13.1 | Seis doses de café extra-forte

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A L I C E


— Finalmente encontrei algo que faço melhor do que você.

Encaro meu estagiário com os olhos semicerrados, tentando parecer minimamente brava com o que ele disse.

— Não ficou tão ruim assim. — minto, tentando me defender.

Seus olhos amendoados e redondos fitam atentamente os embrulhos feitos por mim na noite passada.

— Você conseguiu fazer só cinco?

Assinto, envergonhada, respondendo sua pergunta.

E levei quase uma hora, completo mentalmente. Mas isso eu nunca admitiria em voz alta.

— Em minha defesa, eu realmente tentei fazer um bom trabalho. — suspiro, inconformada. — Mas acho que o cansaço não me ajudou muito. Por fim, acabei desistindo e fui para casa.

— Ainda bem. — sua voz soa como em um verdadeiro agradecimento.

Me sinto um pouco ofendida, mas decido ignorar enquanto dou de ombros.

— Já que você insistiu tanto na ideia de ficar responsável por isso, vou deixar sob seus cuidados. Fique a vontade para fazer quantos embrulhos quiser.

Felipe me lança um sorriso divertido antes de assentir.

— Vou fingir que você não está dizendo isso apenas porque não leva jeito para fazer embrulhos. — dando uma piscadela divertida, pega o papel azulado e começa a embrulhar com uma facilidade invejável.

Porque parecia tão fácil pra ele?

— Eu levo jeito, sim. — discordo, orgulhosa demais para admitir que ele tinha razão.

Felipe repuxa os lábios em um bico, negando com a cabeça.

— O que foi que você disse ontem mesmo? Algo sobre refazer trabalhos que não saem como deveriam? — quando seus olhos encontram os meus, ele continua: — Agora te entendo perfeitamente bem. Vou ter que refazer todos os seus embrulhos. Por sorte, você não fez muitos. Não terei tanto trabalho assim, afinal de contas.

Rolo os olhos e uma risada involuntária acaba escapando por meus lábios.

— Por favor, refaça-os. — acabo pedindo.

— Pode deixar, chefinha.

Solto um suspiro pesaroso, conformada, e me afasto a passos lentos. Tinha muito a fazer, ficar aqui discutindo sobre embrulhos estava fora de cogitação.

Certifico-me de ter fechado a porta depois de sair do cômodo e ando em direção à sala ao lado. Precisava conversar com Giovana.

Dou três batidas na porta antes de tocar a maçaneta e enfiar a cabeça para dentro, me arrependendo no segundo seguinte.

Meu Deus! Eu deixei bem claro que precisava dos balões azuis, não deixei? — ela grita com alguém do outro lado do telefone, sua voz ressoando pelo ambiente mais aguda do que nunca.

Tampo meus ouvidos em um ato involuntário, pensando seriamente em sair de fininho antes que ela começasse a gritar novamente.

Eu estava prestes a colocar essa ideia em prática quando seus olhos enormes me encontram ali, parada entre o batente e a porta. Droga, penso. Perdi a oportunidade de fugir.

Ela pede, em um gesto com as mãos, que eu espere um pouco. Assentindo, entro por completo dentro da sala e me sento em uma das cadeiras que ficam de frente para a sua mesa.

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