Capítulo 30

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Miguel


Eu tinha certeza que assumir um compromisso com Clarissa não seria uma tarefa fácil. A família dela era de alto renome, podres de ricos e conceituadíssimos na mais alta sociedade. Enquanto eu, eu era um medico recém formado, que dividia um apartamento com a irmã. 

Não que eu reclamasse da minha vida. Pelo contrário, a simplicidade sempre me atraiu e, por causa disso, manter um relacionamento com a Borboleta, seria bastante complicado. Ela e eu somos de mundo diferentes, gostos e personalidade completamente diferentes e, mesmo que os opostos se atraem, sempre pode haver forças externas que pode afastar todas essa tração. 

O fato era que eu não estava nem aí. Para mim, a família Hoffman se baseava apenas em Clarissa, a minha borboleta e dane-se o que a família dela pensasse. Porém, havia uma única coisa que me tirava completamente do sério. Seu ex noivo. Ele é exatamente tudo aquilo que Clarissa sempre sonhou para ela. Um homem alto, musculoso, bem sucedido, rico, culto, e que possui os mesmos gostos que Clarissa. Além disso, o pai dela o adora. 

Como se não bastasse, eu sabia que, mesmo ele estando noivo novamente, seus olhos escondiam certa paixão por minha borboleta. Uma mistura de remorso, carinho, saudade, faziam parte de todo o comportamento de Richard, e se eu não tomasse cuidado, veria minha linda borboleta pousando em seu braços novamente. 

Taquei o pincel longe. Eu estava devidamente irritado e perturbado e precisava correr. O dia estava tranquilo, um sol estável e poucas nuvens. A brisa me acalmava e a medida que eu corria, meus pensamentos se desfocavam de Clarissa e seu ex noivo.

Distraído, acabei esbarrando em alguém.

- Me desculpe, eu estava distraído, você esta bem? Espera! Julia?

- Miguel - ela sorri fraco. - Há quanto tempo.

Eu sorrio desconcertado, assim como ela. Julia foi minha primeira e única paixão até conhecer Clarissa. Mas, seguimos mundos diferentes, ela foi estudar na França e morar com o irmão e eu vim pra Curitiba. A distância e o fuzo horário impediram que continuássemos mantendo contato. 

- Você está ótimo - disse ela um pouco mais leve.

- Você também. - rio desconfortável.

- Muito bom te ver. Aceita tomar uma água de coco comigo? 

- Por que não?

A praça estava um tanto movimentada, mas ainda assim, não enfrentamos muita fila. Nos acomodamos no banco e conversamos como se nunca tivessemos se separado. 

- E então, o que  o bad boy anda fazendo da vida? - ela pergunta bebendo um gole de sua água.

- Agora sou Doutor Miguel, por favor. Sou psiquiatra. - ironizo. 

- Caramba! Jurava você iria para o ramo da arte. Seus quadros eram incríveis.

- Ah, eu ainda tenho essa paixão. Mas depois do que aconteceu com meus pais, meio que engavetei essa ideia. 

- É uma pena. E de onde surgiu essa ideia de fazer psiquiatria. 

- Achei que seria interessante uma profissão que combinasse comigo - rio.

- Você sempre foi meio maluquinho - lembrou ela.

- Sim, mas na verdade, descobri que a psiquiatria tem muito mais oferecer. Inclusive para os mais são dos sujeitos. 

- Ual, que profundo. - desdenhou.

- E você? Se encontrou no mundo da moda?

- Eu nasci pra isso. - ela ri. 

- E o que faz aqui?

- Meu irmão casará em breve e eu estou ajudando minha cunhada com algumas coisas. Ela está grávida, e é meio maluquinha. 

- Certo.

Ela suspira.

- E as namoradas? Lembro o quanto era garanhão no ensino médio.

- Bem, tive alguns lances nesse meio tempo, mas nada muito sério. Eu precisava ter foco na minha vida profissional e dei prioridade a isso. 

- Quem te viu quem te vê, Miguel. Tornou-se um profissional e tanto.

- Sim, até que conheci Clarissa. 

Ela dá mais um gole em sua água.

- Sua namorada?

Balanço a cabeça.

- E como se conheceram? - Olho pra ela meio desconfortável e deixo escapar um sorriso. - Não vai me dizer que ela era sua paciente?

- Bingo! 

-Miguel, como pode? - ela me olha surpresa e divertida. 

- Aconteceu. 

- Cara! O que viu nela? Desculpa a pergunta, mas só pra entender o contexto. - ela pergunta e eu não me sinto ofendido. Eu entendo que as circunstâncias em que tudo aconteceu geraria curiosidade em qualquer pessoa e, bem, eu conhecia Julia, sabia que ela era livre de qualquer preconceito.

- Clarissa tem uma grande depressão devido a sua doença. Ela tem fibromialgia. Seu estado era muito crítico e preocupante. Ela era arisca, irredutível, controladora e tinha, aliás, tem, uma enorme dificuldade de ser contrariada.

- E o que te atraiu nela?

- Além de sua beleza natural que mesmo por trás de algumas olheiras, ou um de um semblante sofrido, e autoestima lá embaixo, ela conseguia ser maravilhosa. Um olhar intenso pedindo por socorro. Dentro dela tinha uma pessoa cheia de vida. Ansiosa pela vida. Ansiosa para sair de seu casulo. Ela é mistura doce e austera. Tem medo de grandes aventuras, de se arriscar, mas se você insistir um pouquinho mais, ela é capaz de voar longe. E é tão linda quando faz isso. 

Ela ri.

- Eu já não te conheço mais Miguel. Você realmente está apaixonado. E eu achando que esse tipo não combinava com você. 

- Qual é? Eu estava apaixonado por você naquela época. - ela cora. 

- Eramos crianças. Tínhamos inocência em tudo. Não tínhamos maturidade nem para amar ou entender o que era amor. 

Olho para ela fixamente. Julia ainda era mulher muito bonita. Por anos eu sofri com sua ausência mesmo não demonstrando qualquer fato. Será que tudo pelo que havíamos passado e o que eu senti era apenas imaturidade? Isso significaria que os sentimentos não eram recíprocos? 

- Miguel, eu tenho que ir. Foi muito bom te ver. - Ela deposita um beijo em minha bochecha. - A gente se vê.

Faço um aceno pra ela e acompanho meu olhar enquanto Julia fica cada vez mais distante. No fundo ela tinha um pouco de razão. O que eu sentia pela Clarissa era diferente do que eu já havia sentido por Julia. 


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Uma pitada pequenina de suspense no ar, com um final que deixa algumas dúvidas. Afinal, o que MiGuel quis dizer?

Enfim, Richard e Julia promete dar uma balançada nesse casal que a gente adora. Estão preparados?


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