E N Z O
Alice usou saia três vezes essa semana.
Eu contei.
Não sei exatamente o que isso significa, mas só pode ser algum tipo de provocação.
Nunca imaginei que saias pudessem ser uma distração tão forte assim. Mas aparentemente elas são.
Hoje ela está usando uma branca.
A peça, de cintura alta e tecido fino, é um pouco mais larga do que as outras, caindo em camadas rodadas e fluidas por suas coxas.
A camisa, branca também, com todos os botões metodicamente fechados, brinca com a minha imaginação. Me vejo, de forma quase automática, abrindo-os; expondo um pouco mais da pele clara e bonita de seu colo.
Estou enlouquecendo.
— É uma boa estratégia. — digo, fingindo analisar os gráficos à minha frente.
— Sim. — Alice assente, cruzando as pernas cuidadosamente e girando sobre a cadeira de rodinhas. A proximidade entre nós e a saia que ela está usando não me ajudam em nada, tornando praticamente impossível desviar o olhar. — A Equipe de Marketing acredita bastante nessa proposta. Acho que trará bons resultados.
Giovana, sentada à sua esquerda, apoia o queixo sobre as mãos e inclina a cabeça para o lado, pensativa.
— Também acho que é uma boa estratégia. — dá de ombros, enrugando o nariz em uma careta quando me encara. — Pode melhorar consideravelmente as nossas avaliações.
Felipe, o estagiário da Administração, me observa com as sobrancelhas arqueadas e a feição surpresa. Acho que preciso me esforçar um pouco mais para parecer concentrado e interessado na conversa. Devo ter perdido alguns segundos encarando as pernas de Alice e tenho quase certeza que ele percebeu.
Solto um pigarro, me ajeitando sobre a cadeira.
— Inauguramos o novo hotel há pouco tempo, mas, na verdade, os resultados são bem positivos. — ele diz, seus olhos amendoados fixos nos meus. — Clientes satisfeitos, avaliações cinco estrelas... Acredito que essa estratégia de publicidade pode aumentar ainda mais a nossa visibilidade. E quanto mais visibilidade, melhor.
— Certo. — ajeito minha gravata. — Acho que entramos em um consenso, então. Eu aprovo a proposta. Já podemos dar início ao trabalho.
— Ótimo. — Giovana murmura, parecendo mais interessada no esmalte descascado da ponta de suas unhas do que nas pessoas ao seu redor. Não a julgo. Eu estava exatamente assim com as pernas de Alice. Talvez pior.
— Podemos finalizar por hoje. — tento sorrir, conferindo as horas no meu relógio de pulso. — Vejo vocês amanhã?
Os três, sentados de frente para mim, concordam com um movimento afirmativo de cabeça.
— Vou informar a Equipe de Marketing. — Felipe diz antes de se levantar.
Aceno em resposta antes de vê-lo sair da sala de reuniões, despedindo-se brevemente.
Giovana permanece sentada, agora entretida com algo em seu celular, as costas apoiadas despreocupadamente no encosto da cadeira.
Alice, em contrapartida, começa a ajeitar seus pertences e arrumá-los em uma pequena pilha antes de se levantar, também. Parece um pouco desesperada para ir embora.
Arregalo os olhos e acabo agindo sem pensar. Antes que ela tivesse tempo de sair e me deixar sozinho com Giovana, digo:
— Alice?
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ACASO
RomanceEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...