Capítulo 23

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Clarissa

Foi difícil abrir os olhos quando os raios de sol tocaram meu rosto. Cada milímetro do meu corpo doía e eu poderia até me desesperar, mas então, ao sentir o cheiro de Miguel ainda grudado no lençol, não havia do que reclamar. Sorri comedidamente, embora sabia que minha alma dava gargalhadas.

Ele não estava ao meu lado e o sentimento de solidão se instalou. O silêncio do ambiente me incomodava e o fato de eu não conseguir me mexer, mais ainda. E então as famosas três batidas na porta ecoaram e Miguel chegou com uma bandeja em mãos. Tentei me levantar, em vão, e os meus gemidos foram suficientes para que Miguel deixasse o café de lado e viesse até mim.

- Ei! Deixe-me ajuda-la. – com cautela, ele segurou meu pescoço de modo a ajeitar meu travesseiro, e segurou-me no colo , para que eu conseguisse me apoiar com mais facilidade.

Seu toque me fez perceber que eu estava vestida. Provavelmente ele deveria ter me trocado enquanto eu estava praticamente desmaiada. Corei por pensar em Miguel me vestindo.

- O que foi? – questionou ele notando meu estado.

- Uma coisa que me veio a mente. Deixa pra lá. Não precisava ter se preocupado com o café.

- Bem, eu sei fora um dia agitado pra você. E imaginei que estaria exausta quando acordasse.

- Obrigada. – agradeci.

- Eu trouxe um suco de laranja, torradas e umas uvas. E claro, seus remédios.

Meu psiquiatra pegou meus remédios e me ajudou a tomá-los, assim como me alimentava com toda dedicação do mundo, e claro, eu tentava a todo custo, afastar qualquer pensamento negativo diante daquela cena.

- Pronto. Dessa vez foi mais fácil do que a primeira.

- Porque eu estou sem qualquer disposição para contestar alguma coisa. Ou sequer fazer cara feia.

Ele riu.

- Precisamos de mais agitações assim para você parar de ser teimosa então. - Não pude evitar corar de novo. E pensar em repetir a dose de Miguel, fez meu corpo arrepiar. – É...podemos pensar em outros esportes, o que me diz?

- Vai com calma aí. Deixa eu me recuperar primeiro. – grunhi quando senti minha cabeça latejar. – Ai – repousei minha mão sobre minha testa.

- Acho que você precisa de um banho e de relaxar. Melissa vai voltar só mais tarde. Acredito que possa tirar o dia para descansar e vamos embora no finalzinho da tarde.

- Só preciso saber como tomarei meu banho.

- Eu preciso de um banho também. – sorriu com os olhos.

- Miguel, não precisa...

- Relaxa. Nada do que eu já não tenha visto.

- E tudo bem pra você? – engoli seco.

- Depois conversamos sobre isso, está bem?

Balancei a cabeça.

Assim que terminei meu café da manhã, Miguel me segurou no colo novamente, levando –me até o banheiro e, cuidadosamente tirou a única peça que me cobria. Sua respiração estava ofegante e isso me excitava de forma absurda. Xinguei mentalmente o fato de estar impossibilitada, ou montaria em seu colo sem pensar duas vezes.

- Ah borboleta. – ele fechou os olhos deixando escapar um suspiro. – Venha! – conduzindo-me para de baixo do chuveiro.

Sentir aquela água quente em contato com minha pele só aumentou meu desejo por Miguel, e vê-lo ali, tão vulnerável, não ajudava em nada. Pude sentir que ele também fazia um esforço enorme, mas não havia malícia em seu toque. Pelo contrário, apensa de engolir com dificuldade diversas vezes, Miguel estava concentrado, como se qualquer descuido fosse um perigo para nós dois. E de fato seria, se meu corpo não estivesse implorando por cama.

Ensaios de borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora