Capítulo 39

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Rafaella suspirou enquanto a tensão atravessava seu corpo.
Gizelly não tirava os olhos dela, aquelas pérolas intensas e castanhas, tão escurecidas que estavam quase pretas, as manchas sob os olhos, o rosto ainda inchado de tanto choro e o lábio ferido, além de todos os outros machucados notáveis. Rafaella odiava cada pedaço de Gizelly que estava machucado. Não conseguiu ter forças para falar de primeira, e viu a morena se render ao nervosismo, esfregou as mãos sobre os cabelos.

A visão dos dedos sangrando de Gizelly foi o suficiente para tirar Rafaella completamente do eixo; o que quer que fosse que ela deveria fazer, pareceu morrer no fundo de sua mente e de seu coração acelerado com o desespero.

- O que aconteceu com suas mãos?

E então Rafaella estava perto demais, segurando as mãos de Gizelly, o que só fez a morena se afastar, quase como se tivesse levado um tapa. Não queria que Rafaella visse sua mão ferida, então escondeu-as atrás das costas.

- Me dê suas mãos.

Gizelly ia começar a resmungar, afastando-se.

- Gizelly. - O tom severo fez Gizelly suspirar. - Suas mãos.

A morena hesitou muito antes de tirar as mãos de trás das costas e entregar para Rafaella, sentia-se como uma criança prestes a ficar de castigo, o sangue escorria das feridas abertas em seus nós dos dedos.

A primeira coisa que Gizelly notou, quando Rafaella esfregou as mãos nos longos cabelos era que a mulher não usava a aliança. Depois, foi a expressão de quem havia chorado por milênios, apesar de terem passado algumas horas.

Tudo estava tão errado.

Rafaella segurou as mãos da morena com todo o cuidado possível, analisou cada ferida aberta, e eram muito mais do que ela desejou que fosse. Sua respiração saía pesada e fraca enquanto acariciava as mãos de Gizelly sem nem perceber. Era inevitável, afinal, o amor entre elas continuava gritante. Mas haviam tantos problemas naquele momento...

- O que você veio fazer aqui?

Rafaella estava séria demais.

- Isso não interessa agora.

- Interessa sim.

- Eu vou cuidar de você primeiro.

Gizelly quis tirar suas mãos das de Rafaella, mas não teve forças; aqueles olhos verdes estavam nos seus, hipnotizando, prendendo, aquela sensação de estar em casa e tudo o que Gizelly mais queria. Mas que, pelo visto, não tinha mais. A mais alta encarou-a com firmeza, nunca vacilando.

Sentaram no sofá e Gizelly esperou paciente para saber o que Rafaella iria fazer; queria saber os planos da mulher, mas também queria ser cuidada e tocada por ela. Era tudo o que precisava. Viu Rafaella andar até a cozinha, conhecendo o apartamento que era delas como a palma de sua mão, e então voltou com a caixinha de curativos.

Os segundos foram infinitos enquanto a mais alta sentava ao lado de Gizelly, seus joelhos se tocando, provocando um frisson quase incontrolável. Gizelly entregou suas mãos à mulher de novo, esperando, ansiando.

- O que você fez, Gizelly?

- O que quer dizer?

Rafaella deixou escapar um suspiro.

- O que fez com sua mão?

- Soquei a porta.

- Por que?

- Para não socar a cara da Ivy.

Foi a menção de um sorrisinho nos lábios de Rafaella que fez o coração de Gizelly acelerar como se ela estivesse prestes a infartar. Talvez fosse uma questão de tempo.

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