A L I C E
A primeira coisa que eu faço na segunda-feira de manhã, logo que chego no trabalho, é subir até o décimo terceiro andar.
O elevador está, como sempre, mais lotado que transporte público em horário de pico. E eu fico desconfortavelmente prensada entre dois senhores calvos e extremamente inconvenientes até chegar, de fato, no meu destino.
Nem me preocupo muito em estar sendo sem educação quando, sem nem desejar bom dia para a secretária de Enzo, bato em sua porta.
A coitada até tentou me impedir, nitidamente desesperada, mas não deu muito certo. Antes que ela tivesse a oportunidade de me parar, eu estava batendo novamente.
Três batidas altas e nem um pouco discretas.
— Senhorita, você não pode fazer isso!
Ela lança um olhar completamente horrorizado em minha direção. Um olhar que eu compreendo totalmente. Afinal, eu bati na porta com tanta raiva que, se fosse feita de um material meio mequetrefe, muito provavelmente teria rachado ao meio.
Eu devo estar soltando fogo pelas narinas.
Espumando pela boca.
A feição completamente assustadora.
Um pinscher enraivecido. É isso que devo estar parecendo agora.
Acontece que eu me segurei, durante todo o final de semana, para não agir impulsivamente. Mas agora, parada em frente à porta do cara que transformou meus últimos dias em um completo pesadelo, eu não conseguia me controlar.
Não mais.
— Pode entrar. — a voz de Enzo responde do lado de dentro no mesmo segundo que minhas mãos enlaçam a maçaneta, abrindo a porta.
A secretária, cujo nome não me recordo muito bem agora, finalmente se dá por vencida, afastando-se e voltando a se sentar atrás de sua mesa, há alguns metros de distância.
Faço uma nota mental: preciso me lembrar de pedir desculpas à ela por ter sido tão grosseira e ríspida antes de ir embora.
Pisco, voltando minha atenção para o que realmente importa neste momento. O meu chefe. Meu maldito chefe.
Enzo está ocupado demais com alguma coisa em seu IPad para notar a minha presença. Ele muito provavelmente pensa que a pessoa parada entre o batente e a porta é a sua secretária, pronta para passar a programação diária ou lembrá-lo de alguma reunião importante.
Afinal, nenhum funcionário desta empresa ousaria aparecer assim em sua sala, sem nem ser chamado ou sem ter passado por sua secretária antes. Acho que existe todo um processo para falar com ele. Marcar horário e tudo mais.
Sim, eu simplesmente ignorei tudo isso.
Só posso estar ficando maluca.
— O que foi, Sarah? — pergunta, por fim, com a cabeça abaixada.
Não disse?
Suspiro, pesarosa, curvando meus lábios em um bico.
A imagem à minha frente não me ajuda em nada.
Enzo está inclinado sobre a mesa, os olhos fixos na tela do aparelho eletrônico, escrevendo com uma daquelas canetas digitais e modernas que costumam custar o valor de um rim. A expressão séria e concentrada em seu rosto quase me faz suspirar.
Em silêncio, encaro suas mãos.
A direita, segurando a caneta cuidadosamente.
A esquerda, espalmada contra a mesa de madeira maciça, os dedos longos e bonitos tocando seu material quase como numa carícia.
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ACASO
RomanceEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...