Capítulo-38

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Chegar à conclusão de que a mulher mortal de quem você se enamorou está destinada a ser fecundada por Deus tende a ter um efeito adverso em sua habilidade de se concentrar quando está fazendo sexo.
- Fábio? - diz Sara, deitada nua na cama embaixo de mim. - Há algo de errado?
- Não - digo, olhando para ela. - Por quê? - Porque você ainda está de roupa.
Pode me chamar de antiquado, mas estou me sentindo um pouco desconfortável para tirar minhas roupas. Sei que não deveria me sentir culpado com a idéia de começar a fazer sexo com Sara, mas não consigo me ajudar. É como se fosse trapacear, ficando com a namorada do seu melhor amigo, sendo esse melhor amigo o todo-poderoso criador do universo.
Sara, por outro lado, não sofre de nenhum dilema sexual e me vira na cama, depois abre o zíper e tira minhas calças e cuecas, antes de subir em cima de mim. Fecho meus olhos e tento aproveitar o momento, mas minha mente continua vagando, com pensamentos sobre Maria e José e o pequeno bebê Jesus olhando para mim e balançando a cabeça, em desaprovação.
É verdade que não tenho nenhuma prova definitiva de que Sara é realmente a mãe do próximo Messias, mesmo assim, não é fácil para mim pensar sobre o significado disso se eu estiver certo.
É suficientemente ruim imaginar que estou fazendo sexo com a futura geradora do Messias. Mas não sou capaz de me livrar da imagem de Jerry usando uma jaqueta de smoking combinada com calcinhas de biquíni de seda, desfrutando a gravação de Barry White, cantando "Não posso ter o bastante de seu amor, querida".
Enquanto Sara continua a montar minha vestimenta humana, eu tento evitar pensamentos sobre Maria e o Messias e Barry White, concentrando-me em Sara e seu corpo nu. Mas é difícil manter-me focado porque eu continuo a imaginar Sara repleta da glória de Jerry.
Aparentemente, Sara percebe que estou distraído e olha para mim. - Tem certeza de que está tudo bem? Balanço a cabeça e respondo: - Estou perfeito
Sara continua a movimentar seus quadris para cima e para baixo, me observando. É o que basta para me fazer contar a verdade a ela, mas isso seria má idéia. Quero dizer... vamos lá. Se você imagina que alguém está destinada a carregar o próximo Messias, você gostaria de ser a pessoa que vai contar isso? - Como era Cleópatra? - Sara pergunta. - O quê? - digo.
- Na cama - Sara continua. -Era boa?
Esse é outro daqueles momentos em que dizer a verdade é má idéia. - Não tão boa como você - afirmo.
Sara sorri, fecha os olhos, aumentando seu ritmo. - Finja que eu sou Cleópatra.
Esta não é a primeira vez que Sara me pede para imaginar que ela é uma das mulheres mortais com quem eu já dormi - Nefertiti, Catarina, a Grande, Marilyn Monroe. Eu a satisfaço porque isso a deixa feliz. Mas é suficientemente ruim que eu tenha quebrado as regras ao revelar minha identidade a ela. E agora estou fazendo sexo bizarro com a futura mãe do Messias.
Fico imaginando como é que isso vai constar no meu currículo.

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