A L I C E
Desço do Uber depois de me despedir do motorista e encaro a tela do meu celular, que acaba de notificar uma mensagem de Mariana.
Mari: Você não se esqueceu de colocar a lingerie vermelha, esqueceu? Por favor, diz que não! :(
Por algum motivo maluco que só faz sentido na cabeça dela, Mariana acha que vou terminar a noite de hoje acompanhada. Como se existisse a possibilidade de conhecer alguém para uma transa casual em uma festa da empresa.
Ela vasculhou minha gaveta de calcinhas com um empenho quase assustador algumas horas atrás, enquanto estava no meu apartamento me ajudando com a maquiagem.O conjunto vermelho foi o escolhido por ela.
Ele é novo, rendado e completamente transparente. Não faz o menor esforço para esconder meu corpo. Nunca o usei antes, só comprei porque era bonito e estava na promoção. Cinquenta por cento de desconto.
Ainda bem que a renda fina não marcava em meu vestido, ou eu a teria trocado por minha calcinha modeladora e nada sensual sem nem pensar duas vezes. Mariana teria um mini infarto se soubesse que cogitei a possibilidade de usá-la.
Estou entrando no saguão do hotel enquanto digito:
Eu: Coloquei. Mas meio que já estou arrependida. A calcinha não é nem um pouco confortável.
A resposta chega em menos de dez segundos:
Mari: Como diria nossa querida e amada pensadora contemporânea Beyoncé: Pretty Hurts.
Solto uma risadinha nasalada.
De fato, a beleza machuca.
Mando um daqueles emojis de risada e bloqueio a tela do telefone, guardando-o dentro da bolsa. Andar e digitar no celular ao mesmo tempo era uma péssima ideia e eu acabei aprendendo isso da pior forma possível. Melhor evitar mais um acidente enquanto ainda posso.
Levanto a cabeça e encaro o ambiente ao meu redor.
O enorme saguão do hotel, desta vez já devidamente mobiliado e iluminado, está bem diferente de quando visitei o imóvel há um tempo atrás, com Enzo. O lustre enorme e moderno que estende-se do topo do teto até alguns metros acima da minha cabeça é tão bonito que acabo perdendo alguns segundos observando-o.
Estou analisando a decoração contemporânea e minimalista do lugar quando sou interrompida por Felipe, que me pega completamente de surpresa ao materializar-se na minha frente.
Ele está vestindo um smoking preto com gravata borboleta e segurando uma taça de... Champanhe?
Não sei o que é mais estranho: o fato dele estar vestindo um terno ou o fato dele estar bebendo.
Enrugo a testa.
— Você está atrasada. — ele me repreende.
Assinto, analisando brevemente o papel de parede que reveste o ambiente.
— É, eu sei. Acabei me enrolando com a maquiagem.
A culpa foi da minha melhor amiga, que resolveu fazer algo bem mais elaborado do que eu pedi. Mariana passou quinhentos tipos de produtos diferentes no meu rosto, cujo a grande maioria deles eu não faço a mínima ideia do nome. Nem para quê servem.
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ACASO
RomanceEla sempre foi uma pessoa racional. Do tipo que não acredita em destino e acaso. Para ela, isso são coisas existentes apenas em romances água com açúcar e séries de TV americanas. Uma grande baboseira que te faz acreditar e esperar por um amor inal...