(Não) se apaixone

Capítulo 4

Duas semanas se passaram, Heitor e Luna não puxaram nenhum assunto no colégio desde então. Não era por falta de educação, e sim que ambos sentiam uma tensão no ar, mas não sabiam o motivo.

Sobre o assunto Bellini, Heitor não pesquisou a ligação de Luna com a família para não trazer à tona lembranças desagradáveis. Fora isso, ele estava se adaptando bem à nova cidade e ao novo colégio. Seu pai tinha encontrado um espaço comercial para montar a quitanda e sua mãe estava ocupada por conta do novo emprego no posto da cidade, então o jovem passava a maior parte do tempo sozinho em casa, desenhando ou conversando com Caio via celular ou computador.

Em quanto à Luna, em alguns momentos do dia ela se pegava pensando no novo colega. Ela não estava interessada amorosamente nele, mas ainda estava com o sentimento de que algo ligava os dois. Infelizmente a jovem não sabia o que era.

***

Em um final de semana, Luna estava em casa e foi à procura da mãe para ver se a mesma precisava de ajuda em algo. Dalila não estava em casa, então ela estava um tanto quanto entediada.

Ela encontrou Vivian na sala de estar no meio de vários papéis e poucas caixas de papelão.

— Precisa de ajuda, mãe?

— Oi, meu amor. Preciso sim, seu pai foi ao mercado e a gente precisa dar uma limpa nessas coisas.

A jovem assentiu e se sentou no chão ao lado da mãe. A mulher instruiu a filha a rasgar os documentos antigos, de cinco anos para trás, os mais recentes podiam ser preservados. Vivian era psicóloga infantil, então Luna não se admirou muito ao ver tantos papéis, especialmente desenhos.

Longos minutos depois, a jovem abriu uma pequena caixa com várias fotografias e Vivian contou a história de algumas delas, deixando Luna encantada. Enquanto separava algumas fotografias, uma em especial chamou a atenção dela. Era uma foto de seu pai jovem junto com um outro rapaz. Ambos estavam sorrindo e fazendo um sinal para a câmera. O que deixou Luna surpresa era que o rapaz era muito parecido com Heitor, tinha o mesmo tipo de cabelo e tom de pele.

— Quem é esse, mãe? -ela perguntou curiosa.

Vivian olhou a foto e estreitou o olhar. Jurava que João Alberto tinha jogado fora aquela fotografia, mas estava enganada.

— Era um amigo do seu pai. -respondeu rapidamente.

— Qual é o nome dele?

— Benício. Benício Mendes.

— O que aconteceu com ele? Não é mais amigo do papai?

A mulher deu um longo suspiro e disse não querendo se estender muito no assunto.

— Eles tiveram um problema no passado, Luna. Nada demais.

— Por que está fugindo do assunto, mãe?

Elas se encararam por um tempo até Vivian falou como se estivesse sido rendida.

— Tudo bem, eu vou te contar o que aconteceu, mas por favor não comente nada com o seu pai ou com a Dalila.

Luna assentiu e Vivian contou o que houve entre João Alberto e Benício. Eles eram amigos desde a infância e muito unidos, mas Benício começou a envolver com jogos de azar, se tornando um viciado. Ele gastava nos jogos o dinheiro que usava para pagar o aluguel ou até mesmo para se alimentar, o que acabou decepcionando João Alberto. Os dois chegaram a brigar algumas vezes, mas o pai de Luna queria ajudar o amigo, então sempre fazia as pazes com ele. Um dia, Benício pediu dinheiro emprestado à João Alberto para pagar algumas contas e o mesmo emprestou, mesmo um pouco hesitante. No entanto, Benício garantiu que não iria apostar e ele acabou acreditando no amigo. Na mesma noite, João Alberto estava na rua e viu que tinha uma casa ilegal de jogos e entrou no local porque estava com uma sensação estranha. Entrando lá, ele viu Benício apostando o dinheiro que tinha lhe emprestado. Ao se encontrarem, os dois discutiram fervorosamente e João Alberto saiu do local totalmente possesso por conta da mentira do ex-amigo. Ainda muito irritado, ele ligou para a polícia, denunciando a casa ilegal de jogos. Após isso, voltou para a casa pensando no que tinha feito. No dia seguinte, ele viu no noticiário que Benício e mais algumas pessoas presas por envolvimento com jogos de azar. João Alberto tinha colocado o melhor amigo na cadeia.