Capítulo 15

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Penúltimo Capítulo


“Molly... Você está indo embora dessa casa.”

Eu ouvi a voz da Meryl dizer e tudo parece que ficou em câmera lenta, eu não conseguia respirar, eu pedi socorro à minha pequena eu, mas ela parecia estar em estado de choque também. Tudo bem, eu sabia que não ia ficar aqui pra sempre, mas nunca imaginei que fosse dessa forma, me sinto como um estorvo, um empecilho, um erro na vida da Meryl, e agora ela tava me colocando pra fora pra se livrar de um erro que ela cometeu. Entendê-la mal? Nem tinha como, pra mim estava tudo tão claro. Você se arrependeu, Meryl. Era por isso que eu estava indo embora daquela casa, porque você se arrependeu. E eu não podia culpá-la por se arrepender, e também não podia exigir nada, e nem pedir pra ficar, eu compreendia. Eu realmente compreendia, mas não podia negar que me deixou triste, mesmo sabendo que isso um dia iria acontecer. Só me restava aceitar, ainda que de coração partido. E ser grata, a Meryl me ajudou de forma inexplicável e eu tinha certeza que depois de toda essa experiência, a minha vida não seria a mesma. 

“Obrigada, Meryl.” Eu falei simplesmente, incapaz de olhar pra ela. Na verdade, eu queria ter dito tudo o que eu pensei, mas só saiu isso.

“Pelo quê?” ela perguntou, mesmo ela não olhando pra mim, eu podia imaginá-la franzindo o cenho.

“Por tudo. Tudo o que você fez por mim.” Eu expliquei, e notei que a minha voz parecia não ser a minha outra vez.

“Você não vai perguntar o porquê?” ela perguntou, ainda sem olhar pra mim.

“Não, eu acho que está tudo bem claro.” eu falei, timidamente.

E foi aí que ela olhou pra mim, e eu vi aquela preocupação nos olhos dela outra vez. Aquela que vi quando ela se sentou à mesa. “O que está claro pra você, Molly?” ela perguntou.

“Eu penso que... que você... se arrepende.” Eu respondi com a minha voz quase sumindo. Sempre me perco nas palavras quando a Meryl me olha nos olhos. E aí eu a vi sorrindo, o mesmo sorriso que ela deu naquela conversa da cozinha, quando ela me disse que eu não tinha como saber o que ela sentia.

“Você pensa demais, Molly.” Ela falou ainda sorrindo. E eu fiquei quase com raiva porque a Meryl nunca me dá respostas diretas, é sempre esse mistério.

“O que você quer dizer?” Eu me ousei a perguntar, e pelo amor de Deus, Meryl! Me dê uma resposta concreta, mulher. Ela simplesmente arregalou os olhos diante da pergunta, como se tivesse sido pega de surpresa, e virou o rosto.

“Quero dizer que... er... você está indo embora dessa casa porque eu encontrei coisa melhor pra você.” Ela falou. O QUE? Como assim ‘coisa melhor’? Melhor do que ficar a dois passos de Meryl Streep com direito à maiô que mostra umbigo e tudo mais? Não mesmo!

“Meryl, qual é a sua definição de ‘coisa melhor’?” eu ousei perguntar e depois me dei um tapa mental pela minha audácia. Mas valeu a pena, porque ela riu! Ela entendia que pra mim não havia coisa melhor do que estar na casa dela, e ser assistente da assistente dela. Eu sei, eu sei, penso pequeno, mas pra mim, isso é mais que perfeito.

“Com ‘coisa melhor’ eu quero dizer um emprego em uma galeria de arte de um amigo meu. Já ouviu falar sobre Michael Korris? Ele paga bem e eu tenho certeza que você será capaz de pagar por uma boa moradia. Falando nisso, eu e Kori já olhamos um lugar, já temos um lugar em vista. E quem sabe um dia, você não expõe suas próprias obras, eu sei que você não me deixou ver as suas telas, mas pelo que vi, você tem muito talento e eu não duvido que esse dia vai chegar. Eu sei que no começo as coisas vão apertar um pouco, mas você é uma lutadora, Molly.” Ela falou e agora voltou a olhar pra mim.

Eu simplesmente fiquei sem palavras. Ela tinha me arranjado um emprego. Em uma galeria de arte! E na galeria de Michael Korris? Se eu já ouvi falar dele? É claro que já ouvi! O cara tem uma galeria famosa! Eu sei que eu teria que estudar muito pra chegar à altura dessa galeria, mas eu estava disposta a isso, com certeza. E mais, a Meryl e a Kori tinha procurado um lugar pra eu morar? Então foi por isso que a Meryl não precisou de mim e sim da Kori naquele dia? Eu estava sem palavras. Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo. Ao mesmo tempo que o meu coração doía por não ficar mais perto da Meryl, por outro lado, tudo isso que a Meryl fez por mim, era o que mantinha a Meryl perto de mim, o meu futuro não ia ser o mesmo, por causa dessa ajuda imensa que ela tinha me dado. Eu estava feliz, mas estava triste, e ainda não tinha conseguido ouvir a Meryl dizer o que pensava sobre nós, não esperava que ela tivesse sentimentos por mim, é claro, mas ao menos, queria saber o que ela pensava, alguma coisa ela deveria pensar. Mas no momento, eu não conseguia fazer perguntas. Bem... talvez eu conseguiria fazer uma perguntinha....

“Meryl... eu posso te abraçar?” eu perguntei, meio hesitante. Ela não respondeu, simplesmente virou e me abraçou forte, uma de suas mãos fazia círculos nas minhas costas, enquanto a outra, deslizava pelo meu cabelo. Eu senti uma vontade de chorar, mesmo sabendo que eu não iria embora naquele momento, eu senti vontade de chorar e deixei uma lágrima cair, junto com ela veio um soluço. “Muito obrigada, Meryl. Sério... poucos fariam o que você fez. Minha vida não será mais a mesma, e eu não vou te decepcionar.” Eu falei, entre soluços, e me amolecendo cada vez mais que a mão dela deslizava sobre o meu cabelo.

“Eu sei que você não vai, querida. Não precisa me agradecer, eu só quero que você fique bem.” Ela repetiu as mesmas palavras que me disse quando cheguei nessa casa. Nós cessamos o abraço e lá eu fiquei com aquela sensação agridoce, a sensação de fim e de começo.

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