One-shot 67

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Eu gostaria de poder dizer que tenho algo extraordinário para contar aqui, mas não tenho. A não ser que olhemos pela perspectiva de que para mim só o fato de eu dizer que estou em um relacionamento com a minha Rainha é o extraordinário do extraordinário, se for assim, eu tenho muito pra contar. Quando que eu iria imaginar uma coisa dessas? Nunquinha na vida da Molly! Os dias tem sido maravilhosos até aqui, eu fiquei mais tempo do que esperava em Los Angeles, gerenciando algumas coisas na filial da galeria a pedido do chefinho, e por consequência ainda pude usufruir da companhia da Meryl ao ficar na casa dela. Confesso que ainda me é estranho interagir com a família dela, ainda que ninguém tenha me tratado mal até então. Eu prefiro acreditar que eles não falam mal de mim pelas costas, tendo em vista que todas as vezes em que eu apenas penso em perguntar a eles se eles realmente não me odeiam, assim só pra checar, eles já se antecipam na resposta dizendo que não me odeiam. E o que dizer sobre passar os dias com a Meryl? É o próprio paraíso! Me lembro de uma vez ela dizer que ela costumava ser ranzinza no dia a dia, mas não vejo nada disso, ela tem seus momentos de quietude, introspecção e melancolia, que ela diz ter herdado do pai, de fazer suas leituras, cuidar do jardim e ouvir as músicas que gosta, enfim, momentos em que ela gosta de solitude, mas isso para mim é perfeitamente normal em um ser humano. Cada segundinho é precioso, devo dizer, nos dias em que ela não tem nenhum compromisso e eu preciso ir para a galeria é uma verdadeira luta que tenho comigo mesma para simplesmente não pedir folga e ficar com ela. Eu estava terminando de me arrumar, de frente ao espelho, quando ela apareceu no quarto, não consegui não sorrir ao vê-la pelo reflexo.

"Hmmm, eu prefiro ver você tirando a roupa do que colocando." ela falou ao se aproximar por trás, seus braços me envolvendo.

Eu pisquei surpresa. "Mary Louise, esse é o tipo de coisa que eu falaria, não você."

Ela sorriu e tirou o cabelo do meu pescoço, encostou a cabeça no meu ombro. "Vê o que a convivência com uma atrevida faz com uma senhora?"

Eu apertei os olhos, ainda olhando para ela pelo reflexo. "Está dizendo que eu sou má influência?" eu provoquei.

Ela se aproximou do meu pescoço e deu um beijo suave ali antes de se aproximar do meu ouvido. "Eu jamais falaria isso do meu bem." ela sussurrou e eu quase me derreti todinha. "Está tão cheirosa, vai para a galeria?"

Eu fiz que sim. "O chefinho me pediu pra conduzir uma reunião."

"Hmm.. conduzir uma reunião, tão importante. Eu já falei que tenho muito orgulho de você?" ela falou e eu tive que me virar para ficar de frente para ela.

"Eu devo isso a vo..."

"Não, não." ela me interrompeu. "Eu posso ter te ajudado no início, mas você ter se mantido na galeria, ter crescido profissionalmente, ter conseguido um cargo de confiança, todas essas coisas são méritos seus, querida." ela disse ao acariciar meus braços. "Eu sabia que você não iria decepcionar."

"Como é que pode você ter visto potencial nessa doida que eu sou?" eu brinquei mas falei sério.

"Hmm, então a convivência está fazendo eu pegar o seu atrevimento e você está pegando a minha autodepreciação? Eu não vou aceitar isso." ela falou um pouco mais séria, pôs a mão no meu rosto e olhou para meus lábios, ela umedeceu os próprios lábios, vi no olhar dela a mesma vontade que eu tinha, a vontade de um beijo, mas ela respirou fundo e desviou o olhar. "Vai, ou você vai se atrasar."

Eu segurei a mão dela que estava em meu rosto e beijei ali. "Está difícil ir." eu disse e continuei beijando sua mão, descendo para o pulso e o braço.

Entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora