Capítulo 4

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Christopher

Estava naquele bar a trabalho, pensando já na minha primeira pauta para o site quando senti a presença dela puxando o meu olhar e eu nem sei como isso aconteceu, só aconteceu! Depois que soube que ela estava solteira não perdi a chance de flertar com ela, mesmo imaginando que não funcionaria, afinal o não eu já tinha. Como imaginei, ela deixou bem claro que quer distância de mim, mas o que mais me incomodou foi que por um momento entramos novamente naquele transe esquisito que só acontecia entre nós dois, como é que eu vou fazer pra evitar que isso aconteça se está fora do meu controle e pelo visto do dela também?

Fiquei tão atordoado com o fato disso tudo não sair da minha cabeça que assim que ela foi embora peguei meu celular e mandei mensagem para Muriel, uma das mulheres com quem eu costumava transar e que independente da hora em que eu chamasse toparia o que eu quisesse. Combinei de passar em seu apartamento assim que saísse do bar e foi o que fiz, Muriel transava bem e me deixava satisfeito, era o que eu precisava naquele momento para esvaziar a cabeça.

No dia seguinte acordei por volta das 9 da manhã, já estava um pouco atrasado já que tinha combinado o começo do meu expediente para às 10 horas, por conta do meu trabalho envolver a vida noturna meu próprio chefe sugeriu que eu entrasse mais tarde. Não tinha ressaca pelo fato de não ter bebido muito na noite anterior só estava um pouco cansado pela longa noite de sexo e por ter chegado em casa muito tarde já que não costumo dormir com quem eu transo. Levantei e fui direto pro chuveiro, era melhor comprar um café no prédio do trabalho.

Consegui chegar faltando 5 minutos para o meu horário, passei correndo na cafeteria e fui pro elevador. Como eu imaginava, nem sinal da ruiva já que entrávamos em horários diferentes e agradeci mentalmente ao universo por isso! Quando entrei na redação minha mesa estava enfeitada com um letreiro de boas vindas e um pack de cervejas, agradeci a todos e coloquei a cerveja na geladeira de bebidas provavelmente tomaria umas no fim do expediente. Organizei a mesa para começar a trabalhar e vi Christian me encarando como se quisesse perguntar algo.

- Tá tudo bem Christian, pode falar. - disse a ele lhe oferecendo um sorriso simpático.

- O que? Falar o que? - disse ele tentando disfarçar sem sucesso.

- Eu não sei o que é mas tenho certeza de que quer me perguntar alguma coisa! Pode perguntar, eu sou uma pessoa tranquila, não precisa ter receio!

- Bom, não sei se você viu mas eu estava no bar ontem a noite e a Anahí já tinha me contado sobre ontem mas cheguei a achar que ela estava exagerando até ver pessoalmente você e a Dulce completamente hipnotizados um pelo outro! Só queria saber se está afim dela, só por curiosidade mesmo! - disse ele com um sorriso no final.

- Olha eu não sou um homem que costuma gostar ou ficar afim de alguém sabe, e a ruivinha é linda mas já disse com todas as letras que quer distância de mim, não vou perder meu tempo insistindo nisso! E sobre o lance de parecer hipnotizado eu já até tinha dito pra Anahí, eu realmente não sei o que é aquilo e sinceramente acho que nem quero saber. Eu vou é evitar encontrar a Dulce Maria o máximo que eu puder e é isso. - respondi com toda a sinceridade.

- Eu particularmente acho uma pena porque vocês formariam um dos casais mais incríveis que já vi, mas se você insiste em ficar longe e insiste em não querer gostar de ninguém... - disse erguendo os braços em sinal de rendição.

- Eu e Dulce Maria? Um casal? - ri tanto que até doeu minha barriga. - ai Christian você é ótimo com piadas!

Christian ficou me olhando como se eu estivesse falando besteira mas ignorei, comecei a escrever o que eu tinha pensado para o bar de ontem a noite e até pedi opinião dele em alguns pontos já que estava lá também. Escrevi mais um pouco e também conversamos mais, dessa vez sobre assuntos que não envolvessem a ruiva, Christian me contou que quando os pais descobriram sobre sua sexualidade o expulsaram de casa e ele veio pra capital sozinho e sem apoio nenhum, graças à todo seu esforço tinha se formado em relações públicas, o que lhe rendeu o emprego no site, demonstrei a ele minha solidariedade com sua história e percebi que seríamos muito amigos, o que me agradou muito porque é sempre bom ter um amigo no trabalho.

