19.1 | Você diz não, mas seu corpo diz sim

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A L I C E

— Nós vamos ficar no escuro? 

Pergunto, confusa.

Meus olhos demonstram bastante relutância em acostumar-se com a penumbra que preenche o ambiente.

Enzo assente, depois de alguns segundos, respondendo ao meu questionamento e continuando a andar pelo cômodo. Ele parece conhecê-lo muito bem, já que o escuro não o impede de deslocar-se fluidamente pelo lugar.

Eu o sigo, incerta, ainda tentando me acostumar com a falta de luz.

— Se eu acender as luzes, vamos ser descobertos. — justifica-se, me encarando por cima do ombro. — Você não quer que isso aconteça, quer?

Me vejo, automaticamente, negando.

— Não.

Ele curva os lábios sutilmente para cima.

— Imaginei mesmo que não. — desviando o olhar, ele volta a andar pelo corredor escuro.

Porque eu sinto como se estivéssemos fazendo algo muito errado?

Enzo, agora há pouco, deixou o salão de festas para trás ao abrir uma das enormes portas modernas que revestiam o lugar.

O corredor gigantesco e escuro que encontrei depois de segui-lo me deixou um pouco apreensiva, confesso, mas decidi ignorar este sentimento e continuar andando, mesmo sem saber exatamente para onde.

A fresta aberta da porta por onde passamos é nossa única fonte de luz, que ilumina muito discretamente o lugar.

— Para onde você está me levando?

— Não sabia que você era tão curiosa assim, Alice. — sua voz baixa ecoa pelo ambiente. O som dos seus passos misturado com o som dos meus me deixa um pouco aflita.

Bufo, equilibrando-me em meus saltos, as bolhas começando a me incomodar.

Enzo finalmente para de andar, abrindo a quarta porta à esquerda e deixando o corredor para trás ao entrar dentro de um cômodo.

— Vem. — sussurra, segurando a porta para mim.

E eu vou, mesmo que insegura. 

— Onde estamos? — pergunto, por fim, analisando da forma que posso o lugar ao nosso redor. 

Assim como o corredor, aqui também é preenchido pela escuridão

A única coisa que me possibilita ter uma pequena visão do ambiente é a luz da lua, que, proveniente da sacada aberta há alguns metros de distância, ilumina muito precariamente o espaço retangular e permite que uma pequena corrente de ar entre por suas portas.

— É um escritório. — Enzo finalmente responde, andando até a sacada e abrindo um pouco mais suas portas. 

Eu o sigo, sem nem precisar pensar duas vezes, ainda tentando me acostumar com o escuro. 

Apoio os cotovelos sobre o parapeito de madeira da sacada e fecho os olhos, inspirando longa e profundamente.

Sinto a brisa fresca da noite lambendo meu rosto e balançando meus fios de cabelo, e me concentro em aproveitar a sensação agradável do vento roçando em meus poros.

— Que delícia. — sopro, sorrindo, me referindo ao frescor da brisa noturna.

Abro as pálpebras depois de alguns segundos e giro a cabeça para o lado. Encontro Enzo encostado no parapeito também, há uns trinta centímetros de distância, me encarando.

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