7.1 | Fobia

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A L I C E

Não era pessoal.

O problema, felizmente, não era comigo. Acredito que, na realidade, era um problema com as pessoas. No geral.

Concluo isso depois de assistir Enzo ignorar o aperto de mão que Fernando, o arquiteto responsável pela construção do novo hotel, o oferece.

O homem loiro de olhos azuis ficou claramente incomodado com a atitude de Enzo, que encarou a mão enorme e máscula de seu funcionário por longos e demorados segundos apenas para ignorá-la, exatamente do mesmo jeito que havia feito comigo no dia anterior.

Qual era o problema dele com apertos de mão, afinal?

Era algo que com certeza ia além da sua grosseria habitual. Olhando bem, eu podia perceber isso facilmente pela forma como os seus olhos pareciam assustados e sua expressão corporal transformava-se. Quase como se tivesse medo de segurar a mão de outra pessoa.

Talvez fosse algum tipo de fobia, não sei. A única certeza que eu tinha era que toda essa situação era muito, muito intrigante.

Cruzando os braços em frente ao peito e me equilibrando em meu scarpin preto que apesar de lindo apertava excessivamente meus dedinhos, eu me forço a espantar esses pensamentos e me concentrar no agora.

Apesar de já termos analisado todos os andares e conversado sobre inúmeros tópicos importantes da finalização da construção, ainda faltava uma coisa.

— A base já está praticamente pronta. Sendo bem sincero, só restam alguns ajustes finais. — Fernando diz enquanto anda pelo saguão, com Enzo e eu em seu encalço. — Tivemos um pequeno contratempo com o material, mas Célio conseguiu resolver tudo.

Observo o lugar ao meu redor com atenção.

Como eu já esperava, a estrutura do hotel era tão refinada e sofisticada quanto a dos outros. Mas, diferente do restante, esta adotava mais modernidade. As paredes em tom neutro, o piso de porcelanato e os lustres contemporâneos casavam muito bem. Mas a cereja do bolo com certeza era o fato de tudo ser sustentável. Incrivelmente, a energia solar comandava tudo por aqui.

— Na realidade, chamei o senhor para que pudéssemos conversar sobre isso. — Fernando para de andar, virando-se de frente para Enzo e dividindo o olhar entre nós dois. — Como disse, Célio resolveu o problema. Ele me apresentou duas possíveis soluções.

— E você quer minha opinião? — Enzo o interrompe, recebendo como resposta um aceno positivo em confirmação.

— É sobre os chuveiros. Como o hotel traz o conceito de sustentabilidade, as opções são um pouco limitadas. A energia solar é realmente uma ótima opção de energia térmica, mas precisamos fazer a escolha das placas. — diz, retirando de dentro da sua maleta uma pasta e estendendo-a para Enzo, que a pega sem pestanejar. — A primeira é uma boa opção. A segunda, entretanto, é o que temos de mais novo no mercado. É um pouco mais cara que a primeira, mas...

— Ficaremos com a segunda opção.

Observo o rosto inexpressivo do meu chefe afirmar sem ao menos olhar os papéis de dentro da pasta.

— O senhor...

— Eu prezo muito pela qualidade, Fernando. Você já deve saber disso. Afinal, trabalha comigo há anos. — sorri, devolvendo a ele sua pasta. — Também confio no seu trabalho. Se você me diz que a segunda alternativa é o que temos de mais novo no mercado e a melhor opção para os nossos clientes, eu fico com ela. Dinheiro não é o problema.

Uau.

Abro a boca, surpresa.

Assisto Enzo piscar despreocupadamente para Fernando e se distanciar, andando pelo lugar enquanto o analisa minuciosamente.

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