razões de conseguir pintar a Meryl tão fielmente sem que ela pousasse.

"Me conte mais sobre você, Molly. Desde quando você pinta?" ela perguntou, pondo os cotovelos sobre a mesa e apoiando o rosto sobre as mãos, parecendo interessada. Ai Meryl, me peça pra falar sobre qualquer coisa, até sobre a mulher de cabelo esquisito, mas não sobre mim, por favor. Eu olhei pra ela e ela ainda estava esperando. Ok, você consegue Molly.

"Como eu disse... eu faço isso quando estou de cabeça cheia..." ai cara, porque a gente tá tendo essa conversa? "eu... eu faço isso desde que... a minha mãe foi embora. Meu pai achou que pintar me faria bem." Eu falei e me mexi na cadeira tentando esconder meu desconforto ao falar sobre isso.

"Oh. Você quer dizer... quando ela morreu?" ela perguntou, uma pontinha de compaixão surgindo em seu olhar.

"Não... quando ela foi embora." Eu respondi e agora eu já não via mais compaixão, eu vi uma pontinha de tristeza mesmo.

"Entendo... eu sint..." ela começou e eu desviei o olhar da direção dela porque eu não ia aguentar ver a pena nos olhos dela. Ela percebeu e procurou a minha mão que agora estava mexendo na borda da mesa. Eu olhei pra ela.

"Mas eu não te chamei aqui pra falar sobre isso." E me deu um sorriso compreensivo. Ai meu Deus, sobre o que ela quer falar? Ela se lembra?

"Eu te chamei porque preciso que você confirme essas duas reuniões e esse evento." Ela me falou passando a agenda. Eu franzi a testa, não deveria ser Kori a pessoa certa pra fazer isso? Ela viu a interrogação na minha testa.

"Kori não está se sentindo muito bem hoje, resolvi estender a folga dela." Ela explicou. Meu Deus, essa mulher realmente lê mentes.

"E ah, por favor, ligue pra produção do The View e digam a eles que sim, eu vou participar do programa, mas que eu sugiro que eles chamem a Amanda Seyfriend pra participar junto comigo." Ela continuou e eu apenas concordei com a cabeça.

"Agora preciso ir começar a me arrumar, depois que você terminar, tem o resto do dia livre pra descansar... ou pintar." Ela falou se levantando e sorrindo. Espera, você vai se arrumar pra que, Meryl? Eu olho na agenda.. ah sim, Magical Evening Gala, não é aquela festa conhecida por ter mais bebida que as outras? Ok Molly, não é da sua conta, mas a Meryl não qu...

"As meninas vão com você?" eu ousei perguntar, ela balançou a cabeça dizendo que não, eu acho que as meninas iam pra uma festa e ia dormir por lá. "Kevin vai com você?" eu ousei perguntar mais uma vez, e recebi um aceno negativo de novo. "Leslie?" eu continuei ousando, e mais uma vez negou. Ok, e o Don não estava aqui. Então... "Você não quer que eu... er... vá com você?" eu perguntei no meu ápice de atrevimento, com os meus dedos secretamente cruzados pra ela dizer que sim.

"Não vai ser necessário hoje, querida. Obrigada." Ela respondeu sorrindo. Ai droga, porque não, Meryl? Será que ela tem medo de beber e fazer alguma besteira? Com eu sendo cúmplice nessa besteira. 'Não é da sua conta, Molly.' Minha pequena eu disse. Ok. Eu apenas concordo com a cabeça e ela sai pra se arrumar.

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