Capítulo 8

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Com que cara eu iria olhar pra Meryl depois daquilo? Eu não fazia ideia do que fazer, fiquei andando pelo quarto da Mamie feito uma louca, tentando pensar no que eu diria a Meryl quando eu a visse de novo. O que eu ia dizer, cara? Talvez eu devesse levar na esportiva e dizer ‘Taí Meryl, você não disse que gostava de gente atrevida?’. Não, de jeito nenhum, nem morrendo eu diria uma coisa dessa, ok, um pedido de desculpas sincero seria melhor, algo como ‘Me desculpa, Meryl... eu realmente não tive a intenção de ver você e seu marido fazendo sexo’. Não, não tem nenhuma sinceridade nisso, é claro que eu tive a intenção, eu fiquei ali parada por minutos, droga, eu até ignorei a minha pequena eu milhões de vezes só pra ficar ali contemplando aquele momento. ‘Então agora, não chegue pra Meryl e diga que não teve a intenção, sua cara de pau.’ Disse a minha sábia pequena eu. Espera um momento, e se eu chegasse e pedisse desculpas e a Meryl nem se lembrar de que eu estava lá bisbilhotando? Aí eu iria pagar o maior papel de idiota e me entregar. Ok, então pedir desculpas logo de início estava fora de questão, eu primeiro precisava saber se ela se lembrava. Como é que eu iria saber disso? Perguntando? ‘Meryl, eer... eu só queria saber se você se lembra de que eu estava te espiando quando você chegou ao orgasmo, você se lembra?’. Não, não, não Molly, isso é se entregar também. Ok, então não vou falar nada e esperar a reação dela quando me ver. Droga, pequena eu se eu tivesse te escutado, as coisas seriam diferentes. E agora o que eu faço?

Continuei andando feito uma louca pelo quarto, esperando a Meryl aparecer a qualquer momento dizendo ‘Você, de fato, é muito atrevida, Molly!’ e me expulsando da casa dela, e com razão. Quem você pensava que era, Molly? A mulher te oferece casa, comida e trabalho, e o que você faz em troca? Fica invadindo a privacidade dela. Quer saber de uma? Eu é que não vou ficar aqui esperando, eu vou é encarar mesmo... vou mesmo... vou encarar a minha vergonha e me mandar pra casa de hóspedes.

A manhã nem tinha chegado ainda quando eu me joguei na cama da casa de hóspedes, isso só fez a minha coluna doer, o que me fez lembrar porque eu tinha ido parar na casa da Meryl. ‘Eu só quero que você se recupere e fique bem.’ As palavras da Meryl soaram na minha mente outra vez. Aaah Meryl! Porque você tinha que fazer tudo isso por uma pessoa que está sempre fazendo besteira como eu? Minha cabeça estava mais que um turbilhão de pensamentos, eu precisava fazer algo que me ajudasse a pensar em alguma coisa. Pintar, era a minha opção. Então fui pro ateliê do Don, mais uma vez sendo atrevida, porque eu nunca perguntei a ele se podia fazer isso, mas desde que cheguei aqui, ele nem pisou os pés no ateliê... ah, não importa, vou pintar mesmo assim. Depois de passar algumas horas perdida na minha melhor imitação de Leonardo da Vinci, eu ouvi o barulho da piscina. Não, não... dessa vez eu não sou nem louca de sair daqui pra ver a Meryl nadando, ela pode estar de maiô vermelho mostrando o umbigo, ela pode estar de biquíni ou até pelada, eu não saio daqui nem mortinha. Quer dizer, será que a Meryl nadaria pelada? Ai, se pudesse ao menos dar uma olhad... ‘Molly, eu não acredito, você tá fazendo isso de novo?’ eu ouvi a minha pequena eu reclamar. Tá, e mais uma vez eu repito, eu tenho culpa de não ter nascido uma mosca? Ok, você tá certa, pequena eu. Não vou sair daqui, nem vou pra casa principal tomar café, de qualquer forma, eu não ia conseguir comer nada mesmo.

Fiquei mais uma vez tão perdida na pintura que sequer notei que as horas já haviam se passado.

“Molly?” eu ouvi a voz da Meryl na entrada da casa de hóspedes. Eu gelei, ai droga, fiquei tentando achar alguma pista na voz dela, pra saber se ela se lembrava ou não, mas era impossível, eu teria que olhar nos olhos dela.

