20.2 | Acordando pela segunda vez na cama de um (não tão) estranho assim

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A L I C E

Abro os olhos, confusa.

Ai.

Meu cérebro lateja, pulsando tão fortemente contra o crânio que acabo soltando um xingamento involuntário.

Cadê meu travesseiro?

Rolo pela cama macia, piscando os olhos repetidas vezes até me acostumar com a luz do sol, que adentra pelas persianas meio abertas e incomoda minhas retinas.

Tateio o colchão, não encontrando meu travesseiro. Acabo desistindo e empurro o cobertor felpudo que me cobre para o lado, forçando meu tronco para cima e sentando-me. Minha cabeça gira no percurso e eu solto um gemido de dor.

— Eu nunca mais vou beber. — sussurro a maior mentira universal de todos os tempos, massageando a nuca com uma das mãos.

Onde estou?

Pisco.

Então pisco mais uma vez.

Perco as contas de quantas vezes minhas pálpebras abrem e fecham quando um arrepio estranhamente conhecido percorre o meu corpo.

O quarto enorme e desconhecido rouba minha atenção de imediato.

Espera.

Isso não está me cheirando a coisa boa.

O cômodo é impessoal demais.

Branco demais.

Grande demais.

Franzo o cenho, abaixando a cabeça e encarando meu corpo. Arregalo os olhos em resposta ao que encontro.

Estou usando uma camiseta preta.

Uma camiseta preta masculina.

Uma camiseta preta masculina uns três ou quatro números acima do meu.

O tecido de algodão abraça meu corpo de uma forma bizarramente acolhedora e o cheiro de sabão em pó misturado com amaciante que exala da vestimenta quase me faz suspirar.

Levanto, sentindo uma pontada na parte posterior da cabeça.

Maldito álcool.

Meus pés, descalços, levam-me até a porta. Giro a maçaneta com uma terrível sensação de déjà vu, andando pelo enorme corredor enquanto analiso as paredes ao meu redor.

Merda.

Merda, merda, merda.

O que eu fiz?

Como vim parar aqui?

Honestamente, não me lembrava de muita coisa. Depois do segundo ou terceiro copo de uísque, eu meio que apaguei.

Será que eu não tinha aprendido nada da primeira vez? Precisava repetir o mesmo erro pela segunda?

Escuto um barulho vindo de algum lugar longe e resolvo segui-lo. Assustada, receosa e um pouco curiosa, permito-me aumentar a velocidade dos passos.

Parece um barulho de água.

Isso.

Água caindo.

Rápida e constantemente.

Ando.

Ando mais um pouco.

Então travo. 

Travo no exato momento que meus olhos pousam no corpo masculino parado há alguns metros de distância, em frente à pia da bela cozinha de conceito aberto integrada a sala. O cômodo parece algo saído de um programa de reforma de casas. Bonito, espaçoso e moderno.

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