20.1 | Dose dupla de uísque

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A L I C E

— Não acredito que você mentiu pra mim!

Betina anda impacientemente de um lado para o outro, o barulho irritante de seus saltos reverberando pelo escritório minimalista e impecavelmente decorado, agora devidamente iluminado.

— Não acredito que você mentiu pra mim! — retruco.

Ela morde a bochecha, nervosa, jogando-se teatralmente sobre a pequena poltrona preta.

A mesma poltrona que Enzo e eu estávamos, há apenas alguns minutos.

Preciso me esforçar muito para não relembrar vividamente em um looping vergonhoso o momento íntimo que tivemos agora há pouco.

A imagem desnecessariamente atraente do seu corpo grande e másculo por baixo do meu ainda está bem fresca na minha memória.

Seus lábios carnudos e aveludados acariciando os meus.

Meus dedos perdidos em algum lugar no meio de sua nuca, enrolando-se cada vez mais e mais em seus fios de cabelo macios.

Minhas mãos...

Suas mãos...

Tão grandes.

Tão fortes.

Tão...

Não.

Meu Deus, não.

Não é hora de pensar nisso.

Tenho coisas mais importantes a tratar, agora.

Não posso fazer isso.

Não posso ficar pensando igual uma boba em como me agarrar com meu chefe tinha sido delicioso.

Delicioso em níveis extremos e perigosos. Catastróficos.

— Eu não menti. — Betina tenta se defender, interrompendo minhas divagações internas. — Apenas omiti.

Reviro os olhos, ultrajada.

— É a mesma coisa, Betina.

Ela nega, balançando a cabeça de um lado para o outro. Parecia menos embriagada agora, o que me tranquilizava um pouco.

— Não é.

— É, sim. — alfineto.

— Chega disso, por favor. Não seja hipócrita.

Arqueio as sobrancelhas, atônita.

— Hipócrita?

— Convenhamos, Alice... — ri, debochada. — Você estar transando com nosso chefe é bem mais significante do que eu estar transando com o seu estagiário.

Eu não estou transando com ninguém!

Faço uma careta, repuxando meus lábios em um bico de desgosto.

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