1.2 | Olhos verde esmeralda e cobertura de luxo

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A L I C E

— Não imaginei que você fosse do tipo que foge no dia seguinte.

Sua voz rouca pós-sono quebra o silêncio constrangedor que havia se instalado no ambiente. Apesar disso, a tensão ainda se fazia tão presente que era quase como se pudesse ser palpada.

Ele percebeu que eu queria sair correndo? Estava tão nítido assim que eu queria fugir?

Suas duas piscinas esverdeadas me fitam de uma forma perigosamente intimidadora, como se estivesse curioso para descobrir qual seria o meu próximo passo.

Engulo em seco, nervosa.

Eu poderia fazer várias coisas neste exato momento. Muitas delas racionalmente. Mas confesso que, aos meus olhos, a mais tentadora dentre as diversas opções que eu tinha era, também, a mais covarde: sair correndo sem olhar para trás.

Infelizmente não executei a tarefa como gostaria.

Quando finalmente me dou conta de que estou vestindo apenas roupas íntimas e que seus olhos me estudam sem um pingo de pudor, acabo agindo sem pensar. Tomada pela vergonha, me vejo fazendo a primeira coisa que minha cabeça desmiolada pensa: puxando o cobertor que o cobre em minha direção.

Eu só queria me sentir menos exposta.

Mas acontece que nem me passou pela cabeça que ele estaria...

Sem roupa.

— Ai, meu Deus! — grito, fechando os olhos.

Me enrolando no cobertor de forma desajeitada, forço meus pés a se movimentarem e fico de costas para a imagem do cara nu que eu acabei acidentalmente vendo.

A opção de sair correndo sem dizer nada? Acaba de se tornar três vezes mais tentadora agora.

— Me desculpe, não sabia que você estava pelado. Eu só... — paro a frase no meio, sentindo meu coração palpitar dentro do peito.

Puxo o ar lentamente pelo nariz enquanto levanto a cabeça e encaro o teto, soltando-o pela boca em um ato nada discreto.

Percebo, pela minha visão periférica, sua sombra movimentando-se atrás de mim, e a ideia de tê-lo se aproximando me faz abrir a boca instintivamente:

— Eu só queria me cobrir. Não imaginei que você estivesse sem roupa. Quer dizer, quem dorme pelado? E-eu... — gaguejo. — Me desculpe, você poderia se vestir? Por favor, eu ficaria bem mais confortável. Realmente não tinha intenção nenhuma de fazer isso. Digo, te ver... Você sabe, pelado. Pra ser sincera, nem cheguei a ver nada. Fechei meus olhos no segundo seguinte, eu juro. Você precisa acreditar em mim.

Termino ofegante, sabendo que havia falhado miseravelmente na missão de parecer uma adulta que sabe agir bem em uma situação como essa. Minha voz trêmula e o meu desespero com certeza me entregavam.

A sombra continuava se movimentando atrás de mim. E parecia estar cada vez mais e mais perto. A angústia e ansiedade me tomando por completo.

— Moço, pelo amor de Deus. Você precisa se vestir. — sibilo, desesperada. — Você tem um corpo bonito, eu sei, mas... Não estou interessada. Olha, por favor, não chegue perto de mim. Eu nem sei quem é você. Não faço a mínima ideia de como vim parar aqui.

Me arrependo de ter aberto a boca logo depois de terminar a frase.

Corpo bonito? Jura?

Não tinha nada mais apropriado para dizer, Alice?

Mordo meu lábio inferior após escutar uma risada alta ecoar pelo cômodo.

Pelo menos alguém estava se divertindo por aqui.

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