15.2 | Eu não sou imune ao medo

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A L I C E

Eu teria tomado umas cinco ou seis taças de gin, se não estivesse dirigindo.

Porque só bastante álcool para me fazer relaxar.

E me ajudar a esquecer, pelo menos momentaneamente, a sensação de ter os dedos de Enzo deslizando por minhas costas.

Não foi um toque de pele contra pele. Seus dedos grandes e quentes tocaram-me sutilmente por cima do tecido grosso do meu blazer. Mas mesmo assim.

Mesmo que naquele momento tenha existido uma barreira entre as nossas peles, o seu toque foi o suficiente para me deixar completamente perturbada.

Ele foi bastante cuidadoso. Cauteloso, eu diria. E pelo ângulo em que estávamos, muito provavelmente ninguém viu quando ele resolveu aproximar sua mão do meu corpo.

Mas Giovana viu o suficiente.

Ela viu a forma como ele se aproximou de mim, me oferecendo o guardanapo.

Observou, com seus olhos de águia, enquanto Enzo inclinava-se para sussurrar perto do meu ouvido.

E não deixou de perceber o sorriso divertido nos lábios dele depois que ele se afastou.

Bufo, impaciente. Envergonhada.

Faz mais de uma hora que arrumei uma desculpa qualquer e me afastei da rodinha. Corri para o banheiro o mais rápido que pude e joguei água por todo o meu rosto, limpando qualquer vestígio de restos de comida que pudessem estar por ali e tentei, inutilmente, amenizar o rubor em minhas bochechas com a água gelada. Assisti toda a minha maquiagem descer pelo ralo, sem me importar muito com o fato de estar com a cara lavada. Pelo menos não estava mais suja.

Agora estou parada no meio de um monte de colegas de trabalho e estranhos, pensando em como sou azarada.

Porque pareço sempre tão desastrada quando Enzo está por perto?

— Você já viu as estrelas? — Théo interrompe meus pensamentos, passando o braço desengonçadamente por meus ombros e me abraçando de lado. — Elas estão tão lindas.

— E você está tão bêbado. — digo, encarando-o de soslaio.

Queria estar bêbada, também.

— Você precisa ver as estrelas, Ali. — ele insiste. — Tem vários telescópios por aqui, você já os viu? Eles são enormes!

Assinto.

— Consigo vê-los daqui. — murmuro. — Ainda não fui até o gramado. Tem muita gente lá, prefiro ficar por aqui mesmo.

— Acho que quero comprar uma estrela. — ele ignora completamente que eu disse e muda de assunto. — Vou dar o meu nome para uma, o que você acha?

Dou risada, cutucando-o levemente entre as costelas.

— Sinto muito em te desapontar, mas seu nome não combina muito com uma estrela, Théo.

Ele franze a testa e me encara com as pálpebras semicerradas.

— Como é?

Théo parece bastante indignado quando deixa de me abraçar e cruza os braços em frente ao peito.

Ele está apontando o dedo bem no meio da minha cara quando continua:

Théo. — estala a língua. — Olha só como soa. É claro que combina, Alice! Tem que ser uma estrela bem grande e brilhante para fazer jus ao meu nome. — sorri, grogue, bebericando um pouco de seu uísque. Esse deve ser o sexto ou sétimo copo dele. — Theodoro.

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