Capítulo 3

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Na quinta feira era como se nada tivesse acontecido; lógico que ainda haviam marcas das últimas brigas, mas não doíam tanto quanto na terça feira de manhã. Entrou na livraria como todos os dias e foi para o balcão; Talles estava com ela, falando alguma coisa sobre academia e como eles dois deveriam voltar a ser um casal. Ela ignorou fielmente todas as tentativas de entrar no assunto. Se fosse para ser bem sincera consigo mesma, a morena não estava com a menor inclinação romântica com ninguém.

Mas havia sonhado com Rafaella.

A dona dos olhos mais verdes do mundo; do cheiro quase amadeirado dela... Na verdade, Gizelly não conseguia definir exatamente aquele cheiro, pareceu madeira, pareceu mel, pareceu limão e um sabonete de flores, como era possível? Era fascinante. Mas ela precisava definir um cheiro para Rafaella, então precisava ver a mulher de novo.

Que sensação gostosa que era, apesar de agoniante, Gizelly pensou. Queria sentir nas mãos os cabelos que eram como mel escorrido e ouvir por horas a voz aveludada. A voz dela era doce, suave... Como música. Colocando todos os fatos na mesa, Rafaella fazia o coração de Gizelly parecer uma orquestra sinfônica.

Ela queria sentir aquilo de novo, mas não sabia onde encontrar, o sobrenome e muito menos aonde começar a procurar. Como encontraria alguém que não fazia ideia de onde tinha vindo? E se ela não morasse em Monterrey? Ela poderia ser uma turista... Mas ela tinha um jeito de falar tão parecido com a maioria das pessoas de lá. Certo, então turista ela não era.

Não poderia ser. Gizelly só queria encontrar a mulher de novo. Seria ótimo se Rafaella resolvesse aparecer de repente, apenas para explorar a livraria de novo, ela pensou enquanto guardava o livro.

 E como obra do destino e das melhores comédias românticas, um papel dobrado caiu do livro na hora que Gizelly o colocava de volta na prateleira. Estranho, ela não lembrava de ter colocado nada naquela obra. Ou em nenhuma obra. Na verdade ela nunca guardava nada em livros e sempre conferia todos os que guardava. Pegou o papel e analisou; estava muito bem dobrado, até com cuidado. Mas foi o cheiro que a atingiu chamou sua atenção, ela conhecia aquele cheiro...

"Morena,

Tive que fugir, se quiser me encontrar...

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Um beijo, Rafa"

E lá estava a sensação que ela queria; o coração batendo forte, o ar faltando no peito e o sorriso incontrolável explodindo contra suas bochechas. Como era bom o frio no estômago, mas péssimo ao mesmo tempo; o que será que estava acontecendo com ela? E agora ela tinha o número do telefone de Rafaella, seria fácil encontrar a garota. Será que era muito cedo para ligar?

Como uma adolescente boba, Gizelly ligou para Rafaella para descobrir que o celular estava desligado. Diabos. Como encontraria a mulher agora? E por que estava se sentindo tão deliciosamente desesperada para encontrar? Provavelmente era desejo. Fazia tanto tempo que ela não sentia interesse por alguém que havia esquecido como a sensação era deliciosa.

Deu-se todas as razões para ficar ocupada e não pensar em Rafaella, mas simplesmente não conseguia tirar aquele sorriso da cabeça, cada pessoa que entrava na livraria ela desejava que fosse Rafaella, mas ninguém era. E a mulher ficava sempre em sua cabeça, nunca em sua frente.

- Você está aérea hoje, corazón.

A voz de Talles tirou a morena do transe em que estava; e infelizmente ele não era Rafaella também, e estava muito longe de ser, e muito longe de causar qualquer sensação em seu estômago ou coração. Gizelly sentiu-se subitamente desanimada.

- Acho que estou mesmo.

- Quer falar sobre?

- Não tem muito o que falar, acho que estou apenas cansada.

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