Sintonia (Vondy)

Capítulo 1

Dulce Maria

Passei a noite em claro perguntando a mim mesma como nunca enxerguei nada e porque me conformei esse tempo todo com um relacionamento tão vazio. Minha família, meus amigos, ninguém próximo de mim nunca apoiou meu relacionamento com Paco mas nunca conseguiram me explicar o porquê, nunca deram um motivo plausível então eu nunca levei essas implicâncias a sério, achei que com o tempo passaria. Any já tinha me dito diversas vezes que não se sentia bem perto dele e que achava que ele emanava uma energia negativa, inclusive me pedia pra tomar cuidado pra que não deixasse ele drenar a minha energia mas novamente achei que era besteira.

Como pude ser tão cega e deixar de ouvir as pessoas que me conheciam a vida inteira e tanto me amavam? Eu claramente nunca desconfiei de nada simplesmente porque não o amava e agora eu sei disso. Paco sempre viajou demais a trabalho mas nunca tinha reparado que o resultado do seu trabalho era muito pouco pra quantidade de viagens. Eu não me importava de ficar sozinha, não ficava ligando nem exigindo que me desse atenção, principalmente porque eu sempre gostei de escrever poemas e eram na ausência dele que minha criatividade fluía. Sei que meu sonho é ser mãe e construir uma família mas não posso mais me colocar em segundo plano e aceitar qualquer um só porque pode me engravidar!

Quando me dei conta já eram 7 horas da manhã e Anahí estava me chamando para tomarmos café da manhã.

- Bom dia princesa! Como você tá? Conseguiu descansar um pouco?

- Bom dia Barbie! Não consegui pregar o olho pensando no tempo que eu desperdicei com aquele desgraçado!

- Ô amiga, eu sinto muito de verdade, mas você tem que parar de procurar um motivo e de se culpar, o babaca da história foi ele o tempo todo!

- Você tem razão Any, mas eu não consigo parar de pensar como eu pude me contentar com tão pouco, eu nem amava ele de verdade! Eu prometo pra você e pra mim mesma que eu só vou ter um relacionamento de novo quando eu achar que aquele cara é o amor da minha vida!

- Amiga também não exagera né, uma ficada sem compromisso de vez em quando não faz mal a ninguém - disse Any rindo.

Revirei os olhos pra ela e olhei no relógio vendo que precisávamos nossa arrumar se não iríamos nos atrasar pro trabalho.

- Vamo Barbie, não demora muito pra ser arrumar se não a gente perde a hora!

Depois de 40 minutos estávamos as duas prontas dentro do carro de Anahí indo em direção ao prédio comercial onde fica a redação da Luna Magazine. Assim que estacionamos entramos na fila para passar o crachá na catraca, estava distraída com meu celular lotado de chamadas perdidas de Paco quando fui dar um passo a frente sem tirar o olho do celular e acabei pisando em falso e caindo pra trás mas senti dois braços fortes me segurarem. Quando virei para agradecer pela ajuda percebi que era Christopher Uckermann, o pseudo escritor que ganha dinheiro escrevendo sobre baladas e sua vida sexual extremamente ativa e não eu não gosto dele muito menos do seu tipinho que vive fazendo rodízio de mulheres mas eu não sei explicar o que aconteceu naquele momento quando nossos olhos se encontraram, deve ter sido por 2 segundos mas eu me perdi completamente em seus olhos e parecia que só existíamos nós dois ali, nunca o tinha visto pessoalmente mas naquele olhar parecia que estávamos nos reconhecendo, como se já nos conhecêssemos. Saí do transe quando o idiota abriu a boca pra falar uma das cantadas baratas do seu vasto repertório.

- Deve ter doído quando você caiu do céu, mas pode deixar que eu não vou deixar você se machucar mais - disse Christopher dando um sorriso de lado e piscando pra mim.

- Eu agradeço a ajuda mas dispenso as próximas, passar bem.

Graças a deus já estava na minha vez de passar a catraca e também de Anahí que estava bem do meu lado e segurando a risada por conta da situação que tinha acabado de presenciar.

- Nem pensa em abrir a boca pra falar daquele otário Barbie!

- Poxa amiga, mas você foi muito grossa com ele! Ele é bem bonitão e dentro da nossa faixa etária você podia dar uma chance. - Disse Anahí entre risos.

- Você deve ter batido a cabeça amiga, sabe o quanto eu detesto aquele pseudo escritor e eu já te disse que só vou me relacionar novamente quando eu achar que o cara é o amor da minha vida e ele com toda certeza não é!

- Ele pode até não ser mas você pode me dizer o que foi aquela troca de olhares entre vocês? Porque não tem nem como você negar isso, tudo mundo ali reparou que vocês pareciam estar hipnotizados um pelo outro!

- Claro que não Any, isso deve ser fruto da sua imaginação porque nada disso aconteceu. - Disse tentando convencer a mim mesma disso.

- Ah tá bom! Vou fingir que eu inventei então.

Passamos na cafeteria do prédio e pegamos nossos cafés, depois fomos em direção ao elevador que pra variar estava lotado e a nossa redação ficava no penúltimo andar. Conforme os andares foram passando e o elevador se esvaziando vi que Uckermann também estava ali e quando Anahí também percebeu não conseguiu nem disfarçar e literalmente riu da minha cara. Eu tentava desviar o olhar mas era meio impossível ficar sem olhar pra ele por um minuto que fosse, nossos olhos pareciam ímãs que se atraíam sem parar, eu já estava irritada e minha cara não era das melhores mas não conseguia evitar. Ele tentou fazer descaso mas percebi que também não conseguia desviar, não entendi o que estava acontecendo comigo e aparentemente com ele também, nunca senti isso com ninguém, tinha que ser logo com esse idiota?

O elevador foi ficando cada vez mais vazio até sobrar só nós três, quando parou no último andar antes do nosso ele desceu e eu soltei todo o ar que nem percebi que estava segurando, Anahí deu gargalhadas da minha cara. Naquele andar ficava a redação do site Night Out e nesse momento eu tava implorando pra que a presença dele ali não fosse se tornar diária porque eu não sei como eu iria ligar com isso, eu nem entendi ainda o que aconteceu. Quando chegamos no nosso andar eu e Any descemos e antes de ir pra sua sala ela se virou pra mim.

- Fruto da minha imaginação né? Tá bom! - E virou as costas dando risada me deixando em frente a minha mesa mas completamente perdida em pensamentos.