A L I C E
— Nós vamos ficar no escuro?
Pergunto, confusa.
Meus olhos demonstram bastante relutância em acostumar-se com a penumbra que preenche o ambiente.
Enzo assente, depois de alguns segundos, respondendo ao meu questionamento e continuando a andar pelo cômodo. Ele parece conhecê-lo muito bem, já que o escuro não o impede de deslocar-se fluidamente pelo lugar.
Eu o sigo, incerta, ainda tentando me acostumar com a falta de luz.
— Se eu acender as luzes, vamos ser descobertos. — justifica-se, me encarando por cima do ombro. — Você não quer que isso aconteça, quer?
Me vejo, automaticamente, negando.
— Não.
Ele curva os lábios sutilmente para cima.
— Imaginei mesmo que não. — desviando o olhar, ele volta a andar pelo corredor escuro.
Porque eu sinto como se estivéssemos fazendo algo muito errado?
Enzo, agora há pouco, deixou o salão de festas para trás ao abrir uma das enormes portas modernas que revestiam o lugar.
O corredor gigantesco e escuro que encontrei depois de segui-lo me deixou um pouco apreensiva, confesso, mas decidi ignorar este sentimento e continuar andando, mesmo sem saber exatamente para onde.
A fresta aberta da porta por onde passamos é nossa única fonte de luz, que ilumina muito discretamente o lugar.
— Para onde você está me levando?
— Não sabia que você era tão curiosa assim, Alice. — sua voz baixa ecoa pelo ambiente. O som dos seus passos misturado com o som dos meus me deixa um pouco aflita.
Bufo, equilibrando-me em meus saltos, as bolhas começando a me incomodar.
Enzo finalmente para de andar, abrindo a quarta porta à esquerda e deixando o corredor para trás ao entrar dentro de um cômodo.
— Vem. — sussurra, segurando a porta para mim.
E eu vou, mesmo que insegura.
— Onde estamos? — pergunto, por fim, analisando da forma que posso o lugar ao nosso redor.
Assim como o corredor, aqui também é preenchido pela escuridão.
A única coisa que me possibilita ter uma pequena visão do ambiente é a luz da lua, que, proveniente da sacada aberta há alguns metros de distância, ilumina muito precariamente o espaço retangular e permite que uma pequena corrente de ar entre por suas portas.
— É um escritório. — Enzo finalmente responde, andando até a sacada e abrindo um pouco mais suas portas.
Eu o sigo, sem nem precisar pensar duas vezes, ainda tentando me acostumar com o escuro.
Apoio os cotovelos sobre o parapeito de madeira da sacada e fecho os olhos, inspirando longa e profundamente.
Sinto a brisa fresca da noite lambendo meu rosto e balançando meus fios de cabelo, e me concentro em aproveitar a sensação agradável do vento roçando em meus poros.
— Que delícia. — sopro, sorrindo, me referindo ao frescor da brisa noturna.
Abro as pálpebras depois de alguns segundos e giro a cabeça para o lado. Encontro Enzo encostado no parapeito também, há uns trinta centímetros de distância, me encarando.
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ACASO
RomanceEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...