Capítulo 26

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Acordar sem Miguel, não foi algo muito agradável. Pior ainda era ter que enfrentar meu pai no café da manhã e ir com Dafne atrás dos último preparativos para o noivado, casamento e o chá de bebê.

Dafne era completamente louca de querer fazer três festas seguidas em menos de um mês.

Levantei a contragosto, preparando-me para o primeiro remédio do dia. Passei as mãos nos cabelos apenas para dar uma ajeitada nele e então desci para se juntar à mesa.

Minha família inteira estava ali. Papai lia seu jornal, mamãe conversava com Dafne animada e Philips falava ao celular. Nada havia mudado, desde que fiquei internada, exceto por Philips que agora ocupa a cadeira ao lado da minha irmã. E isso era o suficiente para ser considerado bem estranho.

Enquanto analisava aquela família relativamente feliz, lembrei da minha última apresentação, quando descobri a fibromialgia pela primeira vez. Como as coisas estavam invertidas.

Suspirei. Talvez as coisas tivessem sim, mudado um pouquinho.

- Bom dia! – digo me sentando ao lado de meu cunhado.

- Bom dia, querida! Dormiu bem? – perguntou mamãe.

- Sim, muito bem.

- Você ainda vai comigo atrás dos preparativos? – Dafne perguntou um pouco receosa.

- Sim, eu vou. Fica tranquila.

- Não precisa ir se não quiser. – espremeu os lábios.

- Eu quero. Pra impedir que você se arrependa e fuja. – ironizei e ela riu.

- Não se preocupe Clarissa, consegui roubar por inteiro o coração de sua irmã – Philips segurou a mão de sua noiva e eu sorri pelo seu sotaque estrangeiro.

Papai pigarreou. Fechou o jornal, deixando-o de lado, e me encarou com a sobrancelha um tanto franzida.

- Quem é aquele marginal que veio com você Clarissa?

Eu o encarei. Seu Romeu não tinha direito algum de falar mal de Miguel.

- Aquele marginal é meu psiquiatra.

Ele riu debochado.

- Como uma clínica de alto renome é capaz de contratar um marginal inteiro tatuado?

- Talvez, papai, porque eles estejam procurando profissionalismo e não aparência.

- Ora, minha filha! Quais valores um rapaz como este tem a lhe oferecer? No que ele pode dar de conselho? Pichar muros? Fumar um baseado para aliviar as dores? Assaltar um banco? – riu em desdém.

Mamãe, papai, Dafne e Philip prestavam atenção em nossa discussão e nenhum deles ousavam se intrometer. 

- Não papai. Sabe o que um rapaz como ele tem a me oferecer? – devolvi a pergunta – A vontade de viver. A procurar outras coisas que me façam tão feliz quanto tocar violino. A poder acreditar na minha força, devolver minha autoestima. É isso que marginais como Miguel podem me oferecer. Marginais como Miguel, podem enxergar a minha essência, enquanto meus familiares me enxergaram como uma pessoa doente, fraca, louca, debilitada, sendo rotulada como a "fibromiálgica" da família. Quem são os marginais agora? – bati a mão na mesa e levantei-me as pressas. Ouvir aquilo de papai não me faria bem. O nervoso que ele me traria, só prejudicaria meu tratamento. 


Dafne tagarelava sem parar. O caminho todo era ela dizendo que queria cortinas de paetê em todas as janelas do salão, madrinhas de dourado, toalhas de mesa com tecido indiano, cascatas de luzes, arcos de flores em cada entrada e uma banda de rock das mais renomadas.

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