A L I C E
— Não acredito que tive coragem de sair de casa assim.
Concluo sem esforços após encarar minha imagem no espelho do banheiro. Digna de pena.
Meus fios de cabelo, ainda levemente úmidos, formavam nós que se embolavam uns aos outros.
Eu felizmente tinha uma escova dentro da bolsa, mas não foi uma tarefa fácil desembaraçá-los. Afinal, lidar com minhas ondas rebeldes era um trabalho complicado. Perdi alguns bons minutos nisso, me empenhando ao máximo para parecer pelo menos apresentável.
Enfiei a toalha de qualquer jeito dentro da bolsa e passei apenas um batom levemente rosado nos lábios, tentando não parecer tão pálida. Saí do banheiro em seguida, conformada. Era o melhor que poderia fazer no momento.
— Alice! — reconheço rapidamente a voz de Felipe, que segundos depois se materializa bem na minha frente.
— Sim? — questiono, continuando meu percurso até a copa. Eu precisava urgentemente de café.
— O seu projeto foi aprovado! — diz, eufórico, seguindo meus passos. — O workshop!
Suspiro, aliviada, abrindo um sorriso.
Essa era uma boa notícia.
Pelo menos uma nesse dia que mal havia começado e já estava me rendendo tanta dor de cabeça.
— Isso é ótimo! — digo, entrando no pequeno cubículo que era a copa daqui. Felizmente estava vazia. — Vamos ter bastante trabalho pela frente. Você sabe disso, não sabe?
Felipe sorri, em êxtase.
— Claro! E prometo que vou dar o meu máximo! É o primeiro projeto realmente importante que participo, estou bem animado!
Assinto, pegando uma xícara e posicionando-a estrategicamente abaixo da cafeteira. Extra-forte. É a cápsula que escolho sem titubear.
— Não tenho dúvidas disso.
Felipe era esforçado. Com certeza seria de grande ajuda.
Após o barulho da cafeteira notificar que meu café estava pronto, apanho a xícara rapidamente. Assopro três vezes antes de tomar um grande gole.
— Ei. Vem cá. — ele sussurra, pedindo que eu me aproxime com um gesto de mãos. Olha rapidamente ao redor para se certificar que não tem ninguém por perto e continua: — Tenho uma fofoca que acabou de sair do forno.
— Fofoca, é?
Dou de ombros, como quem não se importa.
Mas não deixo de dar um passo em sua direção, curvando meu tronco ligeiramente para mais perto do seu. Minha curiosidade era maior que a minha vontade de fingir costume.
Bebo mais um gole de café.
— Hoje um marco histórico aconteceu aqui na empresa.
Arqueio as sobrancelhas, sem entender nada.
— O quê?
Felipe chega mais perto. Eu aproximo mais uma vez a xícara de café dos meus lábios.
— O chefe chegou acompanhado. Por alguma funcionária.
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ACASO
DragosteEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...