Na manhã seguinte, Heitor decidiu fazer um desenho na parede do seu novo quarto. As paredes eram de um azul-céu bem bonito, então o jovem estava desenhando um grande par de asas abertas de anjo para combinar com o ar celestial.
O desenho ficaria no canto direito da parede, assim ele poderia admirar a sua obra na sua cama, que estava posicionada no lado esquerdo do cômodo. Heitor sempre gostou de desenhar e, vendo o talento do filho, Benício e Rebeca pagaram um curso em Monte Safira para o rapaz se aprimorar nisso. Mesmo estando em Verano, ele levaria os ensinamentos do curso para toda a vida.
Heitor tinha finalizado o desenho e estava começando a pintar até que sua mãe deu leves batidas na porta aberta. Rebeca era uma bela mulher de altura mediana com olhos verdes. Heitor herdou dos pais a pele negra e os cabelos ondulados, o sorriso da mãe e a altura do pai.
Ele olhou para Rebeca e perguntou apontando para o desenho.
— Ficou bom?
— Você sabe que sim. -ela lhe deu um leve sorriso e disse. – Seu pai saiu, foi dar uma olhada em espaços comerciais para a quitanda.
No passado, a família de Benício trabalhava com agricultura, então ele quis seguir esse negócio, querendo abrir uma pequena quitanda no bairro. Nada muito estrondoso, só para os moradores que não tem condições de irem ao centro de Verano para a feira principal.
Heitor notou um ar de animação vindo da mãe e questionou curioso.
— Quer me contar mais alguma coisa?
— Na verdade, sim... Amanhã eu vou fazer uma entrevista no posto da cidade.
Há alguns anos, Rebeca conseguiu uma bolsa de estudos e concluiu gratuitamente o curso de Enfermagem. Como ela, Benício e Heitor passaram alguns apertos por conta do marido ser ex-presidiário, a mulher decidiu trabalhar na área da saúde para ficarem em uma situação estável.
— Sério? Que daora! -ele abraçou cuidadosamente Rebeca para não sujá-la de tinta. – Tenho certeza de que você vai mandar bem.
— Obrigada, meu filho. Eu soube na sexta-feira e contei para o seu pai quando você estava no festival.
— Esses adultos escondendo coisas dos filhos... -ele negou com a cabeça e ela lhe deu um leve tapa no braço.
— Pena que eu não vou poder te acompanhar até o novo colégio, a entrevista vai ser de manhã.
— Mãe, relaxa porque eu não tenho mais cinco anos.
— Eu sei, mas você sempre vai ser o meu bebê. -Heitor revirou os olhos com o comentário da mãe e ela pediu. — Por favor, se comporta na nova escola.
— Eu acabei de falar que eu não tenho mais cinco anos.
— É sério, Heitor. Verano é uma cidade nova para você, então não vá arrumar problemas.
— Pode deixar, dona Rebeca.
Ela estava prestes a sair do quarto até Heitor a chamou.
— Você acha que... O Bellini ainda está em Verano?
Rebeca ficou surpresa com a pergunta do filho e respondeu um pouco atordoada.
— Bom... E-Eu não sei, não temos notícia dele há anos. Por que a pergunta?
— Por nada. -ele suspirou e prosseguiu. — É que eu lembrei que há dezoito anos o papai foi denunciado por ele.
— Heitor, você não vai se meter nessa história. -ela disse rígida. — Mesmo que ele e a família estejam aqui, você não vai fazer nada.
— Mas mãe, a gente passou necessidade por conta dele!
— Não passamos mais, Heitor! Essa é uma história entre ele e o seu pai, deixe que eles se resolvam.
— Você acha certo o que ele fez? Eles eram melhores amigos!
— Seu pai era um viciado em jogos de azar, o João Alberto fez o que achava que era o certo. Filho, eu sei que passamos necessidades quando o seu pai saiu da cadeia, mas... Esqueça isso, o importante é que seu pai mudou e nós conseguimos superar as dificuldades.
