23.1 | Demonstrações públicas de afeto dentro do elevador

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A L I C E

— Vocês dois são ótimos atores. — Mariana diz, passando o prato recém lavado para mim. — Já pensaram em mudar de profissão?

Eu tento ignorar suas palavras enquanto deslizo o pano de prato pelo item de porcelana, guardando-o dentro do armário logo em seguida.

Sentado na mesma cadeira que passou o jantar inteiro, Enzo solta uma risada nervosa.

— Você está sendo irônica, não está? — pergunta.

Mariana nega, passando-me mais um prato.

— Na verdade, acho que nunca fui tão sincera quanto estou sendo agora. — pende a cabeça para o lado, pensativa. — Se eu não soubesse que tudo não passa de encenação, acreditaria facilmente nesse relacionamento falso de vocês dois.

Mariana. — a repreendo.

— O quê? — ela me encara, divertindo-se com o meu nervosismo. — Vocês dois estavam quase se comendo naquele sofá e eu que sou a errada?

Mordo o lábio, irritada, guardando o prato bruscamente dentro do armário, o que resulta em um barulho alto de porcelanas chocando-se entre si reverberando pela cozinha.

Minha mãe foi embora há uns quinze minutos, e desde então estamos nós três aqui, relembrando as últimas duas horas.

Foi um desastre, confesso, mas poderia ter sido pior.

É claro que a parte do sofá foi constrangedora. E a conversa sobre camisinhas poderia ter sido facilmente evitada. Mas, no geral, não foi tão ruim assim.

Pelo menos minha mãe acreditou no meu namoro de mentira.

— Alice estava me ensinando um pouco sobre demonstrações públicas de afeto. — Enzo explica. Eu o encaro por cima do ombro e encontro seus olhos em mim, uma sombra de um sorriso delimitando seus lábios. — Tentei colocar em prática.

— E conseguiu, viu? — Mariana ri, debochada. — Mais um pouco e você estaria esfregando a cara nos peitos dela.

Engasgo com o nada, fechando os olhos com força, como se este ato pudesse magicamente me teletransportar para outro lugar.

— Eu... — Enzo tenta se defender, mas parece não saber muito bem o que dizer.

— Sério. — Mariana continua. — Vocês dois exalam tensão sexual. Nem precisam se esforçar muito para fingir. — sua voz soa animada quando completa: — Se é que existe fingimento, né?

Aperto minhas pálpebras com ainda mais força, abrindo-as só depois de longas e profundas inspirações.

Controle-se, Alice.

— Já te disseram que você é ótima em envergonhar as pessoas? — Enzo apoia os cotovelos em cima da mesa e fita Mariana com atenção. — Você tem sorte que eu não sou do tipo de pessoa que se constrange facilmente. Caso contrário, eu teria saído por aquela porta há muito tempo.

Suspiro, pesarosa, pegando o último prato que Mariana me estende. Seco-o rapidamente, guardando-o dentro do armário e fechando sua porta sem me preocupar em ser cuidadosa.

— Credo, Alice! — ela resmunga. — Desse jeito você vai quebrar os pratos. E o armário, também.

Reviro os olhos.

— Eu vou é ficar louca se você continuar dizendo esses absurdos! — retruco, brava, cruzando os braços.

Ela dá de ombros, despreocupada.

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