3.1 | Todo mundo é um pouco gay

465 48 36
                                    

A L I C E

— Isso é falta de sexo.

Mariana conclui depois de virar todo o conteúdo de sua taça goela abaixo, me direcionando um sorriso torto.

Rolo os olhos de forma teatral.

Ela sempre associa absolutamente tudo à sexo. Ou, no meu caso, a falta dele.

— Ei, eu transo regularmente. — balbucio, movendo meus olhos até nossos pratos agora vazios sobre a bancada da cozinha americana. — Não com tanta regularidade quanto você, mas ainda assim... Eu transo.

Qual tinha sido a última vez mesmo?, me forço a relembrar.

De qualquer forma, não tinha sido nada de extraordinário. Caso contrário, eu com certeza me lembraria sem precisar fazer muito esforço.

— Você escutou isso, Théo? — Mariana solta uma risada nasalada enquanto chama a atenção de nosso amigo. — Ela diz que transa regularmente.

Ele, que no momento estava de costas para nós enquanto lavava toda a sujeira que fizemos na cozinha, se limita apenas a soltar uma risada. No fundo, ele concordava com Mariana. Por mais que fosse um pouco tímido para falar abertamente sobre isso com duas mulheres. Apesar de anos de amizade, ele sempre ficava um pouco desconfortável quando o assunto era sexo.

— Homens são burocráticos demais. — justifico, dando de ombros. — Na maioria das vezes, eu tenho preguiça deles. Sem ofensas, Théo. Você é diferente.

Forço meus lábios em um bico exagerado e mando um beijo estalado em sua direção, sorrindo como em um pedido de desculpas.

Era verdade. Alguns homens realmente me davam preguiça.

Das últimas vezes que saí para encontros, era sempre mais do mesmo. Conversas superficiais e quase robóticas. Sexo monótono e quase nunca satisfatório. Honestamente, meu vibrador rosa com certeza tinha mais talento do que a maioria dos caras que já saí.

— Já faz um tempo que não me ofendo mais com os seus comentários.

Théo gira a cabeça para encontrar meu rosto, dando uma piscadela divertida e voltando a se concentrar nas louças sujas logo em seguida.

Ele era um bom amigo. Ótimo, na verdade.

Além de lavar as louças de todos os nossos jantares, ele sempre disponibilizava o seu apartamento para os nossos encontros semanais. E o mais importante de tudo: sabia conversar sobre assuntos que iam além do superficial, diferente de muitos homens.

Théo me ajudou diversas vezes durante a época da faculdade — mais especificamente no último ano, quando nos aproximamos mais um do outro. Me buscava em festas quando não sobrava dinheiro pro Uber, ajudava nas matérias que tinha mais dificuldade e dava conselhos racionais e lógicos. Mariana era mais a parte irracional do trio. Seus conselhos, na maioria das vezes, não eram muito bons. Se ela me dizia para fazer algo, eu com certeza fazia o oposto.

— Sendo bem sincera, eu não tenho paciência. — bufo, apoiando meus cotovelos no mármore frio da bancada. — Para conhecer pessoas novas, falar sobre mim, escutar sobre elas... Se relacionar com as pessoas é sempre muito trabalhoso. E eu já tenho trabalho demais.

Assisto Mariana rolar os olhos de forma tão dramática que automaticamente solto uma risada.

— Você é viciada demais em trabalhar. — estala a língua, balançando a cabeça negativamente. — A vida não é só isso, Alice. Dar uma sentadinha às vezes também é importante.

ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora