A L I C E
Eu sou uma pessoa acostumada a frequentar jantares de negócio. Uma mesa enorme composta por diversos executivos faz parte da minha rotina de forma bastante corriqueira.
Mas curiosamente, esta era a primeira vez que eu via a cadeira reservada ao CEO da empresa vazia.
Célio, sentado um pouco mais a frente, parecia bastante impaciente. Encarava o seu relógio de pulso a cada cinco minutos, tentando disfarçar sem muito sucesso sua infelicidade. Quem o conhecia, sabia perfeitamente bem que ele estava prestes a explodir. Eu podia dizer isso pela forma como suas narinas abriam-se exageradamente e a respiração pesada saia por seus lábios cerrados.
Se existe algo que meu chefe realmente odeia, é esperar. Ele é quase tão pontual quanto os ingleses. Talvez até mais. Um minuto de atraso já é motivo para uma grande advertência no trabalho. E conviver com ele durante todos estes anos me fez tornar, de certa forma, um reflexo feminino dele. Também odiava ficar esperando.
— Algo deve ter acontecido. — Betina sussurra enquanto se curva em minha direção. Ela estava sentada ao meu lado e também parecia nervosa com a situação. Conhecia Célio muito bem, assim como eu. Nenhuma de nós estava afim de vê-lo surtando.
Realmente deve ter acontecido algo, concluo mentalmente enquanto pego minha taça de vinho branco e tomo um grande gole, estudando o ambiente ao meu redor.
— Faz mais de meia hora que estamos esperando. — sussurro de volta.
Enquanto esperávamos, todo mundo se apresentou e Célio fez um pequeno discurso. Os garçons serviram a entrada logo em seguida, um prato muito sofisticado e que sinceramente não entendi o conceito. Honestamente, nunca tive muito entendimento de culinária. Principalmente quando falamos de restaurantes luxuosos como este.
Encaro o prato à minha frente. Enfeitado demais e, sendo bem sincera, sem graça demais. Não me atrevi a comer mais do que duas garfadas, tinha um gosto bem exótico.
— Isso é estranho, Alice. — ela volta a dizer, chamando minha atenção para si. Encaro seus enormes olhos castanhos e coloco minha taça novamente sobre a mesa. — Pelo que ouvi dizer, ele é um homem muito pontual.
— Percebi. — murmuro, irônica. — Mais dez minutos e Célio estará soltando fumaça pelas narinas.
— Eu diria que cinco, no máximo. — me corrige, buscando nosso chefe com os olhos. Ele batucava impacientemente os dedos sobre a mesa. — Da última vez que isso aconteceu não foi muito legal. Eu quase fiquei surda.
Solto uma risada nasalada, assentindo.
— Meus tímpanos já estão acostumados. — dou de ombros. — Quase quatro anos na empresa os fizeram ficar calejados.
Como Betina tinha entrado bem depois de mim na FL, ainda ficava um pouco surpresa com os surtos que Célio tinha vez ou outra.
— Estou falando sério. Apesar de jovem, ele sempre foi muito comprometido com o trabalho. — volta ao assunto anterior. — Eu pesquisei. Realmente deve ter acontecido algo.
Assinto.
Me sinto verdadeiramente culpada por não ter pesquisado nada sobre meu novo chefe. Sinceramente, não tive muito tempo para isso. Com toda a questão da transferência e precisando terminar meus trabalhos em tempo recorde antes de mudar de empresa, eu mal tive tempo de me alimentar e dormir direito.
Mas confesso que estava esperando por um cara mais velho. Da mesma idade de Célio, talvez. Com cabelos grisalhos e um pouco calvo.
Pelo visto o julguei de forma muito, muito errada.
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ACASO
RomanceEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...