Capítulo 69

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Gizelly queria que tudo não passasse de um pesadelo, mas acordou com a realidade de que ainda não estava escutando nada. Nem um pio. Nem mesmo encostando o celular com música no último volume. Nada. Apenas uma coceira, um incômodo e ocasionalmente um zumbido que ela conseguiu ligar apenas a quando Rafaella falava.

Talvez fosse emocional.

Saiu da cama irritada consigo mesma, mas toda a sua raiva passou em questão de segundos quando encontrou Rafaella em sua cozinha. Do jeito que ela tanto amava. Confortável, dançante, de pijama. Como se aquele fosse o seu lugar.

Gizelly queria aquela cena todos os dias.

O que faltava para poder ter? Ah, claro, confiança.

— Bom dia, baby. — Rafaella disse, mas Gizelly não ouviu nada, apenas sentiu as palavras.

— Bom dia Rafa. Obrigada por ter ficado.

— Vou ficar até você melhorar. — Ela disse de forma simples enquanto virava mais uma panqueca na pilha que estava no prato na bancada ao lado da pia. — Não há discussão.

Gizelly olhava para os lábios de Rafaella sem parar, querendo absorver tudo o que a mulher lhe dizia. E ela queria discutir com Rafaella, primeiro porque estava morrendo de medo de ficar com ela todos os dias de novo, e segundo por que era um absurdo a mulher ficar lá com ela apenas por que ela não estava com a saúde completa.

— Não precisa ficar aqui.

Rafaella a olhou enquanto alguns fios de cabelo caíam por seu rosto. E sorriu. Gizelly se apoiou na bancada.

— Mais alto.

— Não precisa ficar aqui.

— Alguém tem que cuidar de você.

— Eu sei cuidar de mim mesma.

Rafaella desligou a frigideira e terminou de arrumar a bancada da cozinha para que elas pudessem compartilhar do café da manhã. Gizelly sentou e viu a mulher sentar em sua frente.

— Sabe, sei que sabe. Não há duvidas de que você sabe o que está fazendo com sua vida, por isso estava cheio de garrafas quebradas pelo apartamento, não é mesmo?

Gizelly não conseguiu entender porque Rafaella falou rápido demais, e então a mulher repetiu, e agradeceu pelo fato de a morena não conseguir saber o tom desgostoso em sua voz.

— Isso é ridículo. Eu sou uma mulher adulta.

— Agindo como uma adolescente inconseqüente que fica bebendo por achar que isso vai suprir qualquer sofrimento.

Gizelly estreitou os olhos.

— Com que direito você fala assim comigo?

A voz dela estava ainda mais rouca que o normal. Rafaella suspirou, se ergueu da bancada e deu a volta até estar literalmente de frente para Gizelly, quase entre suas pernas.

— Com o direito de mulher que te ama. Com o direito de uma mulher que precisa de você viva.

Qué?

— Não entendeu?

Gizelly piscou algumas vezes e fez que sim com a cabeça.

— Não estou dizendo que você é imatura, ou que não sabe se virar, ou algo assim. Sei que sabe. Sei da sua independência, e me orgulho de você. Mas você parou de se cuidar baby.

— Não é verdade.

— É verdade. Você não dorme direito, não come direito, emagreceu ainda mais do que eu. Talles me conta sobre você, e você sabe disso. Meu amor... Você está sempre cheirando a vodca.

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