Capítulo 13

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Abril de 2017 – Décima primeira consulta  

[...]O mesmo mesmo dever que prende o servo ao soberano prende, ao marido, a mulher. E quando ela é teimosa, impertinente, azeda, desabrida, não obedecendo às suas ordens justas, que é então senão rebelde, infame, uma traidora que não merece as graças de seu amo e amante? Tenho vergonha de ver mulheres tão ingênuas que pensam em fazer guerra quando deviam ajoelhar e pedir paz. Ou procurando poder, supremacia e força quando deviam amar, servir, obedecer. Por que razão o nosso corpo é liso, macio, delicado, não preparado para a fadiga e a confusão do mundo, senão para que o nosso coração e o nosso espírito tenham delicadeza igual ao exterior? Vamos, vamos, vermes teimosos e impotentes. Também já tive um gênio tão difícil, um coração pior. E mais razão, talvez, pra revidar palavra por palavra, ofensa por ofensa. Vejo agora, porém, que nossas lanças são de palha. Nossa força é fraqueza, nossa fraqueza, sem remédio. E quanto mais queremos ser, menos nós somos. Assim, compreendido o inútil desse orgulho, devemos colocar as mãos, humildemente, sob os pés do senhor. Para esse dever, quando meu esposo quiser, a minha mão está pronta, se isso causar-lhe prazer."

- Um verdadeiro absurdo. Isso sim. Onde já se viu? Ter que ser submissa a um homem. No começo, eu até gostei de Catarina, mas depois, quando li o final, fiquei perplexa.

- Eram os costumes daquela época, borboleta. As coisas mudaram. As coisas mudam. O que era antes, hoje não é. E o que é hoje, antes não era. A evolução da sociedade fez com que as ideologias mudassem. Os costumes mudassem, as novas gerações transformassem as passadas e assim sucessivamente. Mas, o que achou do livro? É uma comédia. A primeira de William Sheakespere.

- A história é legal, tirando esses costumes bestas.

- Ei! Não os julgue pelos costumes. Garanto que eles poderiam achar absurdo a sua rotina de vida.

- Você já falou mil vezes que não gosta do meu estilo de vida. Não precisa ficar repetindo.—disse irritada. – Aliás, quem vive nela, sou eu, e não você.

- Ótimo, novamente chegamos onde eu queria.

- Como assim?

- Quem viveu naquele século foram eles, e não você. Mas, assim como a sociedade evolui, uma ideologia muda, uma borboleta sai de seu casulo, você saíra, dessa sua prisão. A prisão que você mesma construiu. Digamos que você será uma revolucionária diante das circunstâncias em que se encontra.

- Acordou inspirado hoje? Andou lendo história?

- Sempre. É minha matéria favorita.

- Cada louco com a sua mania – soltei dando um leve sorriso.

- O que mais você achou nesse livro? – Miguel sentou-se no banco do jardim da clínica. Ele havia ameaçado a cantarolar ou a me carregar no colo pela clínica inteira caso eu não aceitasse sair do meu quarto.

- Lembrei-me da minha família. Meus pais tinha um pensamento parecido com o pai de Catarina e Bianca. A filha mais velha deve se casar primeiro que a irmã mais nova. – revirei os olhos – Foi uma surpresa para eles que eu estava prestes a quebrar esse ciclo. Mas acho que nenhuma filha de papai irá se casar.

- Por que?

Suspiro e me sento ao seu lado.

- Dafne é uma mulher que não consegue ficar presa em um relacionamento. Ela estava namorando um francês o que durou muito tempo, apesar de viverem brigando. E quando eu falo brigando, coloque objetos voando no cenário e uma Dafne totalmente descabelada. Depois que vim pra cá, não fique sabendo mais sobre o relacionamento deles, mas conhecendo minha irmã, duvido muito que tenha ido para frente.

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