O jovem pensou no comentário da mãe e, mesmo um pouco hesitante, acabou assentindo. Rebeca notou o clima tenso que se instaurou, deu um beijo na bochecha do filho e saiu do quarto, deixando-o sozinho apenas com seus pensamentos.
***
Luna estava em seu quarto fazendo uma videochamada com a melhor amiga, Carolina Rodrigues. Sobre a noite passada, pouco depois de ter entrado no quarto, seus pais viram se ela estava ali e não lhe deram nenhuma bronca pelas filhas terem passado do horário, já que o que importava para eles era que as duas chegaram em segurança.
Ela escolheu esquecer o que ouviu dos pais na sala de estar, já que era um problema entre o pai e o tal melhor amigo que ele colocou na cadeia. A melhor forma de esquecer um problema desses era conversar por horas com a melhor amiga.
Elas se conheciam desde a segunda série e sempre foram unidas. Em questão da aparência, Luna tinha uma pele bem clara, olhos cor-de-mel e cabelos escuros, lisos e longos, já Carol possuía uma pele um pouco mais escura, olhos esverdeados e cabelos mais claros, curtos e lindamente cacheados.
A família de Carol estava passando o final de semana na chácara da avó paterna da mesma, por isso ela não pôde ir ao festival com Luna.
— Mas foi isso o que aconteceu, Carol. Eu fiquei segurando vela para a minha irmã mais velha, tem programa melhor do que esse? -Luna perguntou sarcasticamente e a amiga deu uma leve risada.
— Sinto muito por você, Luna. Mesmo eu adorando visitar a minha avó, eu queria ir ao festival com você.
— Relaxa amiga, amanhã você vai estar de volta e a gente vai botar o papo em dia.
As amigas trocaram um sorriso e Carol percebeu que Luna escondia algo a mais por ela estar pensativa.
— E foi só isso que aconteceu?
— Pior que não, eu vi que tinha um garoto novo no festival.
— Sério? E ele é bonito? -ela questionou animada.
— É, mais ou menos... -a jovem mentiu. — Mas a Lila achou que eu tava a fim dele e literalmente me empurrou pra cima dele.
— E aí, o que aconteceu?
Luna deu um longo suspiro e disse.
— Eu derrubei refrigerante nele, mas foi sem querer!
Carol ficou surpresa com a revelação da amiga e começou a gargalhar, deixando Luna um tanto quanto constrangida. Assim que lhe faltou o ar, ela comentou depois de se recuperar da crise de riso.
— Ai amiga, nessas horas eu queria ser uma mosquinha. O que rolou depois?
— O cara foi um grosso! Eu quis ajudar, mas ele nem quis a minha ajuda.
— Vai ver ele queria ir embora para não passar mais vergonha.
— É, pensando por esse lado... Mas enfim, o importante é que eu não vou ver ele tão cedo.
— Tem certeza? Ele é da nossa idade?
— Bom, eu acho que sim. Vai ver ele mora em outra cidade e veio visitar o festival. Mesmo que ele seja novo em Verano, qual a chance de, sei lá, a gente estudar na mesma escola e na mesma turma?
As amigas riram com a teoria de Luna e continuaram conversando sobre coisas aleatórias. O domingo passou de forma tranquila, de certo modo fazendo um contraste do que estava por vir no dia seguinte.
***
Oi gente bonita, tudo bem com vocês? Primeiramente, eu gostaria de agradecer cada visualização, voto e comentário no primeiro capítulo, vocês são demais!
Voltando à esse capítulo aqui, gostaram dele? O que acham que vai acontecer quando Heitor e Luna se reencontrarem? Deem suas opiniões e obrigada por lerem esse capítulo 💜
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(Não) se apaixone
Teen FictionEm um festival, Luna Bellini e Heitor Mendes se conhecem de uma forma não muito amigável. No entanto, ao descobrirem que vão estudar na mesma turma e terão que fazer um trabalho juntos, eles sentem suas vidas mudarem de cabeça para baixo. Tudo por c...