No final do expediente resolvi abrir uma das cervejas que tinha ganhado e ofereci a Christian que prontamente aceitou. Desligamos nossos computadores e fomos nos sentar numa área da redação que tinha sofás e alguns puffs e começamos a jogar conversa fora.

- Por acaso você tá enrolando pra ir embora pra não encontrar a Dulce? - perguntou Christian.

Tentei pensar em outra resposta ou desconversar mas não consegui e apenas acenei positivamente me dando por vencido.

- Uau, ela mexeu com você mesmo né! - disse ele dando risada.

- Claro que não, tá doido? Nenhuma mulher mexe comigo, muito menos uma que não quer me ver nem cravejado de diamante!

- Sei que pode ser muito pessoal e se não quiser não precisa responder, mas porque essa resistência toda com mulheres e sentimentos? Você é um cara legal, eu não consigo acreditar que essa história de não se envolver com ninguém foi sempre assim e muito menos que começou do nada!

Respirei fundo e pensei se contaria essa história a ele ou não, só minha mãe sabia de tudo mas quem sabe contando isso pra outra pessoa eu me sentisse um pouco mais leve! Então respirei fundo mais uma vez e decidi contar.

- Olha eu vou te contar isso porque por algum motivo eu já confio muito em você e tenho a sensação de que seremos muito amigos, mas isso fica aqui entre a gente, ok? - depois que vi ele acenar com a cabeça e prestar atenção em mim comecei a contar. - Eu nem sempre fui esse cara cheio de mulheres, com pinta de galã e autoestima lá em cima, eu era o nerd das HQs e videogames e que tirava notas boas e tava tudo bem, eu vivia minha vida em paz, até eu entrar na faculdade de direito, por insistência do meu pai, e conhecer Natália. Ela era minha veterana e era uma das mais populares do nosso curso, eu nunca tinha nem olhado pra ela porque sabia que ela era o tipo de garota que nunca olharia pra mim. Mas um dia, no início do segundo semestre ela simplesmente sentou comigo no refeitório e começou a conversar comigo demonstrando muito interesse e eu já fiquei caídinho, claro, uma garota linda e popular prestando atenção em mim? Que até então tinha atraído pouquíssimos olhares femininos? Impossível não ter mexido comigo, enfim, os dias foram passando e ela passava cada vez mais tempo comigo até que chegou o dia em que ela me beijou e eu só ficava cada dia mais na mão dela, passou uns 2 meses e eu pedi ela em namoro e ela aceitou e perguntou se poderíamos comemorar naquela noite na casa dela, eu fiquei super empolgado porque nunca tínhamos nos encontrado fora da faculdade e aceitei é claro!

- Peraí vocês já estavam juntos há meses e só se encontravam na faculdade? - perguntou Christian parecendo de confuso.

- Estranho eu sei, mas eu tava louco por ela e nunca tinha tido uma namorada, já tinha dado uns beijinhos em algumas meninas durante a época de escola mas nunca tinha passado disso. Enfim, fui na casa dela a noite e descobri na hora que ela morava sozinha, o que me deixou ainda mais nervoso, mas ela estava muito carinhosa e me fez esquecer isso. Jantamos e depois ela quis me levar pro quarto, e sim eu era virgem, contei isso pra ela e ela disse que não tinha o menor problema que me ajudaria no que eu precisasse e assim aconteceu a minha primeira vez. No dia seguinte quando cheguei na faculdade todo mundo estava rindo por onde eu passava mas eu não sabia o porquê, quando cheguei perto da minha sala tinha um banner enorme do lado da porta me parabenizando por perder a virgindade e do balcão do andar de cima vi Natália gargalhando e o pessoal de sua sala aplaudindo, descobri que ela tinha apostado com seus amigos que tiraria minha virgindade! Depois disso eu tranquei a faculdade, mudei minhas roupas, meu cabelo, deixei a barba crescer e o principal, mudei completamente meu comportamento com as mulheres. - respirei fundo, essa história ainda era muito dolorida mesmo tendo se passado quase 5 anos.

- Sinto muito cara, sei que deve ter sido uma barra e ela foi uma grande vadia, mas você precisa trabalhar isso na sua cabeça pra conseguir superar e se libertar! Eu sei que não é fácil, te contei minha história que também sei que é totalmente diferente, mas você precisa entender que a culpa não foi sua e que as outras mulheres do mundo não são iguais a Natália! Já disse, você é um cara legal e merece ser feliz e não acho que você esteja totalmente feliz nessa vida de uma mulher diferente toda noite.

Finalizei a segunda garrafa de cerveja e suspirei, sei que Christian está certo mas não acho que eu esteja pronto pra me arriscar outra vez.

Sintonia (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora