Capítulo 80

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Na sexta feira pela manhã Gizelly ajeitou o casaco de couro após descer de sua moto. Estacionada em frente ao prédio executivo mais horroroso da cidade, ela suspirou antes de olhar em direção ao céu, ou ao último andar. Não estava vestida para uma reunião de negócios, com seu jeans surrado, camisa quadriculada de botão e o casaco de couro, mas não estava ligando nem um pouco enquanto adentrava o prédio. Ele era tão frio quanto parecia ser. Subiu pelo elevador em silêncio.

Não precisou ser anunciada, então apenas entrou pelas portas de vidro fumê e encarou sua rival. A mulher estava bronzeada demais, com os cabelos longos e negros... E lentes de contato? Que diabos. Gizelly arqueou uma das sobrancelhas.

— Estava demorando para que você aparecesse. Veio me socar de novo?

— Não. Vim livrar a minha mulher de você.

Marcela tentou esconder a expressão de espanto.

— Como é?

Para responder de uma vez, Gizelly tirou o envelope de papel do bolso do casaco e jogou—o sobre a mesa de Marcela; o pacote escorregou até parar nos dedos finos da — agora — outra morena. Ela abriu com lentidão, para encontrar um punhado de notas empilhadas e dobradas.

— O que isso quer dizer?

Gizelly se aproximou o suficiente para apoiar as mãos sobre a mesa de vidro; era fino e seus dedos ficaram bem marcados ali. Encarou Marcela como os antigos caubóis encaravam seus inimigos diante de um duelo.

— Quer dizer que estou quitando a quebra de contrato.

A presunção pegou Marcela desprevenida, que deixou a mostra seu semblante preocupado. Quase desesperado.

— Você não pode...

— Claro que posso. — Ela interrompeu a mulher, pois não queria estender àquela conversa mais do que deveria. Inevitavelmente haviam coisas muito melhores para fazer do que encarar uma mulher que estava — tristemente — tentando ser uma cópia sua. — Para Rafaella romper com você, precisaria pagar o equivalente a quatro vezes o valor que você gastou com ela até aqui. Se você quiser, pode contar a vontade, tem bem mais do que o que você exige.

— Como você conseguiu esse dinheiro?

— Economias de longos anos de lutas clandestinas. E o dinheiro que você mesma me deu, lembra? — O sorrisinho no rosto de Gizelly indicava que ela sabia exatamente o que estava fazendo e do que estava falando. — Inclusive, ele ajudou bastante. Usei todo para ajudar a livrar a minha mulher de você.

— Você é muito presunçosa. Não sabe do que eu sou capaz. Não sabe tudo o que eu fiz para ter Rafaella em minhas mãos. E tudo o que eu ainda posso fazer.

— Ela nunca vai te amar.

— Ela vai ser minha. Já disse a ela que vou te matar se for preciso, mas ela vai ficar comigo.

— Ficar contigo e te amar são coisas distintas. E eu ponho a minha vida à prova de que ela não quer nenhuma das duas com você. Aposto o quanto você quiser.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Rafaella me ama. — A simplicidade com a qual a morena falava irritava Marcela profundamente. — Ela nunca te amou. Nunca vai amar.

Marcela levantou e se inclinou na direção de Gizelly, de forma ameaçadora.

— Você acha mesmo que isso acabou?

A morena sustentou seu olhar ao se inclinar de volta, mas sorrindo.

— Sei que não. Mas a primeira batalha eu ganhei. E pode apostar que eu vou ganhar todas as que realmente interessam.

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