12.2 | Vamos lá, me julgue

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A L I C E

Aparentemente o destino gosta bastante de me colocar em situações constrangedoras.

Especialmente quando estamos falando do meu chefe. Que agora, neste exato momento, me encara completamente perdido.

Não sei dizer quanto tempo ficamos assim, estáticos. Os dois em silêncio, na penumbra, trocando olhares confusos que não diziam nada em específico.

Talvez alguns segundos.

Ou minutos.

O tempo parecia passar tão lentamente que eu não saberia dizer com exatidão.

Enzo é o primeiro a quebrar o contato visual e desviar o olhar. Ele deixa de fitar meus olhos e move os seus até encontrar meus dedos, ainda próximos demais. Era quase como se estivesse me pegando em flagrante pela segunda vez, finalmente dando-se conta do que eu estava tentando fazer com minhas mãos.

O vejo arquear as sobrancelhas e uma expressão confusa tomar forma em seu rosto ainda sonolento.

Nervosa, eu me afasto, dando um pulo para trás.

Espaço.

Era disso que precisávamos neste exato momento.

Bastante espaço.

Depois de chegar a essa conclusão, dou mais dois passos para trás e respiro fundo.

Enzo se ajeita em sua cadeira, coçando os olhos. Como se não acreditasse muito que eu estivesse, de fato, na sua frente, ele pisca várias vezes consecutivas, semicerrando suas orbes esverdeadas em minha direção. Então arruma o óculos sobre o nariz e solta um suspiro cansado.

Antes que ele tivesse tempo de me questionar ou dizer qualquer coisa, a palavra já tinha escapado por meus lábios:

— Obrigada.

Obrigada, Alice?

Pisco, incrédula.

Não tinha nada melhor e menos estranho para dizer?

Enzo, parecendo ainda mais confuso do que antes, me lança um olhar minucioso antes de sua voz rouca ecoar pelo ambiente:

— O que eu fiz? — pergunta, arrumando sua gravata e ajeitando o paletó. Me pego pensando em como o bocejo que ele solta logo depois é irritantemente fofo. — Está me agradecendo pelo quê?

Pressiono meus lábios, inquieta.

Sendo bem sincera, nem eu sabia. Não exatamente.

— Era o que eu queria ter dito aquele dia, no elevador. — concluo, por fim. — Queria agradecer. Você sabe, pelo guarda-chuva.

Sua feição se transforma de forma automática, a confusão sendo substituída por serenidade.

Ele curva os lábios sutilmente em um sorriso pequeno, concentrando-se em passar as mãos por seu cabelo, tentando arrumar os fios que estavam fora do lugar.

— E você veio aqui só para me agradecer?

Ajeito minha postura e nego com a cabeça, trocando meu peso de perna.

— Na verdade, não. — indico o envelope em cima da mesa. — Vim trazer este documento para o senhor. Betina, do Jurídico, teve um imprevisto. Ela me pediu que entregasse para a sua secretária, mas a mesa estava vazia e aparentemente todo mundo já foi embora. Então eu vi a luz que vinha daqui e...

Minhas palavras morrem e a frase fica pela metade.

Parecendo entender a minha justificativa, ele assente.

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