Capítulo 35

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Sabe quando você quer muito uma coisa, mas se sente inseguro ou insuficiente demais para tê-la?

Ou quando você conquista algo que tanto almejou, mas não se sente merecedor daquilo? Como se seu destino, sua condição fosse sofrer para o resto de sua vida, ou ficar vegetando em uma cama e, enfrentar o mundo a fora, não fosse algo que fizesse parte da sua vida? Eu me sentia assim desde aquela discussão que tive com papai.

Eu estava vivendo tudo de bom que a vida pudesse me proporcionar. Aos poucos eu fazia atividades de uma pessoa normal, que não era doente como eu, então, agora eu tinha um trabalho, um namorado, fazia exercícios físicos regularmente, embora detestasse, mas, por que razão eu me sentia incompleta?

Por qual motivo eu sentia que algo ainda faltava?

Eu estava distante de Miguel nos últimos dias. Nos víamos com frequência, mas não tinha entrega. Era um sinal de defesa, como se sim, ele pudesse me abandonar a qualquer momento, assim como Richard fez um dia. Por mais que dissesse a mim mesma que Miguel não era Richard, meu subconsciente por alguma razão me dizia loucamente o oposto, e isso me matava por dentro.

Miguel me perguntava os motivos de eu estar receosa e dizia apenas que era impressão dele. Eu não queria entrar em detalhes e também não quis insistir, acho que ele entendeu que eu não queria desabafar.

...

Sexta feira! O primeiro dia do final de semana de Dafne. O chá de bebê da minha sobrinha.

Eu estava empolgada, pois, depois de muito tempo sem festas ou comemorações, queria algo que pudesse ocupar a cabeça e me divertir. Esquecer os problemas, tirar pensamentos negativos, e tudo de ruim da minha lista de lamentações.

Eu insisti para que Dafne me deixasse ajudar com os preparativos, mesmo ela dizendo que contratou a melhor equipe para isso, mas eu queria me sentir útil. Então, eu fiquei com a parte dos docinhos.

Não que eu fosse muito boa na cozinha, mas também não era de todo ruim e, além disso, contei com a ajuda de alguns empregados.

Da cozinha era possível ouvir os berros de minha irmã que nunca estava satisfeita com o modo como a decoração saia. Ora a flor estava muito para a esquerda, ora estava muito para a direita. Ora um tapete tampava muito o jardim, ora faltava algo a mais no jardim. Enquanto isso, minha mãe apenas tentava acalmá-la, com medo de que isso fizesse mal para o bebê.

Pela primeira vez, minha irmã não havia feito nada muito exagerado. Tudo bem, haviam balões rosa choque espalhado pela casa inteira? Haviam!

Havia flores rosa claro espalhadas por toda a piscina? Com certeza!

Luzes e cortinas nas entradas? Era óbvio.

Mas, ainda sim, mais simples ao estilo Dafne de ser. Sem contar também, pelo número de pessoas. Cinquenta! Ela disse que queria algo para as amigas mais íntimas, pois bebê é algo mais família, pessoas que te apoiam, que sabe que vão lembrar de você e do seu bebê, e não simplesmente esquecer que você existe e ficar falando loucamente dos problemas da maternidade.

Eu sei! Cinquenta pessoas íntimas para um chá de bebê qualquer pessoa poderia dizer que eram muitas, mas minha irmã era assim, cativava a todos a sua volta com todo o seu alto astral e, apesar de não parecer, ela era a pessoa mais humilde e de grande coração que eu conhecia. Ela é exagerada? Sim. Mas isso não é uma característica que ela guarda só para ela. O que ela puder fazer para ajudar alguém, ela faz. E isso era mais uma característica nela que eu admirava.

- Clarissa, como estão as coisas? Está na hora de colocar os docinhos na mesa, o pessoal já vai chegar. - minha irmã entra na cozinha vestindo uma calça moleton e uma camiseta velha de pelos menos 10 anos atrás com a estampa das três espiãs demais. E que agora está parecendo um top, devido a sua barriga que a cada dia parece maior.

Ensaios de borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora