Capítulo 24

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Clarissa

Acordar naquele quarto branco com cheiro de cânfora fez-me sentir uma grande saudade do final de semana que tive. O desespero bateu e a ansiedade me consumiu na mesma proporção. Eu não queria voltar, nem sequer colocar um pé dentro dessa clínica, muito menos vê-la de longe. Em tão pouco tempo, a falta do convívio da natureza, da leveza da vida, das risadas e das pessoas, vieram a tona, dizendo a mim que aquele não era o meu lugar.

Apesar do meu orgulho, da minha revolta, eu ansiava pela vida. Eu ansiava por dias melhores e Miguel havia me proporcionado isso. Nem tudo estava perdido para mim, eu só precisava desvendar meus olhos e parar de reclamar. Viver, agir e lutar.

Respirei fundo. As dores já não me eram tão terríveis, estavam amenas e controláveis, porém, minha cabeça estava inquieta. Inquieta com a vontade de ver Miguel e inquieta porque o mesmo havia dito que teríamos muitas surpresas.

Lembro-me vagamente dele me colocando na cama e acarinhando meus cabelos para que eu pegasse no sono, o que não demorou muito devido a minha exaustão. E então, como que calando todos os meus sentidos, ele apareceu. Com uma bandeja em mãos e com o seu uniforme. Um largo sorriso estampou o seu rosto, fazendo-me sentir bem com a possibilidade de ele estar completamente feliz em me ver. E eu também estava. Oh Deus! Como eu estava sentindo falta de todas as partículas de seu corpo em contato com meu.

- Ei! Clarissa? Onde está? - Miguel estalou os dedos na minha frente de modo que meus delírios insanos se esvaíssem.

- Desculpa. Somente algumas lembranças - corei abaixando a cabeça tentando aparentar o mais natural possível. - O que vamos fazer?

- Está muito ansiosa. Primeiro vamos tomar café. E depois, assinar alguns papéis, mas...

- O que tem mais?

- Conversaremos com sua família hoje.

Estremeci. Engoli seco e senti meus olhos fraquejarem.

- Miguel...

- Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Está na hora de eles pararem de tratar como uma criança.

- Eles não estão tão errados. - lamentei.

- Não seja modesta. E pare de reclamar logo cedo. - bronqueou.

................................................................................................................................................................Fazia mais ou menos uma hora desde que Miguel e eu tomamos café. Minha mãe havia chegado junto com minha irmã que estava com uma barriguinha já saliente. Todos os meus nervos tremiam e não deu pra esconder a frustração por papai não estar lá. Meus dedos dos pés balançavam freneticamente, num ritmo descompassado e nervoso. Até que Miguel finalmente pediu para que eu entrasse em sua sala.

Mamãe estava com um semblante preocupado e aparentemente aliviado. Dafne sorria para mim, porém um pouco tímida. As duas vieram me abraçar num amasso apertado e um pouco desesperado demais.

- Oh filha! Parece que está muito bem. Está mais corada com uma expressão mais viva.

- Doutor Miguel tem feito um ótimo trabalho pelo que eu vejo - Dafne me soltou uma piscadela e um sorriso malicioso pra cima de meu psiquiatra. Minha irmã não podia ver um homem e uma mulher juntos que já entrava num completo filme de romances e luxúrias, ainda que fossem apenas bons amigos ou paciente e médico. Mas dessa vez, eu não a tiraria de seus pensamentos, aliás, ela estava completamente certa.

- Bem Clarissa, chamei você aqui porque tenho boas notícias.

Suspirei ao ouvir as palavras de Miguel. Eu estava esperançosa com o que ele estava prestes a me dizer.

- Tendo em vista nossas consultas nestes últimos momentos, notei que você deu um avanço muito grande. Sua nova rotina, as suas novas atividades e a vontade de querer fazê-las da forma correta, mesmo depois de longas reclamações... - Miguel revirou os olhos - Não vejo mais motivos para que fique aqui, podendo continuar o tratamento em casa.

Engoli seco. Uma parte de mim estava feliz, porém, sentia que faltava alguma coisa. 

- Achei que ficaria feliz com a notícia Clarissa. - Mamãe franziu o cenho diante da minha expressão totalmente inesperada.

- Eu estou feliz, só... - eu estava com medo. Medo de minha família não dar conta. E, mais ainda, sair de lá significaria não ver mais Miguel? - Não quero dar trabalho a vocês. - balancei a cabeça levemente em negação, como se não fosse aquilo que eu queria dizer. E não era.

- Não se preocupe, continuaremos os tratamentos mas de uma forma diferente, até que você esteja completamente apta para agir por si só. Ainda temos uma longa jornada pela frente e começaremos com as atividades que você deixou pra trás. Começar a ter sua vida de volta, começando por sair daqui. - explicou-me meu psiquiatra, fazendo com que eu, involuntariamente, suspirasse aliviada. Um pouco alto demais eu diria.

- Mal posso esperar - dessa vez eu estava definitivamente animada e emocionada.

- Aproveitando que estamos aqui, gostaria de saber se Clarissa poderia, como inclusão de mais algumas atividades em sua rotina, de me ajudar com os preparativos do casamento.

- Não vejo problema nenhum nisso. Será uma ótima distração.

- Tudo bem pra você, Clarissa? Tendo em vista que... - minha irmã hesitou. Na última vez, quando ela me disse que iria se casar, eu praticamente surtei. No fundo eu estava com inveja, com raiva. Mas agora, eu só me sinto feliz por ela estar feliz e por eu estar com vontade de mudar.

- Eu iria adorar. - Sorri animada.


Voltar para a casa me deixou animada e emocionada. Aquele cheirinho de família, de lar. Era o meu canto, o meu lugar. E sentir-se em casa era a melhor sensação depois de tanto tempo. Meu quarto continuava o mesmo. A cama de casal com os lençóis de seda, o meu mural de fotos na época da faculdade, assim como a minha matéria no jornal. A estante com as minhas bonecas de porcelana, ainda em impecável estado. A antiga poltrona embaixo da janela, onde eu me aconchegava nas horas vagas ou passava o tempo tocando violino. E ali estava ele. Encarei-o apaixonada, como uma pessoa que acaba de rever um antigo amor. Era fechar os olhos e eu poderia imaginar a sensação que aquilo e provocava. Eu queria voltar a tocar. Poder fazer concertos, apresentações, qualquer coisa que estivesse o violino e eu. Apesar de Miguel ter me feito conhecer novos ares, o violino seria para sempre a minha essência, e isso seria o meu maior incentivo daqui pra frente.


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Olá borboletas do meu coração!!!!! Clarissa vai para casa. Uhuuuuullll. E Miguel vai junto para evitar qualquer coisa que prejudique a sua carreira na relação amorosa entre médico e paciente. Só eu que acho que Clarissa não terá folga com esse médico delícia em seu quarto? E o senhor Romeu diante de toda essa situação? Vem coisa por aí.

Aguardem !!!! 

Ensaios de borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora