Capítulo 11

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Março de 2015 — Algumas semanas depois.

Eu realmente achei que tudo estava indo bem. As dores e o cansaço tinham me abandonado. Ainda tomava os remédios que me foram receitados pelo médico da família de Richard. Decidi que só pararia quando os mesmos acabassem. Uma semana de relaxamento me ajudaram muito e estava disposta a cumprir vários planos que eu tinha mente.

Comecei a ensaiar em casa para que quando chegasse ao concerto, eu já estivesse parcialmente preparada. Ajudava minha mãe sem sua loja de ambientes decorados em alguns dias para passar o tempo e ver as pessoas. Richard trabalhava cada vez mais. As antigas ações estavam começando a terem retorno e ele estava empolgado e devidamente dedicado a elas. Eu o apoiava e incentivava, apesar de me importar com a solidão que às vezes sentia ao ficar sozinha naquele duplex. No entanto, Richard apenas queria antecipar tudo para que ficasse livre durante o nosso casamento e Lua de Mel. Pensar assim me confortava.

O sol vinha forte em plena sexta feira. O dia estava maravilhoso e radiante. Durante a semana havia recebido um telefona de um jornal local querendo que eu fizesse uma coletiva a eles. Queriam abordar mais sobre a música clássica. Um gênero por muitos, cobiçado, mas por muitos, esquecido. Aquilo, com toda certeza, foi lisonjeiro. Dizer sobre a música clássica era como falar uma segunda língua fluentemente e, portanto, faria com total empolgação.

Acordei cedo e me espreguicei soltando alguns gemidos inevitáveis. Richard já havia ido trabalhar e eu suspirei ao notar o seu lado da cama vazio. Afastei pensamentos ruins e decidi focar no que me esperava. Queria estar radiante não somente em minhas respostas, mas também em minha aparência. Vaidade era uma coisa que não me abandonava jamais.

Aproveitava os finais de semana para hidratar os cabelos e sempre saía de casa maquiada, nem que fosse apenas uma máscara de cílios e um blush para dar aquela corada. Sentia-me bem com aquilo. Olhava-me no espelho e me achava bonita. Meus cabelos eram o meu xodó. Ah! Como eu os amava. Naturais assim mesmo. Sem qualquer tipo de química. Eles eram lisos até a cintura com uma leve ondulação nas pontas.

E, naquele dia, não foi diferente. Após um bom banho relaxante que fiz questão de fazer na banheira, preparei-me para escolher a melhor roupa. Lembro-me com detalhes da roupa que eu escolhi. Era uma saia boca de sino azul royal que iam até os meus joelhos. Uma blusa frente única num azul bebê, e uma sandália de salto alto. Decidi não carregar na maquiagem, queria algo leve, porém elegante. Um delineado bem feito e um batom em um tom de rosa antigo. Os cabelos foram recebidos pelo calor do secador, mas decidi por deixar as pontas secarem naturalmente. Alguns acessórios para complementar o look e um bom perfume para fechar com chave de ouro.

Depois de arrumar a gola da camisa, arrumar a barra da saia e olhar-me no espelho mais umas cem vezes, decidi que era hora de sair. Peguei minha bolsa e entrei no carro verificando se tinha pegado tudo. Era o mesmo ritual ao sair de casa. Sempre quando possível, eu olhava minha bolsa para certificar-me de que tudo que eu precisava esta lá.

Assim que saí com o meu carro do estacionamento do prédio, notei o céu claro, sem nenhuma nuvem sequer. O tempo estava maravilhoso, e eu sorri com a sensação que um dia como aquele era capaz de proporcionar a mim. A rua estava extremamente movimentada, com várias pessoas indo ao trabalho, ou quem sabe, chegando. Como consequência, o trânsito estava um inferno, porém, eu estava tão feliz com a minha entrevista, que nem sequer ousei reclamar.

O sinal parou e a fila de carros se aglomerou atrás de mim. Foi inevitável não pensar naquele dia em que fiquei parada devido aos tremores que estava sentindo em minhas pernas. Respirei fundo e disse a mim mesma que tudo estava bem. Pisei no acelerador a saí tranquila pelas ruas de Curitiba ate parar no primeiro engarrafamento.

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