4.1 | Eu sou uma péssima mentirosa

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A L I C E

Merda.

Quando dou por mim, a palavra já tinha escapado por meus lábios. Em um tom desnecessariamente alto que me fez entrar em pânico.

Com os olhos arregalados e as bochechas ardendo em chamas, sinto olhares em minha direção. Muitos.

Um silêncio irritantemente desconfortável toma conta do ambiente e, me sentindo completamente perdida, escorrego pela cadeira enquanto tento inutilmente me esconder atrás do copo de café.

Sorrio, constrangida, desviando os olhos dos meus colegas de trabalho e focando na pessoa em pé na ponta da mesa. Nos poucos segundos que meus olhos levam para encontrar os dele, imploro para que Deus tenha misericórdia e ele não tenha escutado nada.

Meu coração salta dentro do peito numa velocidade absurda quando noto que seus olhos, verdes como nunca, me analisam com bastante atenção.

Eu estranhamente consigo lê-los sem muita dificuldade. Neles havia um mix de sentimentos e sensações. Confusão, curiosidade, interesse e... Surpresa?

Será que ele me reconheceu?, questiono mentalmente, insegura.

Eu não tinha mudado muito. Meus fios de cabelo, agora um pouco maiores e mais volumosos, ainda tinham o mesmo tom acobreado. O meu rosto, diferente do que eu gostaria de admitir, ainda aparentava o de uma jovem de dezoito anos que tinha acabado de sair do ensino médio.

É verdade que eu tinha ganhado um pouco mais de seios e algumas curvas, resultado dos cinco quilos que acabei ganhando ao longo dos anos, mas eu ainda era, na grande parte de meus traços, a mesma pessoa.

Eu já não podia dizer o mesmo dele. É inegável que o tempo o transformou em uma pessoa mais... Máscula. O seu rosto, antes nitidamente jovial, agora tinha traços mais maduros. A barba preta, que ainda era muito bem feita e delineava perfeitamente sua mandíbula, estava um pouco maior. Os ombros, bem mais largos do que me lembrava, ficavam estranhamente atrativos dentro de um terno.

Ele cresceu bastante, concluo, anestesiada.

Já eu nem tanto.

E agora, com suas duas piscinas esverdeadas me estudando atentamente, eu me sentia exatamente a mesma garota de seis anos atrás. Jovem, inexperiente e insegura.

— Perdão? — ele questiona, sua voz mais baixa e menos firme do que antes. Seus olhos ainda sobre os meus, surpresos. — Você disse algo?

Engulo em seco, me ajeitando na cadeira enquanto penso no que responder.

— Peço desculpas. — abro um sorriso amarelo e desvio os olhos, encarando as pessoas ao meu redor. Eu era incapaz de sustentar o seu olhar. — Eu acabei derramando um pouco de café na minha roupa. Pensei alto.

Minto descaradamente. E quando volto a fitar seu rosto, é como se ele soubesse disso.

Enzo dá de ombros e seus lábios são sutilmente repuxados para cima. Assentindo, seus olhos deixam de dar atenção ao meu rosto e voltam a encarar as pessoas ao redor.

Ele não deve lembrar de mim, concluo. Ter garotas desconhecidas na sua cama com certeza é algo rotineiro e frequente desde a adolescência. Sendo apenas mais uma entre várias, ele com certeza não tinha uma memória tão boa assim. Quer dizer, estamos falando de seis anos. Quantas mais vieram depois?

Ele com certeza não lembra.

O que é ótimo, porque seria extremamente constrangedor se lembrasse. Ele é meu chefe agora.

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