21.1 | Namorado?

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E N Z O

Acho que nunca, em toda a minha vida, conheci uma pessoa tão peculiar quanto Alice. 

No sentido bom da palavra, é claro. 

Nada ruim ou depreciativo poderia ser usado para descrever a mulher que está sentada no meu sofá neste exato momento, me encarando timidamente por baixo de seus longos e grossos cílios.

Ela parece um pouco desconfortável, tentando, a todo custo, desviar os olhos e encarar absolutamente qualquer coisa que não seja eu. 

Não dá muito certo. 

Por mais que ela tente parecer extremamente concentrada em analisar as cutículas das suas unhas ou então o lustre enorme que fica bem no centro da sala, ela faz um péssimo trabalho em disfarçar as olhadas — nada sutis — que lança em minha direção. Principalmente para meu braço, preenchido, em sua grande maioria, por tatuagens que fiz ao longo dos anos.

Sorrio cautelosamente, aproximando-me. 

Eu tinha saído do banho há mais ou menos uns cinco minutos, certificando-me de vestir roupas confortáveis. Optei por uma camiseta preta básica e jeans de lavagem clara, calçando o primeiro par de tênis que encontrei pelo caminho.

— Pronta? — pergunto, pegando a chave de um dos meus carros em cima da mesinha de centro. 

Ela assente, analisando-me brevemente. 

— Você fica diferente assim. 

Franzo o cenho, confuso. 

— Assim como?

Ela morde os lábios pequenos e rosados, pendendo a cabeça para o lado enquanto seus olhos, chamativos e brilhantes, me estudam dos pés à cabeça. 

— De jeans. — responde, dando de ombros. — Não sei, acho que me acostumei com você de terno, vestido mais formalmente. Assim, desse jeito todo despojado, parece até outra pessoa. 

Enfio as mãos no bolso traseiro da calça.

— Você não estava esperando que eu usasse terno no meu dia de folga, estava?

Alice lança um olhar em minha direção que responde minha pergunta dispensando a necessidade de uma resposta verbal. 

Sim, ela estava esperando que eu usasse terno no meu dia de folga. 

Solto uma risada nasalada, passando as mãos por meus fios de cabelo ainda úmidos do banho. 

— Acho que eu já te disse o quanto odeio ternos, não disse?

Ela balança a cabeça em um movimento afirmativo, levantando-se do sofá. 

— Sim. Acho que você já me disse algo do tipo. 

Encaro seus pés e noto, ao me deparar com os calçados vermelhos de salto alto, que ela foi capaz de encontrar seus sapatos sozinha, bem como sua bolsa, posicionada estrategicamente em seu ombro esquerdo. 

— É que... — ela prossegue, mordendo o lábio inferior, parecendo um pouco receosa. — Você...

— Eu...? — a incentivo a continuar quando noto que ela permanece estagnada, sem dizer nada. 

— Você fica bem de terno. — sopra, tímida, dando as costas e começando a andar a passos apressados em direção à porta. É impressão minha ou ela está fugindo de mim?

Me vejo sorrindo de forma automática, seguindo-a após pegar a chave do quarto.

Depois de alguns segundos, quando finalmente a alcanço, curvo meu tronco sutilmente em sua direção e sussurro contra seus fios de cabelo que exalam o cheiro do meu shampoo:

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