A L I C E
Enzo viu minha calcinha.
Meu Deus, ele realmente viu minha calcinha.
Meu. Chefe. Viu. Minha. Calcinha.
Minha calcinha branca de renda.
Sinto uma onda de um calor desesperador dominar meu corpo e me concentro em respirar fundo enquanto ligo o carro e saio da vaga.
Eu me sinto nervosa por tantos motivos que não sou nem capaz de listá-los.
Confesso que não dirijo tão bem assim. Mas especialmente hoje, eu preciso dirigir. Porque tem um cara importantíssimo sentado ao meu lado que precisa chegar sã e salvo no evento, sem nenhum arranhão.
Bom, pelo menos Elvis foi obediente hoje e ligou de primeira. Isso me impediu de passar mais uma vergonha.
— Eu... Eu costumo deixar algumas trocas de roupa dentro do carro. — me explico, envergonhada. — Elas são limpas.
Não sei porque estou me justificando. Mas a ideia de Enzo pensar que eu deixaria calcinhas sujas espalhadas pelo meu carro me deixa completamente desesperada.
Nem parecendo perceber o pânico presente em meu corpo, ele assente.
— Entendo.
Não deixo de notar a forma como ele se segura junto ao banco, suas mãos enormes e másculas apertando com força o couro velho e destruído do assento.
Ele está com medo?
Eu nem saí de dentro da garagem e já estou assustando-o?
— Não devo ser tão boa no volante quanto Júlio, mas eu juro que não comprei minha CNH. — digo, tentando tranquilizá-lo. — Passei de primeira na prova prática, sabia?
Se Mariana estivesse aqui agora, ela muito provavelmente começaria seu discurso, pontuando todos os diversos motivos pelos quais eu devia ter reprovado na prova prática do Detran.
Ainda bem que estamos só nós dois.
Olho rapidamente em sua direção, apenas para encontrá-lo com os olhos perdidos pela garagem. Parece estar procurando por olhares curiosos, preocupado com a possibilidade de ser visto dentro do meu carro.
Eu precisava fazer alguma coisa em relação à isso urgentemente ou não me surpreenderia nem um pouco caso ele tivesse um AVC bem aqui, do meu lado.
— Se serve de consolo... — continuo meu monólogo. — Acho que somos os únicos aqui, na empresa.
O que significa que ninguém vai nos ver juntos.
Ninguém além do segurança que fica na guarita.
Droga.
Respiro fundo, me aproximando da guarita do estacionamento. Vou diminuindo de velocidade gradualmente até parar de vez.
Enzo, do meu lado, me encara com os olhos arregalados.
— O que você tá fazendo?
Ignoro sua pergunta e abaixo meu vidro. Ele é manual, então perco alguns segundos no processo.
Enfio parcialmente minha cabeça para fora e encontro um homem parado dentro da guarita. Seus olhos, confusos, me encaram de volta. Ao encontrar Enzo sentado ao meu lado, suas sobrancelhas arqueiam-se de forma automática. Ele está surpreso.
— Oi. Marcos, certo? — pergunto, assistindo-o concordar com a cabeça em um gesto tão rápido que quase fico tonta.
— Isso. — ele abre um sorriso sem dentes e continua: — Sou eu. Marcos.
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ACASO
RomanceEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...