5.2 | As pessoas mudam

447 49 43
                                    

E N Z O

As pessoas mudam. 

É com isso em mente que saio da empresa no fim do expediente.

Como de costume, levo comigo uma pilha de documentos que precisam ser analisados. Afinal, o trabalho nunca acaba. E especialmente hoje eu tinha muita coisa acumulada.

Talvez porque eu tenha permanecido muito tempo disperso, pensando na vida. Como se não tivesse uma empresa enorme para gerir e compromissos a cumprir.

Diferente de como comecei meu dia, não pensei em meu pai ou em Giovana. Muito menos no jantar catastrófico que estava por vir. Pensei, na realidade, em como as pessoas mudam.

Seis anos.

Se eu fosse analisar com atenção, isso era uma pequena eternidade. É óbvio que depois de todo esse tempo uma pessoa muda. De diversas e inexplicáveis formas.

Eu mudei. Muito, inclusive. Talvez não necessariamente para melhor, mas com certeza não sou mais aquele garoto de vinte anos, inexperiente e completamente assustado com a ideia de comandar a empresa do pai.

O mesmo se aplicava à ela.

Alice não mudou muito fisicamente. Mas com certeza não parecia mais aquela garota que conheci em uma festa universitária e acabei levando para a minha cobertura há seis anos.

Com todo o respeito, senhor, mas você não me conhece. Não me conhecia há seis anos atrás e não me conhece agora.

Eu devo ter repetido suas palavras mentalmente tantas vezes que me perdi na quantidade.

De fato, eu não a conhecia. A ideia que eu tinha era apenas uma suposição, como ela mesma havia dito. Superficial. E por algum motivo que não sou capaz de explicar, eu me sentia extremamente tentado a sair do raso.

Ela muito provavelmente foi a única pessoa naquela empresa que teve coragem de me responder daquela forma.

A minha posição e importância estavam diretamente relacionadas a forma como eu era tratado. E não ter sido bajulado por Alice, como geralmente sou por cada funcionário, foi algo que me pegou completamente de surpresa.

Tudo bem, eu admito.

Estou interessado.

Sempre fui um exímio apreciador de mulheres. Elas são, em sua totalidade, hipnotizantes. Mas diferente da aparência, que num primeiro momento é o que mais costuma me chamar atenção em uma mulher, não era isso o que mais me atraía em Alice.

Era a postura.

O seu comportamento.

Alice era, naturalmente, carregada de uma tensão quase palpável. Chamava atenção espontaneamente, sem fazer esforços.

Conforme andava, parecia deslizar suavemente por seus saltos, enquanto seu quadril, pequeno e proporcional ao restante de seu corpo, balançava de um lado para o outro em um ritmo lento e constante.

Era gostoso apreciar a forma como ela parecia tão segura de si, mas, ao mesmo tempo, aparentava sentir-se tão vulnerável quando eu estava por perto.

Seus dedos entrelaçados.

O jeito como ela sempre desviava o olhar.

As pernas balançando inquietamente.

A forma como ela saía da minha sala completamente desesperada, quase tropeçando em seus próprios pés.

ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora