16.2 | Encontrosos amorosos no almoxarifado

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A L I C E

— Eca.

Faço uma careta ao ver Felipe dando grandes goladas em sua bebida proteica de coco com batata doce.

E o pior: ele realmente gosta dessa combinação estranha.

— Não tire conclusões precipitadas. Antes de qualquer coisa, você precisa experimentar. — olhando para mim, ele indaga: — Quer? Tenho mais uma dessas na minha mochila.

— Não, obrigada. — enrugo o nariz e bebo um gole do meu café preto sem açúcar. — Prefiro não arriscar.

Felipe dá de ombros.

Estamos sentados no pequeno refeitório comunitário da empresa, aproveitando nossos quinze minutinhos de intervalo da tarde. Ele já tinha comido tanta coisa nesse meio tempo que, honestamente, eu não conseguia entender onde toda essa comida ia parar.

— É gostoso. — lambe os lábios, terminando de beber a gororoba até a última gota. — Vai por mim, Alice. Além de saudável, é uma delícia.

Nego mais uma vez, balançando a cabeça.

Eu admito, ele estava bastante empenhado no seu projeto maromba. Nos últimos dias, trouxe marmitas saudáveis e comeu mais ovos do que eu poderia contar.

De três em três horas, comia alguma coisa diferente. Ele contava. Não atrasava nem um minuto. Era tão regrado que colocava o celular para despertar.

"Não posso catabolizar", ele se justificava. Algo sobre perder massa muscular se você não se alimentar.

— A fatura do seu cartão de crédito não vem muito alta? — Betina indaga, encarando Felipe com curiosidade enquanto ele descasca uma banana. — Você come feito um boi.

— Uso o ticket alimentação. — ele responde de boca cheia.

Sentada de frente para nós dois, a advogada dá de ombros, conformada, e desliza os olhos até seu celular, digitando alguma coisa rapidamente.

Eu os apresentei há alguns dias. Desde então, nós somos três. Almoçamos juntos e bebemos nossos cafés — e, no caso de Felipe, bebidas proteicas — toda tarde, juntos também.

— Tenho dó dos seus pais. — aperto a cerâmica da xícara ao redor dos dedos, aquecendo as palmas das mãos com o quente que emana do café.

Ele franze a testa em minha direção.

— Dó?

— Com o tanto de ovo que você anda comendo, os gases não devem ser nada sutis. — faço uma careta e Betina ri. — Morar na mesma casa que um marombeiro deve ser um castigo.

Felipe não nega, apenas solta uma risada.

— Ossos do ofício. — sorri, seus dentes metalizados à mostra. — Mas já ganhei trezentas gramas, sabia? Está valendo a pena.

Ele parece verdadeiramente animado e orgulhoso de si mesmo.

— Parabéns. — sorrio, terminando de beber o restante do meu café. — Mas não consigo não pensar no quanto isso é injusto. Você têm tanta dificuldade para ganhar algumas gramas. Já eu engordo quilos e mais quilos só de pensar na comida.

— Eu também! — Betina murmura, largando o celular em cima da mesa e bebendo um gole de café. — É triste, mas não consigo sair do quarenta e quatro, por mais que eu tente. Depois que engravidei meu corpo nunca mais foi o mesmo.

Felipe acaba de comer sua banana lentamente, dividindo o olhar entre nós duas.

— Vocês estão bem assim. — diz, analisando-nos brevemente. — As duas.

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