“Molly? Você tá aí?” ela chamou outra vez, e eu sequer podia encontrar minha voz pra avisá-la onde eu estava, será que eu queria que ela soubesse onde eu estava? Não adiantava mais, porque a porta do ateliê se abriu.

“Ah, aí está você.” Ela falou, e eu ainda não conseguia encontrar nenhuma pista na voz dela, muito menos olhar pra ela. ‘Droga Molly, como você vai saber se ela se lembra se você não olhar pra ela?’ minha pequena eu perguntou, é verdade, mas eu não podia olhar nos olhos dela, simplesmente não podia.

“O que você tá fazendo?” ela perguntou se aproximando de mim, eu simplesmente peguei um pano que havia na mesa perto de mim e cobri a tela que eu havia acabado de pintar, antes que ela pudesse ver alguma coisa.

“Molly, olhe pra mim.” Ai droga, não Meryl, não me pede isso, eu não posso olhar pra voc... e então em um segundo eu senti duas mãos nos meus braços me fazendo girar e encarar aqueles olhos de cor indecifrável, e... droga, eu ainda não conseguia decifrar se ela se lembrava ou não.

“Você não foi tomar o café da manhã.” Ela falou, sim Meryl, eu não fui, mas me fale algo mais, me dê uma pista de que você se lembra, ou melhor ainda, de que você não se lembra.

“Eu fui te procurar no quarto da Mamie...” Ai droga, ela se lembra, droga, droga, droga, merda! “... quando vi que você não foi tomar café, pensei que estivesse dormindo ainda, mas você não estava lá. O que aconteceu? Você não dormiu bem? Fiquei preocupada.” Ai meu Deus, ela não se lembra. Você concorda comigo, pequena eu? Ela tá preocupada e não parece que tá me expulsando da casa dela, eu acho que ela não se lembra, tomara. “Hello? Molly? Sou eu que bebo e você que fica de ressaca?” ela brincou, ela sorriu, ela definitivamente não se lembra. Comemora aí, pequena eu, isso é um milagre e dos grandes. “Molly, agora você está me deixando mais preocupada, você não fala nada.” Ela falou com uma interrogação na testa.

“Eeer... eu dormi bem sim, Meryl. Vim pra casa de hóspedes bem cedinho, não queria acordar vocês.” Menti, a minha pequena eu não aprovou, mas eu ia dizer o quê?  ‘Não dormi nadinha, Meryl. E sabe o porquê? Porque imagens de você chegando ao orgasmo e olhando pra mim não saíam da minha mente’?

“E o café da manhã? Porque você não foi comer?” ela perguntou, agora com tom maternal.

“Eu não tô com fome.” Bela justificativa Molly, já sabe que vai levar sermão.

“Além de atrevida, é teimosa!” Ai, porque ela falou isso? Atrevida. Ai meu Deus, ela se lembra. “Você sabe muito bem que não pode ficar sem comer, Molly. Venha, você vai comer alguma coisa.” Ok, então ela não se lembra. Meu Deus, essa dúvida ainda vai me matar.

“Aí está você, M. Temos que ir ou vou perder o voo.” Don falou assim que entramos e eu me sentei à mesa pra beliscar alguma coisa. “Bom dia, Molly. Dormiu bem?” Ai meu Deus, porque todo mundo tinha que me fazer essa pergunta, de repente, eu não conseguia olhar pro Don também.

“Bom dia, Don. E dormi sim.” Eu apenas murmurei, sem olhar diretamente pra ele. Ele provavelmente deve ter arqueado as sobrancelhas se perguntando aonde teria ido aquela menina atrevida do primeiro dia.

“E então, você tá pronta, baby?” ele perguntou pra Meryl, envolvendo a cintura dela com um de seus braços.

“Pronta pra ficar longe de você por dois dias? De jeito nenhum! Mas sim, vamos pro aeroporto.” Meryl respondeu, se deixando levar pelo abraço dele. Então isso era aquela ida ao aeroporto que estava na agenda da Meryl? Então o Don ia ficar fora por 2 dias? Ai ai ai ai... “Você...” Ela falou apontando pra mim agora. “Trate de tomar seu café direitinho e quando eu voltar, preciso resolver algumas coisas com você no escritório.”

Ai.

Ela se lembra.

Ferrou.

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