11.2 | Casamento é negócio

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E N Z O

Eu gosto bastante de comida italiana.

Gosto bastante desse restaurante, também. É um dos meus favoritos.

Mas hoje, diferente do habitual, eu não estava nem um pouco animado para saborear a massa à minha frente.

O prato, elaborado e visualmente bonito, com uma decoração feita de molho e alguns pequenos galhos de alecrim, não parecia nada apetitoso aos meus olhos.

Talvez fosse a companhia. Afinal, ter a carranca do meu pai me encarando não era, nem de longe, algo que me abria o apetite.

Engulo em seco, incomodado.

O sábado a noite chegou num piscar de olhos. E até então, o jantar com meu pai não tinha nada de diferente do que eu já estava acostumado. Parecia mais uma tortura, com seus olhos frios me fitando em um julgamento silencioso que dizia muitas coisas. Coisas horríveis.

Giovana ainda não tinha chegado. A convidada ilustre de meu pai teve o cuidado de avisar que chegaria alguns minutos atrasada. De acordo com ela, acabou acontecendo um imprevisto. O que, nem de longe, me incomodou.

Quanto mais ela demorasse, melhor.

Não estava nem um pouco animado para vê-la. Da última vez que estivemos a sós pelos corredores da empresa, ela tentou me cobrar coisas absurdas e justificativas que eu não daria. Fiz questão de deixar, mais uma vez, nossa relação bem clara. Nós não temos nada, foi o que eu disse. E é claro que tudo terminou como sempre: com sua cara fechada, um bico de insatisfação nos lábios e uma revirada dramática de olhos. 

— Fiquei sabendo sobre sua recente saída com uma de suas funcionárias.

Sabia que quando ele quebrasse o silêncio, seria para falar sobre algo assim.

Preferia que tivesse ficado quieto. O silêncio era ruim, mas ouvir suas repreensões era mil vezes mais.

Sentindo meus ombros tensos, respiro profundamente antes de dizer:

— É um boato falso.

Meu pai, como eu já imaginava, parece não acreditar em minhas palavras.

— Você pode comer quantas mulheres quiser. Eu honestamente não me importo, Enzo. — sua voz rouca ressoa pelo lugar quase vazio, preenchido por algumas conversas paralelas e uma música ambiente baixinha. — Afinal, você é homem e tem suas necessidades. Não estou aqui para te obrigar a fazer um voto de castidade ou algo do tipo.

Surpreso com suas palavras, me vejo arqueando as sobrancelhas.

— Onde você quer chegar com essa conversa? — indago.

— Você só precisa saber calá-las para que boatos como esse não caiam na boca das pessoas. — finaliza, tomando um gole de seu vinho tinto. Seu pomo de adão sobe e desce lentamente.

— Calá-las?

Ele ignora minha pergunta e continua:

— Se você tem maturidade o suficiente para transar com muitas mulheres, deve saber lidar com isso como um homem de verdade.

Tentando disfarçar o incômodo que sinto, encosto-me na cadeira e desvio os olhos para os talheres que seguro entre os dedos, fugindo de seu olhar julgador.

Homem de verdade?, penso, me segurando para não soltar uma risada cínica.

Eu sabia perfeitamente bem o que ele queria dizer com isso.

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