A L I C E
— Vocês dois são ótimos atores. — Mariana diz, passando o prato recém lavado para mim. — Já pensaram em mudar de profissão?
Eu tento ignorar suas palavras enquanto deslizo o pano de prato pelo item de porcelana, guardando-o dentro do armário logo em seguida.
Sentado na mesma cadeira que passou o jantar inteiro, Enzo solta uma risada nervosa.
— Você está sendo irônica, não está? — pergunta.
Mariana nega, passando-me mais um prato.
— Na verdade, acho que nunca fui tão sincera quanto estou sendo agora. — pende a cabeça para o lado, pensativa. — Se eu não soubesse que tudo não passa de encenação, acreditaria facilmente nesse relacionamento falso de vocês dois.
— Mariana. — a repreendo.
— O quê? — ela me encara, divertindo-se com o meu nervosismo. — Vocês dois estavam quase se comendo naquele sofá e eu que sou a errada?
Mordo o lábio, irritada, guardando o prato bruscamente dentro do armário, o que resulta em um barulho alto de porcelanas chocando-se entre si reverberando pela cozinha.
Minha mãe foi embora há uns quinze minutos, e desde então estamos nós três aqui, relembrando as últimas duas horas.
Foi um desastre, confesso, mas poderia ter sido pior.
É claro que a parte do sofá foi constrangedora. E a conversa sobre camisinhas poderia ter sido facilmente evitada. Mas, no geral, não foi tão ruim assim.
Pelo menos minha mãe acreditou no meu namoro de mentira.
— Alice estava me ensinando um pouco sobre demonstrações públicas de afeto. — Enzo explica. Eu o encaro por cima do ombro e encontro seus olhos em mim, uma sombra de um sorriso delimitando seus lábios. — Tentei colocar em prática.
— E conseguiu, viu? — Mariana ri, debochada. — Mais um pouco e você estaria esfregando a cara nos peitos dela.
Engasgo com o nada, fechando os olhos com força, como se este ato pudesse magicamente me teletransportar para outro lugar.
— Eu... — Enzo tenta se defender, mas parece não saber muito bem o que dizer.
— Sério. — Mariana continua. — Vocês dois exalam tensão sexual. Nem precisam se esforçar muito para fingir. — sua voz soa animada quando completa: — Se é que existe fingimento, né?
Aperto minhas pálpebras com ainda mais força, abrindo-as só depois de longas e profundas inspirações.
Controle-se, Alice.
— Já te disseram que você é ótima em envergonhar as pessoas? — Enzo apoia os cotovelos em cima da mesa e fita Mariana com atenção. — Você tem sorte que eu não sou do tipo de pessoa que se constrange facilmente. Caso contrário, eu teria saído por aquela porta há muito tempo.
Suspiro, pesarosa, pegando o último prato que Mariana me estende. Seco-o rapidamente, guardando-o dentro do armário e fechando sua porta sem me preocupar em ser cuidadosa.
— Credo, Alice! — ela resmunga. — Desse jeito você vai quebrar os pratos. E o armário, também.
Reviro os olhos.
— Eu vou é ficar louca se você continuar dizendo esses absurdos! — retruco, brava, cruzando os braços.
Ela dá de ombros, despreocupada.
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ACASO
RomantizmEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...