Capítulo-20

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Estou em um bar em Duluth, Minnesota. Não exatamente minha primeira escolha de um ótimo lugar para ir, mas é onde Darren Stafford passa a maior parte de seu tempo desde que perdeu seu emprego, no colégio onde ensinava biologia - isso sem mencionar sua casa, sua esposa, seu autorrespeito e o processo de paternidade movido contra ele por uma brilhante aluna sua, de dezessete anos de idade. Então, embora seus dois filhos adolescentes estejam quase terminando o colégio, ele ainda terá de pagar pensão pelos próximos dezoito anos.

Felizmente para Darren, a maioridade em Minnesota é aos dezesseis anos, o que significa que ele não perdeu sua liberdade por transar com uma de suas alunas. Entretanto, se ela fosse uma galinhona americana, uma coruja nevada, uma fêmea de chapim boreal ou de mergulhão, Darren teria de ficar em liberdade condicional durante seis meses e ainda prestar cem horas de serviço comunitário, pois a legislação de Minnesota proíbe o sexo entre humanos e pássaros.

Não estou inventando isso não.

Pervertidos como os humanos são, eu sempre me surpreendo como eles vão longe para satisfazer seus desejos. Mesmo assim, é espantoso imaginar que alguém possa olhar para um corvo, um beija-flor ou uma carriça de peito vermelho e dizer: "Hummmmmmmmm, eu gostaria de pegar um desses".

Até onde eu sei, Darren Stafford não é um homem de bico e penas, mas sim um homem Jim Bean, o uísque. E, agora mesmo, ele está quase terminando a segunda rodada do dia, que ainda não chegou às doze horas de idade.

- O que vai querer? - pergunta o barman, um mixologista de quarenta e nove anos, que seguirá essa carreira até que morra de câncer do pulmão antes de completar os sessenta.

Jim Beam - digo, sentando-me a poucos bancos de distância de Darren. - Puro.

Odeio beber álcool à temperatura ambiente ou sem gelo, mas aprendi que não posso esperar que os humanos acreditem em mim quando lhes conto o que vai acontecer com eles, então trato de desenvolver um pouco de confiança da melhor forma para que possa dar o meu recado.

Darren Stafford dá uma olhada para o balcão, levanta seu copo quase vazio para mim, depois liquida o resto de seu Jim Beam com um só gole. - E para ele, o que está bebendo - falo para o barman.

- Prepare um duplo - diz Darren, enquanto vem para um banco mais próximo.

Admito que pegar Darren Stafford não foi uma escolha aleatória como Amanda. Mas a próxima pessoa em minha Lista de Humanos Idiotas a Ajudar vive em Dakota do Norte, então saltei sobre a Terra dos Dez Mil Lagos para ver como estava passando meu desgraçado professor colegial de biologia favorito. - Semana dura - digo.

- Você não tem idéia - fala Darren.

Nada como comprar um drinque para um bebedor solitário para torná-lo seu melhor amigo. A menos, é claro, que você lhe pague dois ou três. As bebidas chegam e Darren derrama sua história para seu mais novo melhor camarada, o que é mais uma história em sua defesa do que eu poderia imaginar. Trata-se de quase um conto de fadas de amor e inocência e traição, em vez de uma decisão real e idiota da parte dele.

Isso, junto com sua atitude de tirar vantagem de minha generosidade pedindo um duplo e o fato de que eu simplesmente mal consigo engolir meu drinque sem vomitar no copo, me faz questionar por que estou tão dedicado a salvá-lo de seu caminho de desespero etílico. Até que ele subitamente se desmorona e começa a chorar.

- Ouça - eu digo, colocando um braço em seu ombro, para lhe oferecer conforto.

Salvo as mulheres mortais com que tenho feito sexo durante milênios, eu evito tocar os humanos. Os meus humanos, de qualquer forma. Não tanto pela textura de seus corpos, mas pelas qualidades que deles emanam. Como tocar carne fresca brilhando de suor e emitindo um odor fétido.

DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora