1.1 | O dia que acordei na cama de um estranho

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A L I C E

Um suspiro profundo escapa por meus lábios enquanto me movo pela cama, me enrolando no cobertor e tateando o colchão em busca do meu travesseiro.

Eu ainda estava sonolenta. Mas não tão sonolenta a ponto de não sentir falta do meu travesseiro.

Um fato engraçado — e um pouco estranho — sobre mim: eu sempre durmo abraçada com um travesseiro. Não sei explicar o motivo ao certo, mas desde que me entendo por gente só consigo dormir assim. E agora, por algum outro motivo que também não sou capaz de explicar, não estava encontrando-o.

Uma sensação estranha toma conta do meu corpo. Ainda de olhos fechados, chego a conclusão de que não estou deitada na minha cama.

Definitivamente não.

Esse colchão é macio demais para ser o meu.

O meu era usado e havia sido comprado em uma liquidação há mais de três anos numa loja de procedência duvidosa. Era de se esperar que não estivesse tão confortável assim, principalmente a julgar pelo baixo preço. Sem falar no som irritante que suas molas faziam sempre que eu resolvia me movimentar. Esse era tão silencioso que jamais poderia ser o meu.

Buscando comprovar minha teoria, me movimento mais uma vez. E nada. Nem um mísero barulhinho.

Minhas mãos, impacientes, decidem continuar seu trabalho tateando o colchão até encontrar algo. Para a minha surpresa, algo de uma consistência bem diferente da que eu esperava. Rígido demais. E quente demais, também.

Abro rapidamente meus olhos, desconfiada e assustada. A luz forte do sol os atinge sem pedir licença, me fazendo piscar várias vezes consecutivas até me acostumar com a claridade do ambiente. Confusa, me concentro em estudar o lugar ao meu redor.

As janelas, que ocupavam quase toda a parede de frente para a cama, eram grandes demais para serem as minhas. E o quarto, branco e organizado, não combinava em nada com a minha pequena bagunça.

O cômodo era tão grande que daria facilmente o tamanho do meu apartamento inteiro. E a televisão que ficava na lateral direita era tão exageradamente maior do que a minha que me pego automaticamente pensando em quantos meses teria que trabalhar para comprar uma parecida. O ano inteiro, talvez.

Apesar de bonito e luxuoso demais para ser o meu quarto, o lugar também era bastante impessoal. Tudo muito branco e muito sem vida. Quase como se ninguém morasse aqui. Quase como... Um quarto de hotel.

Busco por algum porta-retrato ou algo que me dê uma pista de onde estou, mas falho miseravelmente na missão. Curiosa, resolvo mover meus olhos até minha mão, me lembrando da superfície quente que estranhamente havia se tornado confortável para mim.

Um grito desesperado quase escorre por meus lábios.

Isso era particularmente estranho para quem divide o quarto com a melhor amiga e dorme em uma cama de solteiro que mal cabe um corpo.

Essa cama ridiculamente grande não era a minha. E eu não fazia a mínima ideia de quem era o corpo masculino deitado ao meu lado, que respirava calmamente enquanto seu tórax subia e descia lentamente junto com sua respiração.

Foi praticamente impossível não percorrer meus olhos por ele. Coberto apenas da cintura para baixo, seu tronco nu estava perto demais para não ser observado. Confesso que talvez tenha dado uma atenção maior do que a realmente necessária para esta parte em específico, mas foi mais forte do que eu. Era como se sua pele ligeiramente bronzeada implorasse por um pouquinho da atenção de meus olhos curiosos.

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