Capítulo 3

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“Ok, você não perguntou os que os médicos disseram, graças a Deus você não quebrou nada, mas machucou sua costela, e por isso você precisa ficar em repouso. Acho que você vai se sentir confortável lá.” Meryl falou.

“Lá? Lá onde?” Eu perguntei, onde Meryl queria chegar?

“Na casa de hóspedes da minha casa.” Ela respondeu como se estivesse falando a coisa mais óbvia do mundo.

“O quê? Meryl, não. Você não precisa fazer isso.” Por mais que eu adorasse a ideia de ir para a casa dela, isso era loucura, isso era demais. Meryl, e se eu for uma assassina ou terrorista louca pra cometer um crime?

“Você vive com alguém?” ela perguntou.

“Não.” Ótimo Meryl, obrigada por me lembrar do quão solitária e carente eu sou. Sim, eu vivo sozinha, mas ainda assim, não era razão pra eu ir pra casa del..

“Então eu preciso fazer isso sim, você precisa de cuidados, Molly. Eu sei, você deve estar achando que eu sou louca, mas o que nós estávamos falando sobre conexão? Eu sinto que eu preciso fazer isso.” Ela me falou olhando nos olhos, nunca vi tanta sinceridade nos olhos de uma pessoa.

“Não, eu posso ir para meu apartamento, eu vou ficar bem. Eu não quero ser uma intrusa na sua vida.” Eu tava odiando ter que dizer isso, ‘minha pequena eu’ já estava com um cinto pronta pra me dar uma surra. É claro que eu queria ir pra casa dela, mas eu tinha certeza que eu ia causar problemas se eu fosse. “Além do mais, eu tenho certeza que isso não ia agradar à sua família, seu marido parece que não gostou...”

“Molly, eu não estou te chamando pra morar comigo, ok? É uma casa de hóspedes, ela fica separada da casa principal, você vai ter a sua privacidade, eu e a minha família vamos ter a nossa, e além do mais, a casa está vazia, porque não unir o útil ao agradável?” Ela explicou, ainda falando como um ser humano normal, enquanto a ‘minha pequena eu’ estava abismada com cada palavra que ouvia.

“Você mal me conhece, Meryl. Não me leve a mal, mas tô começando a achar que você realmente bebeu.” Essa segunda parte era pra ter ficado nos pensamentos, outra vez Molly, é sério isso? Para de falar besteira.

“Ok, você me pegou, eu bebi sim, só que foi ontem à noite.” Ela disse com tom risonho, depois ficou séria. “Molly, olha, você está machucada, não pode ficar sozinha em um apartamento em péssimas condições, eu sei que nunca falamos da situação financeira, mas sabendo que você desmaiou outro dia por ter ficado sem comer... não é difícil saber que a situação é difícil.”

Isso era verdade, eu não sei dizer qual foi a última vez que me senti financeiramente estável, acho que nunca, e meu apartamento era uma droga, pequeno, quente, eu mal conseguia ficar lá em condições saudáveis, imagine doente... mas ainda assim, ir pra casa dela era loucura, será que Meryl não enxerga isso? Ou será que eu sou que a sou louca por ficar negando?

“Eu não quero que você sinta pena de mim.” Eu falei quase como um sussurro. Essa era a verdade, eu já vi várias pessoas me olhando com pena, e isso me incomodava, me incomodava de verdade, eu não ia aguentar ver isso nos olhos da Meryl também, por isso que agora eu desviei o olhar dela e jurei que pra mim mesma que não olharia até que ela saísse do quarto e fosse pra casa dela, sem mim.

Ela simplesmente segurou no meu queixo e o levantou para que eu a olhasse nos olhos.

“Olhe pra mim, você vê alguma pena no meu olhar?” Oh. Meu. Deus. O que eram aqueles olhos? Eu juro que fiquei sem respirar, fiquei mesmo, droga, cadê meu cachecol? Cadê? “Me diz Molly, você vê alguma pena no meu olhar?” Ela perguntou outra vez. Diz que sim, Molly. Diz que sim, e só assim ela desiste dessa loucura de te levar pra casa dela.

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