Capítulo 45

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O que Carolina me falou na clínica ficava me martelando todos os dias. Enquanto eu reclamava o tempo todo da minha desgraça, que eu tinha que fazer fisioterapia, alongamento, dietas, tomar vários medicamentos, massagens, repousos, etc, etc, existiam outras tantas pessoas que também compartilhavam as mesmas sensações e emoções que eu tive quando eu descobri a fibromialgia. E o pior, pessoas que não tinham um terço das condições de vida que eu tinha. 

Se eu, com todo o luxo que tinha, me sentia infeliz e exausta, imagina quem vivia em condições precárias. O sofrimento, o desespero, sentir dor sem poder se tratar. Eu tinha era que ser grata, e não me fazer de vítima. Haviam pessoas que estavam em situação pior que a minha.

É claro, cada um sabe onde o seu calo aperta, onde a dor dói, e julgar a dor do outro é algo terrível a se fazer. Pra um, pode ser bobagem, pra outro dói a alma. A forma em que cada um lida com determinada situação é diferente, e isso não a faz mais ou menos fraca. 

Porém, algo que eu aprendi, é que nós, muitas das vezes, fazemos o problema ser maior do que ele é. Parece que queremos a todo o custo mostrar para as pessoas que ninguém nunca passou pelo o que você passou. Que seu problema e sua angústia são únicos e ninguém no mundo consegue te entender.

Então, a pergunta que se faz é: você quer ser conhecida como a pessoa que se lamenta, que chora, que sofre, que tem uma doença sem cura, que tá em situação difícil, ou como a pessoa que apesar das tempestades encontra um motivo para sorrir?

Hoje eu entendendo isso, e bem, graças a Miguel. Eu lembro até hoje de um surto que eu tive dentro do quarto, lembro das palavras do pior psiquiatra do mundo dizendo que rir e chorar me causavam dor na mesma intensidade, e eu ainda assim escolhia chorar, porque parecia mais fácil.

Foi quando ele me mostrou outro sentido à vida. Quando ele me fez tentar dar um passo de cada vez para eu sair do meu casulo. E agora, não bastava ter aprendido tudo isso. Eu precisava colocar em prática. 

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O fato de ainda ser uma grande violinista ia me ajudar de certo modo. Eu decidi escrever um blog como forma de inspirar outras mulheres. Era como um desabafo, como um diário  no qual eu compartilhava momentos, alegrias e decepções do meu dia a dia com uma doença sem cura.

Eu não era a única no mundo com fibromialgia, existiam milhares de pessoas que passavam por essa mesma situação e, assim como eu, foram rotuladas e abandonadas pelas pessoas que amam, justamente por não compreenderem a doença.

Fazia uma semana que havia começado e já estava com mil visualizações. A maioria do meu público, eram mulheres. Algumas divorciadas, filhos pequenos, outras que diziam que encontravam a força para lutar, da família. Recebia mensagens dizendo o quanto as vezes, elas se sentiam sozinhas, solitárias. No quanto se sentiam incompreendidas. 

Cada leitura me emocionava. A cada depoimento, eu sentia que o que estava fazendo era uma causa maior. Ajudar e ser ajudada, era mais um tratamento na minha lista de tarefas. 

Eu estava, terminando de ler mais um depoimento, quando recebi uma ligação.

- Alô? 

- Senhorita Clarissa Hoffman?

- Sim, pois não?

- Aqui é da TV Curitiba, nós acompanhamos seu trabalho quando ainda era violinista e quando largou a música por conta doença. Ficamos sabendo sobre o seu blog e, bem como ele ganhou bastante visualizações em uma semana, gostaríamos de saber se a Senhorita teria interesse em nos dar uma entrevista e explicar sobre essa trajetória?

 Eu estava tremendo. Era um mix de sensações. Dar essa entrevista seria uma forma ainda maior e mais grandiosa para conseguir alavancar meu novo projeto e divulgar o meu blog. Era a sensação de que as coisas estavam indo bem.

- É claro, eu não sei nem o que dizer. - digo com a vos embargada. 

- Certo, podemos marcar amanhã às 11h?

- Sim, com certeza.

- Muito obrigada Clarissa, será um prazer entrevistá-la.


Eu estava em êxtase. Essa entrevista seria uma grande oportunidade de divulgar o meu novo projeto. 

A vontade de comemorar era grande. Mas eu sabia que tinha que me concentrar para dar essa entrevista. Conseguir mantes as emoções e corpo em dia para que ele correspondesse aos meus passos no dia seguinte.

Nesse momento, eu só conseguia pensar em Richard. Precisava ligar para ele o quanto antes. Era a única pessoa para quem eu poderia contar naquele exato momento e eu sabia que ele me ajudaria. 

Ensaios de borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora