2.1 | Do you get déjà vu?

473 51 34
                                    

A L I C E

Déjà vu.

Não, não estou falando da música da Olivia Rodrigo. Apesar de ouvir frequentemente.

Este é um termo em francês bastante utilizado quando temos a sensação de estar vivendo no presente algo que já vivemos no passado.

Agora, neste exato momento, essa sensação me dominava. E era estranhamente diferente de todas as vezes que senti algo parecido.

Abaixo a cabeça e analiso minha aparência pela milésima vez. Enquanto passo as mãos rapidamente por meu terninho cinza e o ajeito em meu corpo, tento pensar positivamente. Eu estava elegante e meus sapatos de salto alto combinavam perfeitamente com a roupa. Não tinha motivos para me preocupar.

Me vejo sorrindo sozinha, tentando inutilmente me encorajar enquanto levanto a cabeça e forço meus pés a se movimentarem rumo ao meu destino.

Da última vez que pisei neste lugar, eu tinha acabado de entrar na faculdade e ainda era uma garota jovem e inexperiente. Para ser mais precisa, há seis anos atrás.

Hoje, sou uma mulher formada e independente. Segura de si — pelo menos na maior parte do tempo. E uso terninhos, também. Minha mãe praticamente me obriga. Ela diz que minha aparência é a minha empresa, e que devo estar sempre muito bem vestida como uma grande mulher de negócios deve estar.

É claro que ainda tenho um longo percurso para me tornar uma grande mulher de negócios. Mas eu gosto de imaginar que estou no caminho certo.

Trabalho para a FL há quase quatro anos, uma empresa focada em sustentabilidade que me ensinou muito do que sei atualmente. Iniciei como estagiária quando ainda estava na faculdade, sendo efetuada logo depois de me formar. Confesso que trabalhar no Departamento de Administração me permitiu agregar muito conhecimento. Hoje sou confiante no que faço. 

Mas agora a minha vida profissional acabou mudando completamente e de forma totalmente inesperada. Sendo bem sincera, eu não estava me sentindo tão confiante assim.

Um mês atrás, meu chefe nos surpreendeu com um comunicado. Agora, a FL tinha uma nova sociedade: uma enorme companhia de hotéis. Eles queriam inovar no mercado e, apesar de já serem muito bem sucedidos e reconhecidos no ramo, procuravam uma nova faceta. Energia sustentável era perfeito para eles.

Isso seria bom para ambas as empresas, já que uma sociedade como esta seria ótima para a FL também. Em termos de visibilidade e, principalmente, economia.

Desta forma, um representante de cada setor da nossa empresa seria transferido para outra sede.

Naquele dia, quando fui chamada até sua sala, eu não esperava escutar aquilo.

— Alice, acredito que não seja novidade para ninguém que eu acredito fielmente no seu potencial.

Ouvir aquilo era, de certa forma, muito reconfortante. Célio, um homem de cinquenta e poucos anos que suou muito para construir sua empresa era, sem sombra de dúvidas, uma grande inspiração para mim. Principalmente pelo sucesso que seus esforços conquistaram. Hoje, ele era CEO da FL e reconhecido internacionalmente por seu trabalho. 

— Agradeço pela sua confiança, senhor. Estou disposta a sempre dar o meu melhor no trabalho.

Seus dentes amarelados devido o tabaco e excesso de cafeína ganham espaço em um sorriso pequeno que me tranquiliza um pouco.

Admito que estava um pouco nervosa, já que ser chamada até a sala do chefe não era algo muito frequente na rotina dos funcionários. De duas, uma: ou você receberia uma notícia muito boa, ou receberia uma notícia muito ruim. Estava torcendo para que fosse a primeira opção.

ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora