Capítulo-16

104 4 2
                                    

- Sexo é o novo preto.

Capítulo 16

Estou tomando um drinque no Marion's Marquee Lounge, da rua Bowery, na happy hour, enquanto Atração fica embaçando, filosofando sobre o atual estado do amor.

-O amor está fora de moda - continua. - É antiquado. Como sorvete feito em casa, saias rodadas e carruagens puxadas por cavalos. É pitoresco, mas impraticável. Homens e mulheres não têm mais tempo para o amor. Em vez disso, dão algumas risadas juntos, tomam umas biritas, fazem sexo e acham que encontraram o amor. Basta dar uma olhada neste lugar.

Olho ao redor do salão repleto de pequenas mesas redondas e luminárias antigas e homens e mulheres reunidos sob a penumbra, compartilhando drinques, conversas e tensão sexual. Estou aqui à procura de algumas respostas sobre relações humanas, na esperança de receber alguma dica de alguém como Amor ou Romance ou Afeição, mas Atração se ofereceu para me pagar uma bebida, então não pude mesmo me livrar dele.

O problema de Atração é que ele é um narcisista.

- Cada um desses humanos vêem outra pessoa imaginando que possa ser o companheiro perfeito -, diz Atração sorrindo para si mesmo sob um ponto de luz, nas proximidades. - Mas suas percepções são distorcidas pela paixão pela pessoa que está sentada à sua frente, seus olhos e pensamentos tomados pela paixão e pelo desejo. Entende o que eu quero dizer?

Ele aponta em direção a um dos cantos, onde Paixão e Desejo estão O problema do Desejo é que ela é obsessivo-compulsiva.

- Agora, Amor tentará embaçar seu bom senso com baboseiras como puro, imutável amor - ele fala, examinando seus perfis em seu copo alto, meio vazio. - Mas os humanos se apaixonam uns pelos outros apesar de suas faltas e deficiências. Quando se trata de Atração, Desejo, Paixão e Luxúria, esses defeitos desaparecem. Diabos! Somos os verdadeiros óculos de fundo de garrafa, meio zonzos, vendo as coisas distorcidas.

O homem de vinte e nove anos de idade na mesa ao nosso lado é tão bonito quanto Vaidade e tão transparente como Incompetência, mas isso não tem importância para a mulher de trinta e quatro anos com quem ele está e que não pode parar de pensar sobre como ele é bonito. Ela não vai continuar pensando nisso daqui a dezoito anos, quando seu marido estiver desempregado e seus dois filhos adolescentes estiverem tendo aulas particulares, para recuperação.

- A maioria dos humanos se casa hoje por paixão ou desejo - comenta Atração, debruçando-se para observar a sua imagem refletida na reluzente superfície da mesa. - Especialmente aqueles que se encontram sob o efeito de alguns gins-tônicas. Geralmente, você não encontra o amor em bares. De qualquer forma, não na parte inferior de Manhattan.

Antes que eu possa fazer um comentário, Atração se inclina e diz: - Falando no diabo...

Quando um de nós diz "Falando no diabo", não raro a gente vê o próprio Satanás entrando. E quando isso acontece, é melhor ficar na sua. Você não vai querer ver o lado ruim de Satanás, especialmente agora que ele está tentando parar de fumar.

Nesse caso, de qualquer forma, Atração estava falando no sentido figurado.

Ao contrário da mitologia popular, Amor não é um ser alado e nu, lançando flechinhas para os mortais e fazendo com que se apaixonem. Em vez disso, ela usa uma pantalona preta com uma capa de veludo negro e se parece mais com Judy Garland no filme Nasce uma estrela.

- Aqui entre nós - diz Atração, inclinando-se para sussurrar - eu acho que ela podia fazer uma boa transformação.

O problema de Amor é que ela é codependente.

DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora